terça-feira, 13 de março de 2018

[foto @alongruber]

As coisas mortas no auge ficam para sempre, cruelmente cristalizadas na sua perfeição, cruamente desfiguradas em superlativos únicos. Das que deixamos morrer aos poucos restarão só as acomodadas imperfeições que arrastámos até serem o fim. Cinzas do que foi, do que fomos, a velhice gasta em todas as coisas. Quando acontecer não há volta que traga regresso - depois de se ter dado tudo, não resta nada para dar, esgotamo-nos, esvaziamo-nos. E o vazio não pode amar.

11 comentários:

  1. Há memórias que ficam fechadas numa gaveta do coração de tão perfeitas que foram. Gosto de pensar que algumas conseguem ficar intactas, sem nada que as possa sujar.
    Tens razão quando dizes que o vazio não pode amar, mas tem espaço para ser amor outra vez.
    Bom dia Olvido :)

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    1. Essas, as perfeitas, as intactas, são as mais crueis, parece-me.
      E sim, o vazio não pode amar mas é necessário vivê-lo para que, depois, se possa voltar a amar.
      Bom tarde, JI :)

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    1. A consciência desse vazio é o que distingue o começo do recomeço. E o cansaço para um eventual velho novo ciclo.

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  3. Querida amiga, o vazio,
    Quem sabe vem de olvidar
    O amor, em particular!?...
    O amor é fera no cio!

    Lembro do amor, com arrepio,
    Faz até ressuscitar
    O meu tesão milenar
    Prostrado de tanto frio.

    Porém o vazio e o cheio
    É arraigado ao nosso seio
    Qual parte de natureza

    Do animal em seu meio:
    Há a coragem e o receio,
    Paixão apagada e acesa!...

    Grande abraço. Laerte.

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    1. :))
      O vazio talvez venha de, depois de esquecer, nos lembrarmos que algo foi esquecido, algo que por vezes ainda nos falta. Se não houver falta não há consciência de vazio.
      Boa noite e bem vindo, Laerte

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  4. Nada morre no auge.
    Foi só a doença, desapercebida.
    Nada morre por razão nenhuma.
    Uma boa tarde.

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  5. Percebo a perspectiva, e sim, penso que há também verdade nisso. Mas nem sempre todos temos os tempos ditados pelo mesmo relógio, e o que para uns poderá ser ainda o auge, para outros poderá já ser a descida a um tempo de prenúncio de morte, de doença silenciosa.
    É talvez a diferença em para uns ser uma realidade que morre, que deixam morrer, e para outros que é morta.
    Boa tarde.

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    1. O passado morre por inércia, a cada momento.
      O presente constrói-se em cada momento.
      Os relógios de um ambos, sincronizam-se assim naturalmente, no querer o que nunca se acredita já ter, e que por isso, é constante desafio.
      Boa noite

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    2. A inércia faz-nos continuar o movimento passado, mantê-lo, logo parece-me que o passado, na perspectiva da inércia, continua no presente. Acho mesmo que o passado só morre quando é esquecido. Tal como para nós não morre verdadeiramente quem não esquecemos, acompanham-nos nas expressões que repetimos e lhes conhecíamos, nas presenças em episódios memoráveis ou não que recordamos... tanta coisa.
      Mas sim, concordo que o presente se constrói a cada momento, já não concordo tanto no ser um desafio constante o querer o que não se acredita que já se tem... porque então ou não o quer ou não sabe o que quer nem o que tem. E isso não me parece desafiante, é só desmoralizante...
      bom dia.

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    3. Nenhum dos dois está errado.
      Simples escolhas de como viver.
      Tarde boa.

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