sexta-feira, 27 de setembro de 2019

[foto @luca_alutto]

Espantam-me palavras que tanto me surgem na boca. Do nada, sem razão. Quando à noite desligo o ruído e me levanto dos dias, quando abro a porta do carro e faço o tempo não ser tempo, quando não dou conta do que digo, e menos ainda conto com o que me oiço dizer. As palavras são minhas, surgem na minha boca, não as leio nem as repito, mas reconheço-as. Já as disse tantas vezes quando eram minhas até às entranhas, mas agora já não sei por que as digo, não me parecem de dentro, porque de dentro já sacudi muita coisa, como sacudo essas palavras que não percebo porque são minhas, e vêm de dentro. Não percebo o que me falta apagar, além do hábito, ou da teimosia, ou da memória. Talvez as palavras. Talvez. Ou a boca, pelo avesso das palavras.

2 comentários:

  1. Quanto ao teu Post Vi, deixo-te estas palavras de Vergílio Ferreira

    "Quais são as tuas palavras essenciais? As que restam depois de toda a tua agitação e projectos e realizações. As que esperam que tudo em si se cale para elas se ouvirem. As que talvez ignores por nunca as teres pensado. As que podem sobreviver quando o grande silêncio se avizinha."

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    1. Ahh Legionário:) gosto tanto de Vergílio Ferreira, mas estas palavras que me fogem da boca sem destino, não as quero essenciais. Não quero, não quero que me definam, definharam-me tempo demais... talvez me defina o ainda surpreender-me a dizê-las, apesar de tudo, mas quero outras palavras na minha boca. Que só se mantenha a intensidade de sentir e viver as coisas assim, tanta que demora muito e muitas camadas a tratar, que seja essa a essência. A minha essência.

      Bom dia ;)

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