sexta-feira, 5 de maio de 2017


roubado à ana 

...roubado há vários dias e guardado até hoje nos rascunhos... não, não sei porquê hoje, mas foi hoje que em deambulações vim parar à distância pela mão da ana.
Lembro-me de a dada altura na minha vida chegar à conclusão que a distância não se mede em Kms, mas em saudades. Agora dou por mim a pensar que dizer isto não diz tudo. À primeira vista, depois de dizer-se isto, parece entender-se que quanto maior a distância, maiores as saudades.
E é agora, é este o ponto da minha vida, em que acho que isso não só não diz tudo, como pode dar uma explicação torta. Este é o ponto onde eu me debato sozinha com as minhas próprias definições e maluquices solitárias, onde vejo as ideias tão emaranhadas como uma meada de lã por endireitar redondinha num novelo com ponta por onde se pegue.
Dou por mim a pensar que na verdade saudades sentem-se quando duas coisas não se conjugam na mesma distância. Sendo essas duas coisinhas o estar perto do coração e da pele. Se estiver perto do coração e da pele não há saudades nem distância. Se não estiver perto do coração nem da pele, também nem nos lembramos de ter saudades, e se não lembramos, então não existem. Só nos lembramos, só emerge do nada o que nos existe por dentro. Quando os dois estão perto não há saudades, quando os dois estão longe, não há por que ter saudades... estão de acordo... Depois temos as dissonâncias, os desatinos, as desafinações de vida, e isso dá-se quando estando perto do coração, a pele não se consegue tocar senão em pensamento, ou quando a pele está ao alcance fácil do toque, mas no coração nada toca aquando esse toque. Aqui há lugar a saudades, saudades de alguém, ou saudades de sentir alguém que nos faça sentir.
Isto tudo porque o título que precede a frase da ana é "distância" e isso fez-me navegar entre as minhas distâncias e as minhas saudades e todos os caminhos entre elas.
Quando a distância é um caminho que se pode percorrer então é de espaço entre corpos que se fala, mas não de almas; quando a distância são caminhos de alma sem volta, é de espaço entre almas que se trata, e este não se consegue percorrer encurtando o espaço entre corpos.

...fiquei a pensar que distância seria aquela da frase da ana... mas sei que eu queria aquela. 

8 comentários:

  1. Vi, a distância não diminui a importância;)

    Bom Dia:)

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    1. Não, quando nos sentimos perto de alguém a distância só atiça a vontade de pele, de toque, se essa distância for espaço entre corpos, mas há distância entre as pessoas que se sentam lado a lado mas não estão perto. O que é importante não é a distância é o sentirmo-nos perto, e aí onde quer que estejamos, com mais ou menos saudades, estamos bem.
      Bom dia, Legionário :)

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  2. Excelente e pertinente dissertação sobre tão belas palavras da Ana, como sempre.
    Não sou propriamente saudosista, mas a palavra distância inserida no contexto saudade apenas me tortura quando se refere a um caminho entre a vida é a morte. Infelizmente, essa é uma distância que não consigo trilhar para colmatar todo e qualquer aperto na Alma.

    Bom fim-de-semana, Minha Querida!

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    1. Essa saudade é das mais agudas e fere muito fundo, é servida com um "nunca mais" que não foi escolhido, não foi opção, as pessoas são-nos arrancadas sem quererem e sem querermos. Sei o que isso é, bem demais infelizmente...
      Bom fim‑de‑semana, Eros :))

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  3. Os caminhos de alma são cheios de mistério.Acho eu. Por isso quando a pele e o coração clamam saudades, um dia assim do nada o espaço entre almas pode dar lugar a coincidências de plenitude inexplicáveis. Ao reencontro. Nem tudo está perdido, Vi.
    Beijo:)
    Nanda

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    1. :)) adoro a tua perspectiva doce e optimista das relações entre as pessoas, eu já a perdi...
      E não, acho que há caminhos que uma vez trilhados não têm volta, há uma distância que se entranha para sempre. Resta saber a cada altura se esse ponto já foi atingido. Há quem passado 20 anos se reencontre e perceba que sempre estiveram perto, oiço dizer que há casos assim, de repente olham para o lado e afinal não há distância. Comigo acho difícil, nunca estaria 20 anos com alguém ao lado que eu não sentisse, e não é possível estar todo esse tempo distante de alguém mas quere-la perto... A não ser claro no "Amor em tempos de cólera", mas isso é livro lindo onde se regalam as vistas para esquecermos a realidade...
      Beijo, querida Nanda.

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  4. ah a ana roça a divindade muitas vezes, como tu ;)

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    1. Quem me dera CC... a ana diz as coisas duma maneira tão límpida e tantas vezes di-las como eu as sinto, mas com uma beleza que não me assiste a ponta dos dedos, não sei escrever assim... Mas esse elogio é valente, obrigada CC :))

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