domingo, 11 de março de 2018

[foto @tarasovm]

"(...) aquele corpo que, como a minúcia me fez entender, não era tanto a Mercedes como o meu próprio corpo realizado noutrem. Não a metade ideal que se procura. Não a mulher pela qual, em nós, somos homens. (...) Mas eu mesmo como amor que se materializa, como realidade que se torna espaço e forma, como sexo que perde a sua solidão de instrumento, para adquirir a independência de uma solidão autónoma e imprevisível, em que o sexo não é uma parte que estrutura e que domina um corpo, um eixo em torno do qual roda a vida, mas um centro onde ela se detém, um todo em que ela se concentra como coisa viva, e não como coisa vivida.
(...) Ela levantou-se, e começou a vestir-se. Quando se penteava, eu pensei que, de facto, eu não podia amá-la. Ela era o meu amor. Nada me ficava com que ter-lhe afecto. Eu fechei tranquilamente os olhos, certo de que, assim, eu a teria sempre, tal como ela queria ser sempre minha."

Jorge de Sena, in Sinais de Fogo

Estas últimas linhas lembram-me uma frase, das que colecciono entre as mais bonitas,  que me disseram em resposta a eu dizer que tínhamos estado muito tempo longe, que tinha estado sem ele, que ele tinha estado sem mim... que não, que nunca tinha estado sem mim, que estava sempre com ele, nele, porque me pensava e me lembrava todos os dias, bastava-lhe parar um pouco ou fechar os olhos, que era impossível ele ficar sem mim, eu estava nele. Será isto amor? a impossibilidade de nos dissociarmos totalmente? porque estamos no outro e o outro em nós? Mesmo quando não estamos perto? Será o amor essa coisa que se forma com duas almas, aquelas duas almas em que um encara o outro como amor, quase sendo impossível de dizer se se gosta ou não, se se ama ou não, porque, se é já amor o que nele os dois juntos são, como dissociar qualquer das partes, para saber se ama ou não ama?

4 comentários:

  1. Quando já não são dois, mas um.

    Beijos, Olvido :)

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    1. Pois há quem diga isso, eu acho que os dois poderão ser amor, como parte duma realidade de que não se conseguem, ou podem, dissociar sem acabar com essa realidade, mas nunca gostei da ideia de dois serem um, parece-me que alguma coisa ou alguém tem de se anular; acho que são sempre dois, duas individualidades que em conjunto, a par, são o amor dos dois...
      Beijo, Maria Tu

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    2. Claro! Um no que se refere ao amor que ambos sentem. :)

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    3. ahh.. os dois, um só amor ;))

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