quarta-feira, 21 de março de 2018

[foto @waynefisherphotography]

"Não, não é. O amor não é cego, nós é que somos cegos para ele. A gente olha e não vê. E, quando vê, já passou a ocasião. Tanto faz que seja, porque tivemos alguém que julgávamos que queríamos, como porque não tivemos quem só depois percebemos que afinal a gente queria. E o pior ainda não é isso. O pior é a gente, mais tarde, saber que nos era indiferente alguém que julgámos desejar muito."

Jorge de Sena, in Sinais de Fogo

[A multidão que aqui vejo, tanta gente que identifico e aqui cabe... só o verbo "ter" se desdobra e recurva para abarcar outros, como amar, adorar ou desejar... mas a essência do que é dito permanece imutável... Alguém que quis alguém que, quando teve, afinal já não queria, era tarde, e não, não "vale mais tarde, que nunca"... porque depois não vale nada. Porque depois a indiferença vale tudo, naquela altura em que daríamos tudo para, afinal, ter visto aquela pessoa que não percebemos a tempo que não podíamos perder e já perdemos. Tudo fora de tempo, tudo tarde, ou cedo demais.
O fogo cruzado dos amores com intensa falta de pontaria, que mata quase todos por lhes não acertar, e salva quase nenhuns dos que acerta.  E chegar ao fim e perceber que andámos sempre enganados, trocados, perdidos, num reconhecimento póstumo e impotente.
Andarei, também eu, perdida no que está diante dos meus olhos? ou terá o amor de morrer para que o saiba, nessa certeza fria e inerte,  por dentro das veias? ]

6 comentários:

  1. "Nada jamais continua. Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrança das outras vezes perdidas, atiro a rosa do sonho nas tuas mãos distraídas." Mário Quintana

    Bom dia, Vi:)

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    1. Será possível recomeçar? assim, sem passado? seria bom, mas o creio...

      Boa noite, Legionário :)

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  2. Tantas vezes amamos o que pensamos não amar e nos entregamos a quem não nos ama. São os contrastes do coração.
    .
    * Poema em letras virgens e palavras nunca Escritas. *
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    Deixando um abraço

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    1. Tantas vezes nos entregamos a quem não queremos amar... até nos querermos entregar a quem não amamos.

      Desejos de boa noite, Gil :)

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  3. "O amor é um campo de batalha" (Héber Bensi) onde o único vencedor é o Amor e afinal não há volta a dar, somos todos de alguma forma perdedores.
    Mas olha desistir de amar é que nunca.
    Beijo,Vi.
    (e um campo de flores :))


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    1. e todos somos de alguma forma perdedores seremos também todos, de alguma forma, vencedores ;)
      Não sei se desistir do amor é uma decisão, não acho que seja uma decisão possível. Desistir é uma consequência de cansaço, descrença e desesperança, não se escolhe, acontece-nos. Ou não.

      Beijo, Nanda... e um jardim de papoilas para o teu olhar :)
      (sabes que adoro papoilas, não sabes?)

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