quarta-feira, 5 de agosto de 2020


Há distâncias que se procuram, que se querem sentir, e sentem: como um sentimento futuro, como a vista que sabemos que vamos ter ao chegar ao cimo, onde as vistas são largas e a perspectiva inteira. E subimos, continuamos a subir, com a sensação da distância desejada a mover-nos, a empurrar-nos, queremos chegar ali, ao ponto de não ser sensação futura, não aquela que se antecipa, mas sim já realidade que as mãos agarram e o olhar carrega. Por vezes parece-nos até que já chegámos, e não, não chegámos, mas sentimo-la ao alcance da mão, quase como se já a pudéssemos chamar nossa, quase como se conseguíssemos. Como se conseguíssemos sentir a distância que queremos sentir, que sabemos certa e segura: real... até quando há inexplicáveis sensações de proximidade, de telepatia, de estar perto do que não se toca, do que não está, do que nunca realmente esteve, mas são só isso: sensações, como aquelas que nos trouxeram até aqui, à procura de distâncias.  Coisas de mundos imaginados e cruéis.
E depois partimos, pomos, entre sensações estranhas e a certeza de querer distância, muitos quilómetros, e é aí que fugimos de nós, que tentamos, nessa distância, que por nos isolar e nos devolver, ao trazer-nos tanto a nós, nos traz o que queremos distanciar, aqueles que nos têm. Mesmo que nunca os tenhamos.

A lua está sublime, meio escondida por trás das oliveiras. O céu deixa a um canto os melhores espectáculos. E o vinho, branco e fresco, deixa-a tão ternurenta que dói. E é tão bonito ao mesmo tempo. A ternura tem de doer sempre?

2 comentários:

  1. Fugimos de nós para não nos magoarmos. Falo por mim, claro mas é uma forma de proteção. Porque sim, às vezes a ternura dói e magoa.
    Um beijo princesa

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    1. E fugirmos de nós, também não é uma maneira de nos magoarmos? De nos amputarmos? Em nome duma suposta for menor o estrago não será maior? Até porque por muito que fujamos apanhamo-nos sempre, mais tarde ou mais cedo. Às vezes o estrago então é maior, quando emergimos de nós mesmos a força é avassaladora e pouco lúcida, como a libertação dum animal há muito enjaulado.
      ... caramba JI, a ternura às vezes dói demais, e não devia ser assim.

      Um beijo para ti, menina :)

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