[Um dia de cólera, Arturo Perez-Reverte (diálogo entre participantes da revolta que foram abandonados pelo resto dos militares e compatriotas fiéis aos invasores, para serem fuzilados)]
... o livro é violento e por demais repetitivo, porque não é ficção nem romance, é o que foi a realidade - com nomes intermináveis e factos por romancear - e mostra-nos o que gente determinada e corajosa, quando espezinhada e humilhada, sabe ser digna e forte, com um sentido de honra que poucos diriam ou sonhariam ter... A questão é que quando nos pisam os calos a sério, quando somos injustiçados, ou quem nos é próximo, achamos que já nada há a perder, e as pessoas mais perigosas são as que não têm nada a perder. É assim a história de 2 de Maio em Madrid, Um dia de cólera, como o intitula Perez-Reverte, o meu padrinho de baptismo... que relata a sequência de factos que um punhado de gente com tudo no sítio - militares e civis, homens e mulheres - iniciou batendo-se pelo que acreditava, pela sua dignidade, honra e independência. E pronto, isto raramente corre bem para os bons, morrem todos, ou quase,para depois ficarem heróis, até hoje, e para servirem de exemplo ao resto do país que depois começa a guerra da independência, tanto que até a nós depois nos chegou... e dum lado e doutro lá levaram um chuto no cu os francius emproados. E é assim, morre-se mas serve-se de exemplo, o que deve ser um grande consolo, realmente... mas a questão, a questão é sempre a mesma, há alturas em que não se sente alternativa possível (mesmo que haja, não se sente como possível, exequível), e vai-se com tudo o que se tem, porque chega-se ao ponto de que viver, ou assentir em viver, de determinada maneira é contra natura e, ou se batem para viver como querem, ou nem gente se acham no espelho. E então sentem não ter nada a perder. Não ter nada a perder é o gatilho mais forte e perigoso do ser humano, é a sobrevivência.
É a "lei" da sobrevivência...
ResponderEliminarBom domingo, Vi:))
Mas é lei de interpretação abrangente, não é só sobrevivência assegurar que sevrespira, come e bebe, há pessoas para quem a sobrevivência também tem um nível mínimo de honra, dignidade, liberdade, sem as quais viver não é vida que se admita. Sobrevivências, ao que parece, há muitas... :))
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