sexta-feira, 12 de janeiro de 2018


[foto @nurukimondo1]

Hoje era daqueles dias, ou noites, que ficaria aqui a desenrolar pensamentos e palavras que não tenho tempo de pensar ou escrever. Apetecia-me conversar devagar, divagar com um copo de vinho a quatro mãos, uma conversa sem rumo traçado. Tenho a bicha aos pés a dormir, e a mim o sono ainda não me beliscou mesmo tendo dormido tão pouco, e estou aqui, no sofá, às escuras, só a luz do computador ilumina além da luz que entra pelas janelas, vinda do outro lado do mundo - o lado de fora. Estou cansada, mas hoje não estou derreada e apetecia-me descansar os dias numa conversa lenta, daquelas que se desenrolam bem à lareira e combinam com frio do lado de fora do vidro. 
Tenho tantas perguntas, tantas respostas guardadas no tempo e tanto tempo guardado por dentro. E esse para onde irá?
Vou continuar sempre assim, ou haverá um qualquer acaso na minha vida que me fará encontrar-me noutro olhar? E isso dar-me um novo mundo para olhar com os mesmos olhos? Não faço ideia do que me espera, tenho curiosidade e medo, sei que o tempo me dará as respostas que tiver, e as que não tiver far-me-à mudar as perguntas, ou matar-me antes. Depois penso no agora, no que penso, no que sinto, no que não quero sentir, no que não compreendo e nessas respostas que não tenho. Sei que me ponho a divagar e a rodar sobre mim mesma e o que vivi e o que me faltou viver - ou não faltou, só não vivi. Sei que me apetecia conversar e sentir um conforto qualquer, sei que me apeteciam uns olhos que me ouvissem com atenção e umas mãos que me falassem com carinho da doçura que lembro. Da ternura, do desejo inteiro, do sentir completo. Sei que me falta tudo, mas que tenho tudo o que preciso porque vivo, estou viva, mas não sinto. E penso que o que não se sente não existe, não para nós, não cá dentro. É como a luz que me entra na janela, vem de fora, se não a visse, se não a sentisse entrar-me nos olhos, para mim não existiria. Como não existe para um cego. E eu - agora, neste momento - existo para alguém? Agora, talvez só para esta bicha que tenho aos pés, ela sente-me porque se aninha no meu calor. Eu aninho-me ao ela precisar de mim. Preciso sempre que precisem de mim, senão parece que não me sinto existir. Como hoje. Como ontem, como há tanto tempo, e por quanto tempo? Só o tempo responderá... E o tempo que perguntas terá? E o sono quando me apagará as palavras que não saem do sítio, à volta sobre si mesmas e ao meu redor? Quero dormir, apagar a cabeça e esquecer. Esquecer que penso, esquecer que me apetecia conversar e que o vazio, às vezes, ainda me arranha a alma por dentro. Ela sente, mas já não grita. Só quer conversar, e que o passado corte rente as unhas e fale baixinho dos seus ruídos ensurdecedores. Quero descanso de mim e do tempo que me ignora, mas a que o mundo obedece cego, sem o ver passar. E eu, eu só o queria ver passar ao ritmo intemporal duma conversa sem tempo.

4 comentários:

  1. Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve.

    Bom dia, Vi:)

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    1. É :) é realmente uma companhia de certo modo, e uma maneira de nos ajudar a pensar, de desenovelar emaranhados de ideias que às vezes se dispersam. E é uma forma de purga também. Pelo menos para mim, é isto tudo. :)
      Boa noite, Legionário

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  2. Ler-te foi como se estivesse a olhar para dentro da minha cabeça. Tenho as mesmas perguntas e as mesmas dúvidas. Mas sabes, já não acredito num caminho a dois infelizmente. Já encontrei o amor da minha vida... a única diferença é que não é meu. E esse amor que nos aquece o sangue e não sai nunca vai arruinar-me para sempre. Por isso percebo-te. Percebo a necessidade de sentir para existir.
    Deixo-te um beijo
    :)

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    1. Tenho demasiadas perguntas, sempre, desde sempre. E nem todas as respostas me convencem, me param o carrossel que às vezes se aloja dentro daquilo que devera ser a minha cabeça, preciso de perceber. Ainda que aceite muita coisa sem entender, para ficar resolvido em mim, para poder poisar o pensamento ou a dúvida em sossego, tenho de entender, ou andarei sempre em busca de lá chegar.
      Quanto ao sentir, não há volta a dar(-me), ou sinto com intensidade e vida no sentir, ou há alguma paixão no que se faz e vive, ou é como se fosse morta, um autómato que faz dos dias tarefas a cumprir e nada mais.
      De resto, talvez já esteja menos céptica, ou então já nenhuma das hipóteses (ficar sozinha ou encontrar outro alguém que me diga algo, ainda que não como o que já senti) me provoque grande angústia. O que provocaria angústia era conformar-me com alguma coisa em que eu soubesse que não poderia ser feliz, prefiro estar livre e deixar os dias voar soltos nos ventos e destinos por cruzar. É preferível uma incerteza, uma página em branco, do que uma condenação certa à infelicidade. Assim pode ser que um dia a vida, sei lá, resolva brincar comigo e com o que julgo saber, e me surpreenda ;) me arranque os pés do chão, mesmo que só um bocadinho :)))
      beijo

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