Não sei como se faz isso de ir para longe e ficar perto, mas era o que me apetecia hoje. Ir para longe daqui, passear, deambular, serpentear caminhos, ouvir música, deixar o esqueleto debaixo do sol, o olhar, mudo, escondido atrás dos óculos de sol, ouvir o mar, dançar sem ninguém ver, mas não sair daqui. Como se a distância ficasse ali ao virar da esquina, como se me quisesse longe de mim em mim, desaparecer daqui e não sair do lugar, ou quase. Como um ligeiro descolamento, só. Talvez seja preguiça, talvez seja pouca motivação... mas acho que é mesmo preguiça... e querer esquecer-me do agora de mim para me voltar a lembrar do que sou, do que posso ser, do que sempre fui por baixo dos dias, perto ou longe. Talvez a medida da felicidade se veja pela distância a que estamos de nós mesmos, e da facilidade (ou não) com que a suportamos, da medida da asfixia a que nos permitimos.
sábado, 31 de julho de 2021
Está frio, outra vez. Já não se fazem noites de verão para sonhar como dantes. Os barulhos da rua também mudaram, andam silenciados. As estrelas, ariscas, andam escondidas. O sono vem mais cedo e o cansaço fica até mais tarde. A miúda faz-me falta, faz-me ainda mais falta, como se alguém me tivesse o coração na mão e apertasse, quando me liga e diz que está cheia de saudades minhas. Quando nos sentimos amados ainda nos magoa mais a distância, ainda faz mais falta poder amar, agarrar, abraçar, encher de beijos… até que a danada começa a fugir de mim… pronto pronto, mãe, também não exageres :))
… uma vez escrevi que as distâncias não se medem em quilómetros, ou em metros, medem-se em saudades. Acho que pelo menos uma vez na vida, disse uma coisa de jeito.
sexta-feira, 30 de julho de 2021
Aqui já não moram papoilas… aquelas duas despernadas que há tempos aqui se encontraram comigo desapareceram. Nenhumas outras as substituíram, agora é terra e coisas daninhas que o vento baloiça e eu observo. O sol quase deitado estica as sombras antes de se despedir, e eu tão cheia de despedidas que os lugares me trazem e eu acolho. De dias antigos de vidas passadas de eus que se perderam. Só não desapareceram, nem outras sombras lhes tomaram o lugar.
quinta-feira, 29 de julho de 2021
Há dias em que apetecia chegar a casa e ir para a varanda aninharmo-nos na noite, numa noite de verão, quente, de céu e peito aberto. Despir o frio da alma com o silêncio como agasalho, ou numa conversa que aconchega. Mas está frio. E quem não desiste pega numa manta e faz dela verão. Há muita coisa assim na vida. Só não sei se a manta é a desistência da noite de verão, ou se é insistir nessa ideia e agarrarmo-nos às conversas ou aos silêncios, ou ao que nos sabe a agasalho, ou à noite que nos apetecia.
quarta-feira, 28 de julho de 2021
Outra das maravilhas do teletrabalho é quando em julho não está frio, vento, o céu todo tapado, ou até chove, e pronto, frio no geral… podermos trabalhar na varanda, ao ar livre… mas esta parte esqueci-me, porque com o tempo que tem estado não dá para nos lembrarmos de tal coisa… hoje a coisa parece melhor, veremos…
terça-feira, 27 de julho de 2021
Uma das coisas que gosto no teletrabalho é levantar-me 45 minutos antes de estar ao computador. Durmo mais um bocadinho, ou tenho mais um tempinho de ronha para ganhar coragem para me levantar. A partir daí é sempre a correr, banho, pentear, pôr qualquer coisa em cima do pelo, e tomar o pequeno-almoço já em frente ao bicho que debita os novos e-mails enquanto trinco a minha torrada. Depois toma-se café a olhar o dia lá fora, inspecciona-se a cor do céu e como essa pinta todas as outras; a cor das folhas da árvore da frente, os telhados das casas que espreitam a janela da varanda, as nuvens que tapam tudo ou deixam desenhos à imaginação. E esta semana vai ser assim. Só tem um problema, deixo os maus vícios entrar no “escritório”…
sábado, 24 de julho de 2021
quinta-feira, 22 de julho de 2021
Me too, me too…
quarta-feira, 21 de julho de 2021
terça-feira, 20 de julho de 2021
segunda-feira, 19 de julho de 2021
domingo, 18 de julho de 2021
sábado, 17 de julho de 2021
Há muito tempo que não usava nestas lides esta expressão, talvez porque tenha aprendido a dizê-la fora daqui, ou a, subtilmente, exercê-la sem a dizer: subtilmente ou na lata mesmo… mas quando bati os olhos nisto lembrei-me dessas publicações antigas noutras moradas… parece que de certa forma já sou outra, ou sou exactamente a mesma, mas aprendi esta bela arte de não me chatear com o que não posso mudar, ou não depende de mim…
Acho que faz falta às pessoas (a muitas parece-me) perceberem isto, evitava muitas dores e chatices. Quando se está realmente com alguém, não se sente grande interesse, ou vontade, por mais ninguém. Quando se está apaixonado, não existe mais ninguém.
[a lua estava uma beleza, viram? E esta noite agora? Que maravilha, senhores…para apaixonados e para os aspirantes a :) ]
sexta-feira, 16 de julho de 2021
A regressar de casa da hora de almoço, parada no semáforo, vejo um moço de outra fila de trânsito sair do carro, deixar a porta aberta, correr até à espécie de rotunda, arrancar uma flor (plantadas há pouco tempo, por acaso) dum amarelo cheio de vida, e correr de volta para o carro. Assim, um miúdo de vinte e tal anos, sem querer saber se estava no meio do trânsito, cheio de carros por todos os lados, do que iam achar ou do que poderia parecer… grande puto, ganhaste a minha simpatia até ao resto dos meus dias… E com isto tudo, desatei-me a rir, apeteceu-me sair do carro e aplaudir. Estava a precisar duma prova de vida destas hoje - e ontem, e provavelmente amanhã - fiquei só a rir-me sozinha, enquanto arrancava com a descida do verde ao semáforo e a vida à terra, a desejar longa vida a paixões assim, e longas e boas paixões a quem se entrega assim, em momentos que valiam ser fotografados (lembrei-me mas desisti mal pensei nisso). Ficou só um momento deles, e uma memória minha, com um desejo forte de muitos momentos assim para quem se atreve a sentir e a fazer maluqueiras boas e apaixonadas … são essas pessoas que ficam e esses os momentos que valem a pena.
Espero que a flor, chegada a casa, seja guardada dentro dum livro de poesia, que como se sabe, é o único sítio onde os amores perfeitos não morrem.
[lembrei-me, já a estacionar o carro, duma viagem onde fui ultimada a encostar o carro, porque há beijos que são urgentes e imperdíveis... e deram-se e não se perderam :) tenho saudades de estar apaixonada, e agora senti-o mais, essa é que é essa! ]
quinta-feira, 15 de julho de 2021
O sol esconde-se atrás do telhado da frente. Passam trotinetes várias e carros a caminho de algum lado, os cães passeiam os donos, a passarada traz a música da festa, e eu procuro o fim do dia nalgum recanto desta varanda, escondido à espera da noite de vários dias. No outro dia dizia a alguém que poucas pessoas percebem a diferença entre esperar, estar parado, e simplesmente não querer estar noutro sítio. Dizia-me que não queria esperar mais, como me disseram tantas vezes noutras alturas, e eu respondia isso: não é esperar, é não querer ir para lado nenhum, porque não queremos, porque não temos por que o querer. Talvez a única coisa que se aguarde seja a vontade de ir.
terça-feira, 13 de julho de 2021
segunda-feira, 12 de julho de 2021
Diz-me coisas
que ainda não sei.
Conta-me histórias
Que ainda não revivi mil vezes.
Destece o tempo
Que ainda não passou.
Ateia-me desejos
Que ainda não arderam.
Lê para mim
O que ainda não foi escrito,
Palavras que ainda não existem,
Idiomas que só eu,
E tu,
Ainda guardamos
Por ler
Sou bastante assim, mas vejo muita gente a querer impor a sua presença, ou exigindo a de quem não quer estar, até à exaustão, até ao cansaço, à desistência da vontade. A mim o que me cansaria de certeza, seria saber que não me querem, que me querem longe. Se sequer o adivinho, sou a primeira a ir, liberto-as da minha presença logo, logo. Acho que quem não o faz teme demais ficar apenas na sua presença, ou só não suporta a rejeição (e ficando e impondo-se, está a obrigar-se a lidar com a rejeição contínua…).Eu não, eu gosto da minha companhia e tento só a oferecer a quem a merece, e para isso é inevitável que a queira…
domingo, 11 de julho de 2021
sábado, 10 de julho de 2021
Um dia para mim. Um dia que começou à hora que lhe apeteceu, um começo que se esticou para o tapete durante quarenta e cinco minutos de alongar e sentir os músculos, sentir o corpo, que agora se alimenta. Uma taça de fruta para juntar um iogurte e a minha granola dourada, os ovos mexidos numa torrada que eu sem pao não sou nada, nem quero, e o meu chá verde com limão. Assim se começa um dia cujo único plano é cuidar de mim e fazer o que me der na real gana. Pegar num livro e ir ler, ou só observar a fauna duma esplanada, talvez passear a quatro patas, que ontem quando cheguei a casa e lhe abri a porta para entrar, foi a correr pôr um brinquedo nos dentes para mo deixar no colo… à laia de não te vejo desde ontem, compensa-me, tenho saudades, preciso de saber que gostas de mim, que também estás contente por me ver. É estranho desejar as pessoas com alma canina assim? Porque a mim servia-me. Sendo que as brincadeiras podiam ser mais divertidas para os dois do que atirar uma bola para ir buscar… ainda que possa incluir ir buscar coisas com os dentes…
sexta-feira, 9 de julho de 2021
quinta-feira, 8 de julho de 2021
quarta-feira, 7 de julho de 2021
Sinto-me assim muitas quartas por esta hora… não me apetece. Não me apetece por aí além estar aqui, menos ainda pensar que amanhã vou abrir as pestaninhas a horas demasiado madrugadoras para o meu (e delas) gosto. As quartas parecem sempre mais curtas, parece que acabam mais cedo, que a cama me reclama mais cedo e eu reclamo disso, a apreciadora do silêncio escuro da noite, não o toma de ânimo leve. Ontem queria sair cedo, não me safei antes das sete e tal, hoje que o dia será mais curto quero aproveitar o entardecer, sair cedo, esticar o que puder o tempo antes de me dedicar aos dias iô-iô até me acabarem a semana. Talvez quinta à noite salve a disposição… quiçá.
terça-feira, 6 de julho de 2021
… já ficava em casa para o resto do dia. A sério. Não me apetece esta vida hoje, que fazer? Aguentar com sentido de humor ainda é a melhor abordagem. Isso ou a reforma. Ou um amor que não se espera… qualquer coisa boa, sei lá.
Chove na varanda, estamos em julho e chove enquanto me enrosco numa manta no cadeirão protegido da chuva. Parece que afinal as coisas mais certas não se acertam. Chuva fora do tempo, um vírus que nos pôs em casa, em retiro, uns meses, é que continua a fazer das suas. Já não há nada certo ou seguro. Nunca houve. A segurança não é mais que uma sensação e eu já aprendi há tempos que sensações, por muito que todos os sentidos concordem e assinem por baixo, não são verdades, e muito menos irrefutáveis. A segurança é uma sensação porque o medo é uma realidade insegura. Não há vacinas para o medo, muito menos para a mudança. Vamos aprendendo que é assim, quem aprende, quem não aprende acha que em julho não chove assim. Porque não, porque as coisas não são assim.
segunda-feira, 5 de julho de 2021
domingo, 4 de julho de 2021
Uma noite calma envolta na manta, o degrau da varanda, o silêncio a emoldurar o último cigarro que queima devagar. Estes dias passam depressa por tentarmos gastá-los devagar. Nunca se faz tudo o que se quer, e o que mais se quer, mais das vezes, é gastar o tempo vendo-o passar ao nosso ritmo. E haverá diferentes opiniões acerca do meu ritmo, poucos conhecerão este, o de olhar devagar para dentro para acalmar coisas do mundo, as vezes, até do meu mundo. Quando quer rodopiar-me as ideias e as incertezas, as maluquices e as razões, os agora e os depois. E agora, agora só quero fechar os olhos até um novo e melhor amanhecer, novos silêncios, noites boas de despir a manta e o frio, agasalhada de outros calores, trincar biscoitos de amora até ao fim, como selvagens. Até lá, não quero ver nada, nem sonhar, só deixar o mundo girar debaixo dos pés sem saber e sem cair. Acaba-se o cigarro e falta-me alentejo no olhar, penso.
sábado, 3 de julho de 2021
A noite está perfeita, no que toca a temperatura está. Venho despedir-me na varanda e tentar não pensar como a minha estupidez me assalta, e como me leva - e eu deixo - a sítios secretos, fechados e arrumados, que abro e desarrumo e releio, e ponho e reponho para não restar nada, senão uma desarrumação asfixiada pelo tempo. Precisa de respirar às vezes ainda, talvez por isso nunca apague nada. Coisas estúpidas, eu sei, mas talvez seja preciso revisitá-las, revê-las, remexê-las, para que possam voltar a assentar num qualquer lugar do esquecimento. Relembra-se para se poder esquecer novamente, e saber porquê. Está tudo lá.
quinta-feira, 1 de julho de 2021