quinta-feira, 11 de maio de 2017


Começou a chover, ouvia-se do sofá, vim para a varanda. Estou aqui enrolada na manta e sentada no degrau... oiço a chuva a refilar, ela a dizer mata o vento a dizer esfola, e as goteiras assustadas parecem tinir o medo dos inocentes. Sento-me mais para trás, mais dentro de casa, porque há gotas mais atrevidas e querem chegar a todo lado, e já me chegaram ao nariz e à maquineta que trago nas mãos a escrever. Gosto destes sons, gosto de ver a cortina de gotas gordas e frias a contraluz no candeeiro de luz quente da rua, gosto da chuva a cair, a lavar os dias do chão, a cair pesada, a arrastar o que já caiu. Devia haver uma chuvada assim na minha vida. Devia. Mas provavelmente só apanhava uma pneumonia, como os desgraçados que andarem por aí ao sabor da música da noite... 
Vou acender um cigarro, apertar-me mais dentro do calor da manta e apreciar a sinfonia... e o calor de encontro ao frio, como um privilégio; o seco em vez de ensopado como uma benção, os sons sem arranharem o silêncio como um sorriso que não precisa de rir. Coisas assim, que temos sem saber, que se sentem sem pensar. Coisas boas.

2 comentários:

  1. a chuva tem esse dom...

    bom dia Olvido

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  2. Acreditas que me mudei para o cadeirão que tenho na parte abrigada da varanda, e acabei por adormecer ao som da chuva?... tão bom :)))
    Bom dia, Moon

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