segunda-feira, 12 de março de 2018

[foto @qiurii]

"Confiança, orgulho, ternura, contentamento, um quebranto de cansaço e também um desejo reacendido só de pensar nela e não de pensar no que fizera com ela: tudo isso eu sentia, me dava um andar leve, quase dançado, e era inteiramente novo. Eu já sentira, noutras ocasiões, um pouco disto ou daquilo; não sentira porém, tudo e tão intensamente (...) Era como se, na vida, nós, de vez em quando, após uma experiência nova, descobríssemos que ainda crescíamos, que ainda não tínhamos deixado de ser crianças. E que havia, dentro de nós, possibilidades infinitas de plenitude. (...) Mas não era que deixássemos muitas vezes de ser crianças, não. Nem uma experiência nova. Não tinha sido afinal uma experiência nova. Tinha sido, pelo contrário, a mesma experiência de sempre, como nova. E nisso estava toda a diferença. (...) de cada vez que acontecia uma experiência destas, era como se um novo grau de consciência e de sensação nos relegasse a uma memória distante e imprestável tudo o que antes, igual experiência tivesse sido. Todavia, distante e imprestável, não por inútil, e sim por superada."

Jorge de Sena, in Sinais de Fogo

[Quando de repente tudo o que está para trás parece reduzir-se a nada, a um mero caminho até aqui, agora, onde percebemos a possibilidade da plenitude em cada poro. E o depois, onde voltamos ao nada que encontrámos, depois de tudo, no antes. Voltamos ao antes sem nada ser como dantes. De repente os vazios substituem o que entendíamos por bom, por razoável, por normal. Agora é tudo nada, o normal é nada, é pobre, é anormal.]

Havia alguém que me dizia que eu devia ser das únicas pessoas que conhecia que mal acabava de ler algo, era capaz de me pôr a falar, ou a escrever, do que tinha lido, entendido e sentido. E foi um hábito, ou uma espécie de ritual de encerramento da leitura, que ganhei há anos. Muitas vezes, depois de acabar de ler um livro, vou rever as partes que marquei, que me fizeram parar e mastigar devagar, porque me disseram mais que o resto, porque me falaram mais ao ouvido do coração, porque talvez fossem mais minhas. Por vezes vou registando esses trechos ao longo da leitura, outras espero acabar o livro (como desta vez, na maior parte dos excertos) para então me dedicar aos que quero deixar registado para a minha memória futura. Deixo-os aqui, como tantas das coisas que me tocam ou me passam pela cabeça ...

6 comentários:

  1. Frases "sublinhadas" que nos ficam gravadas;)

    Bom dia, Vi:)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. :)) sublinhava os livros de estudo todos, mas os de leitura, os de prazer, são sagrados, não sublinho nem rascunho, seria quase profaná-los :) faço uma pequenina dobra no canto da página até acabar de ler o livro, reler esses bocadinhos, passá-los para algum lado para a posteridade e voltar a desdobrá-los (ainda que fique a sempre a marca visível de me terem marcado...)
      Bom dia, Legionário:)

      Eliminar
    2. Completamente de acordo contigo Vi;)

      Eliminar
  2. ;))
    livros são coisas bonitas que cheiram a letras... é por isso que não sou adepta dos livros sem cheiro, daqueles que se lêem em tablets, ou seus emelhantes, e se guardam em discos rígidos ou pens... isso lá se compara a uma prateleira cheia de livros de vários tamanhos cores e espessuras?? que raio de biblioteca será essa? colecção de pens?? bahhhh.... sou uma moça muito quadrada ao que parece. Gosto de livros e sem ser rascunhados ;))

    ResponderEliminar
  3. Entendo-te. E é tão bom. Mas falando do Sena, se não leste, que seja já de seguida: O Físico Prodigioso. Não sei se é por gostar de físico se é por me considerar um prodígio, certo é que foi a obra do Sena que mais me tocou. ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. :)) Sim o título adequa-se a umas patifarias, Patifório :D e não, não li... vou juntar à minha lista dos "na calha para ler", lá vou meter-me em despesas!!... pior é que quando vou para comprar um, compro três, se for para comprar dois então (esse do Sena e o da Duras que o Paper Cut me recomendou) nem sei com o que sairei da livraria... é uma miséria... pior do que quando vou comprar roupa, e eu sou uma gaja que até gosto de trapinhos, diga-se.
      Parece que este ano só com sugestões aqui o blog, a minha lista está a aumentar... e é tão bom :))

      Eliminar