segunda-feira, 29 de janeiro de 2018


(...)
sim, cria comigo esse silêncio
que nos faz nus e em nós acende
o lume das árvores de fruto.

diz-me que há ainda versos por escrever,
que sobra no mundo um dizer ainda puro.

Vasco Gato




[sim, diz-me que ainda há no mundo o puro desejo
de ser silêncio a dois, indizível e indivisível, 
de sermos nós despidos de tudo que não seja nudez, 
diz-me que te falta sentir falta de tudo que não nos é, 
e que é ruído o que não nos ouvimos de dentro
 diz-me que o calor que a pele fundiu e reteve
 ainda sonha, a cada migalha de silêncio
semeada nos barulhos do mundo.
fala-me da memória do silêncio
que mal alimenta a pele]

2 comentários:

  1. Sentir falta é diferente de sentir saudade. A saudade bate, agonia, estremece. A falta congela, chora, entristece. A saudade é a certeza que a pessoa vai voltar. A falta, é o querer ter de volta, mas saber que "não vai ter"...

    Bom dia, Vi:)

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    1. Sim, saudade é diferente de sentir falta do outro, na verdade acho que saudade é o vazio que se sente por alguém ter consigo parte de nós, a que não chegamos por ele não estar connosco, não estar perto, não ser perto. Agora já a parte de saudade ser a certeza que a pessoa vai voltar, não sei se é, embora no que me toca, empiricamente tens razão no que a vivos diz respeito... mas a saudade dos que foram sem retorno? É saudade, não há como não ser, Legionário.
      Mas a falta que falo é a falta de se sentir falta do resto do mundo. Às vezes está-se tão bem nesse mundo próprio que se criou, com linguagem íntima e vocabulário só nosso, que nos esquecemos do resto do mundo, não lhe sentimos a falta - há falta de sentir falta. E sabes, por muito bem que isso saiba - que sabe, tão, mas tão bem - depois começamos a pensar que não há forma de transportar o nosso mundo para o mundo real e de todos, como se esse mundo paralelo não pudesse ser tangente à realidade...
      Bom dia, Legionário.

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