segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017


Porque nós estamos aqui.
Aqui onde te entrego os meus bolsos,
e - repara - as tuas mãos cabem.

Nós estamos aqui.

Vasco Gato


[O nós é um aqui que tu nunca frequentaste,
onde sempre te guardei lugar,
com a tua mão na minha,
num bolso que guardava o que sentia.
Aqui é um lugar onde a tua mão cabe na minha,
mas onde a minha nunca coube na tua.
Aqui é onde se entrega o que não se escolhe dar.]

(escrito quando senti alguém o lugar de mim)



Nós foi um lugar aqui,
aqui já não é um lugar,
aqui perdeu a geografia.
Aqui perdeu-se no tempo perdido
onde em tudo me cabias
onde contudo nunca te tive cabimento.
Aqui é um tempo que fez tempo
na geografia dos meus afectos.
Aqui nunca te foi agora, já.
Aqui já não é ainda
Aqui foi-me ainda muito depois
do depois de nós aqui ter sido
Aqui já não é sequer depois,
aqui é onde não cabe senão o vazio
do que não foi acolhido nem devolvido,
do que se entregou e não se escolhe dar.
Aqui foi um tempo verbal de amar
sem futuro
com passado no singular
e presente vazio imperfeito.
Aqui, eu sem ti.

6 comentários:

  1. o amor, sempre o amor... é tudo o que temos nos dedos.

    um beijo com a luz da lua, vi. :)

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  2. Alaska,
    O amor é tudo e não é nada, mas os dedos não sabem nada disso, apenas se deixam dançar à música que toca, muito depois do silêncio o calar... Talvez seja um violino como o teu...
    Beijo de luar para ti

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  3. já nã posso escrever sobre bolsos sem pensar no que aqui li :)

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  4. Um nós que pode ser uma casa, um porto de abrigo.
    O que acontece quando ele desaparece?
    Há vazios difíceis de preencher.
    :)

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  5. Manel,
    O Vasco Gato tem coisas que gosto muito ... E realmente aqui é um bolso de fundo descosido, dos teus ;)
    (mas os meus também parecem ser assim, perde-se muita coisa por estes bolsos sem fundo, há vezes até que somos nós que caímos ao chão por lá...)
    Bom dia, mau tempo (aqui está sol...)

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  6. Imprópria,
    Não sei, também me pergunto, ando à procura da porta para fora do vazio mas não encontro fechadura por onde me escapulir de uma casa que já não abriga nada que me faça bem... O vazio só se pode preencher se não estiver ocupado, ha vazios atafulhados... E então eu que tenho a mania de guardar coisas demais...
    Bom dia!

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