Fazem-se listas e desfazem-se listas. Atrapalham-se os planos por outros planos. Vive-se sem fazer muitos planos, afinal. E até já o sabia, e é assim que gosto. Adapta-se tudo ao que, dia a dia, nos vai apetecendo e podemos fazer.
Depois do Camus terminado em terras além-Tejo, a caricatura do “Cândido”, personagem Voltairiana, que me cansou um tico por repetitivo que era, depois meteu-se entre mim e os livros na calha, o tropeçar no Velho e o Mar do Hemingway. E gostei. As coisas de que acabamos por gostar caem, não raramente, da árvore dos acasos, dos tropeções bem sucedidos. E eu, que sou tão trapalhona e desengonçada, podia tropeçar mais vezes no acaso das coisas certas para mim... e acaso ou não, apeteceu-se explorar os antigos, os sábios, os clássicos. Alguém aqui uma vez me disse que este meu nome aparentava a sonoridade de um outro - Ovídio. E por, de repente, me lembrar disso, e por me ter cruzado há tempos com ele num alfarrabista amigo e raptado para a minha estante, resolvi há dias pegar nele. E agora aqui estamos, num dia tórrido, onde a varanda está impossível como o deserto, e a temperatura desfaz a lucidez, recuamos para dentro das paredes antigas, grossas, que nos protegem, baixam-se as persianas da sala e deixa-se só a luz suficiente para aprender essa arte de amar que Ovídio diz poder ensinar.
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