domingo, 15 de setembro de 2019

[foto @lolitita]


LISTA

Preparei uma lista de perguntas
cujas respostas já não chegarei a obter,
ou por ser demasiado cedo para elas
ou não conseguir entendê-las.

A lista de perguntas é longa,
toca em assuntos menos e mais importantes,
e como não quero aborrecer-vos,
revelarei apenas algumas:

O que foi real
o que aparentava sê-lo
nesta plateia
estelar e subestelar,
onde é obrigatório tanto o
bilhete de entrada como o de saída;

O que será do mundo vivo
que não terei tempo
de comparar com outro mundo vivo;

De que vão falar
os jornais do dia seguinte;

Quando cessarão as guerras
e o que as substituirá;

No anelar de quem
andará o meu anel de estimação
furtado ou perdido;

Onde fica o lugar do livre-arbítrio
que consegue estar e não estar
em simultâneo;

E todas aquelas dezenas de pessoas -
ter-nos-emos realmente conhecido;

O que tentava dizer-me M.
quando já não conseguia falar;

Porque tomei por boas
as coisas más
e o que me faltará
para não mais me enganar?

Certas perguntas
anotava instantes antes de adormecer.
Quando acordava
já não as conseguia descodificar.

Às vezes suspeito
ser este o código correcto -
mais uma pergunta
que um dia abandonar-me-á.


Wislawa Szymborska
(trad. Elzbieta Milewska e Sérgio Neves)


Das perguntas que foram lista. Tive tantas de tantas formas e feitios, demais até. Hoje não são nada. Nem vontade de resposta. Onde não há vontade, não há nada. Verdade tão simples que custa, como outras, seus corolários. Onde há perguntas há ainda vontade. De entender, de conhecer, de saber, de justificar e querer desculpar. De arranjar por onde lidar. Onde há perguntas, e há interesse em ouvir as respostas, há pontas soltas por prender, ou desprender. Quando só se pergunta para desviar outras perguntas, como defesa ao que não se quer responder, não há vontade de ouvir, só de afastar. 
A única pergunta que tenho é por que entendi tanta coisa tão tarde, se já o sabia desde tão cedo. E até desta me abandono, não quero saber, teve o seu tempo, foi o meu tempo de entender o que apenas precisava ser sentido, e sentindo-o, sabe-lo sem lugar para dúvidas.]

2 comentários:

  1. Posso fazer a minha lista de supermercado e mandar-ta[risos]

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    1. :)) de supermercado também tenho, essas só respondem às necessidades do quotidiano pragmático ;)

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