Dia de sol, dia de começar livro novo, dia de vestir se calhar pela última vez vestido de verão, leve e quase esvoaçante.
Ontem li no xilre que "toda a uva está cheia de vinho", fiquei a pensar nisso, tudo o que poderemos vir a ser já faz parte de nós. Não era esta a conclusão ou a ideia do post, mas foi o que me ficou a marinar nos momentos parados, como conclusão minha. Cada uva pode tornar-se vinho. Pode acontecer que aconteça ou que não aconteça, mas nunca seremos algo que não temos já dentro. O que quer que sejamos um dia já estás em nós, adormecido, escondido, por descobrir, por desenvolver, maturar ou fermentar. Mas está cá. Ainda assim, toda a uva está cheia de vinho, mas algumas só chegam à mesa com casca e comem-se com as mãos. E há as uvas para quem isso chega e haverá aquelas que se não forem um dia servidas em fino copo, não percebem o sentido de terem nascido.
Tudo o que eu vier a ser já sou hoje, tenho-o cá dentro de alguma forma, como aquilo que sou hoje já o guardava de antes. Como se fossemos descobrindo gavetas da alma que vamos abrindo, não sei se depois as conseguiremos fechar sem perder o sentido de a vida as ter aberto e vivido e mostrado, para, no fim disso tudo, ficarem fechadas. Mas a questão é que a nunca conseguimos fazer casa que não em cima das nossas fundações, dos nossos pilares, do que somos e queremos, nada disso tem alterações de fundo (as pessoas não mudam muito, ou não mudam de todo). O que viermos a ser, na verdade, já o somos, nós vimos sempre ao cima de nós próprios, mesmo que o tentemos contrariar, ou abafar. Só temos de nos reconhecer, depois disso, continuar a insistir em contrariá-lo, é asfixiarmo-nos em infelicidades várias. E isto é uma conclusão chata para mim, só vos digo.
Sabes, depois de perder o bebé, larguei o violino. Porque não queria continuar a ser aquela pessoa. E depois perguntei-me que outros sonhos tinha, algo que pudesse perseguir. Ou se podia inventar outro. E na verdade ainda não consegui inventar um sonho diferente para mim. Provavelmente tens razão, Vi. De nada vale contrariar o que somos.
ResponderEliminarDesejo-te um Domingo terno, Vi. Um beijo nesse teu coração. :)
A "uva passa" não está cheia de vinho, e no entanto os benefícios desta uva são grandiosos para saúde.
ResponderEliminarOlá Vi, por aqui chove;)
Alaska,
ResponderEliminarPenso que tentarmos contrariar o que somos, só não será, se calhar, perda de tempo, se for uma aprendizagem - essa a de que não vale a pena não querer ser a pessoa que somos, porque é a única coisa em que temos força, vida, identidade. De resto podemos tentar contrariar-nos, podemos aprender com o que nos acontece e isso alterar a maneira como vemos algumas coisas e isso mudar-nos naturalmente alguns comportamentos, mas não me parece que seja possível aprender a sentir de outra forma, impingir-nos sonhos que não almejamos, nem podemos "criar" uma pessoa diferente da que somos, ela não sobrevive. O que somos rebenta sempre por cada fresta que nos escapa. Não se muda por decreto ( e acho que nem por muita vontade que se tenha), voltamos sempre ao que somos, como te dizia há tempos. E isso é bom, nem me parece que se possa ser feliz doutra forma, fora de nós.
Se houver mais sonhos dentro de ti eles vão aparecer, vão aflorar um dia sem aviso, mas se o teu sonho é o violino porquê querer mudar? Se as tuas mãos escrevem, porquê calá-las? Muda alguma coisa de tudo o resto para melhor? Faz-te sentir melhor, ou falta-te como uma parte de ti que queres esquecer mas que te belisca sempre? :) há dias em que eu também gostava muito de ser completamente diferente do que sou, mas sabes, até no pensar isso estou a ser eu...
Deixo-te um beijo carregado desta ternura do Outono que desponta :)
Legionário,
ResponderEliminarEheheh isso é verdade, mas antes de ser passa foi uva, antes de secar e ser só mais um destino possível da uva, e nessa altura ainda podia ser vinho, mesmo daquele intragável...
(Isto são só divagações tontas minhas não é para ligar muito, Legionário ;) )
Aqui esteve sol até há pouco, agora que cheguei a casa o céu acinzentou-se e talvez chova aqui também...
Lembra-te deste texto quando voltarmos a falar sobre esforço, ok? ;)
ResponderEliminarQualquer outra coisa saberá sempre a pouco.
Minha querida Anouk, bem sei, é isso que dizes exactamente que justifica e grita na última frase... é uma chatice... das grandes, só te digo. Mas lá está, às vezes eu quero estar muito errada, e ser muito diferente!!! ;)
ResponderEliminar