terça-feira, 26 de setembro de 2017

[foto @_georgemayer]

Ele dizia-lhe que ela era inteligente, racional e lógica, mas depois, depois tinha uma parte ilógica, irracional e estúpida... mas linda. Ela, de rajada, respondeu-lhe que essa era a parte nela dele, e viu-o desconcertado, sem perceber ao certo o que o tinha atingido.

(essa parte era a parte brilhante, resplandecente, sol de qualquer sombra, a parte que não tinha margens, a que podia mudar o mundo dela e dele se ele quisesse, a que não se submetia, a louca, a sã, a que sabia ser feliz, a única que podia ser infeliz, a parte que era o todo, que estupidamente se sobrepunha a tudo, ou quase)

Ela ficava a pensar em tantas coisas que já lhe tinha ouvido, das que doem e das que moem felicidades passadas em gravilha debaixo dos pés descalços, mas não o odiava, e dizia-o a si mesma, repetindo a frase que a ele lhe ouvira vezes sem conta "eu não a odeio"... mas a ele ela tinha-lhe raiva muitas vezes, algumas muito tempo, tinha-lhe raiva pela única coisa de que não era culpado: não a amava. E agora, olhos na sombra, postos na linha do horizonte, ficava a pensar que nunca descobriu se essa parte, essa raiva, era racional porque tinha (muitas) razões, ou apenas outra forma de o amar (de)mais, fruto dessa insanidade sem tréguas de amar estupidamente e longe de qualquer razão.

2 comentários:

  1. Pensamos ser racionais....
    Mas por vezes racionalidade nos afecta tanto que nos tornamos irracionais.

    Bom dia, Vi:)

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  2. Não é a racionalidade que nos torna irracionais é às vezes querer aplicá-la onde não tem aplicação. Mas, ainda assim, tudo tem de ter um fio condutor qualquer, um entendimento, uma causa-efeito, se tudo for aleatório é o caos e, aí sim, estamos já na irracionalidade selvagem.
    Boa tarde, Legionário

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