Diz-me um segredo
qualquer coisa inacessível
dessa tua alma
alguma coisa
que eu possa ainda fingir
que não sei
gil t. sousa
[gostava de sentir que alguém no mundo me conhece do avesso e por dentro, e mesmo assim, mesmo assim, me sentir amada, deve ser o sentimento mais confortável do mundo. saber que alguém nos conhece os defeitos, as partes menos recomendáveis, tudo o que já fizemos, o que já fomos, e ainda assim aceitar-nos, receber-nos, sem mácula, no amor que nos têm (se tiverem). nunca ninguém me quis conhecer assim, alguém que me quisesse escavar a alma até aos segredos de que tenho medo, de tão pouco segredo que são, e de tão pouco ter que contar, afinal. esse é talvez o meu maior e único segredo, não tenho nada para contar, sou simples simplesmente, a minha vida, se a alguém importasse, contar-se-ia em dois minutos, e dois minutos sem sobressaltos, ou anseios de suspense, nada. ainda assim ninguém nunca o quer saber, e se calhar ainda bem, não quererem saber o que não tenho para dar a saber. não há nada inacessível da minha alma, e ainda assim, ninguém a sabe, ou quer saber. se calhar é isso que eu finjo que não sei.]
(com o mote da revisitação, do reler esta poesia, ficou-me o gosto insistente...)
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