terça-feira, 16 de janeiro de 2018


[foto @tarasovm]

Havia alguma coisa que queria muito dizer-lhe, ou perguntar-lhe, mas não sei sequer o quê. Havia só, quando vim embora, uma sensação de urgência que queimava. Perguntei-me o que lhe quereria dizer ou perguntar, e não achei resposta, só aquela sensação me corroía o por dentro. Como uma ferida que se quer pressionar ou uma impressão que se quer arranhar violentamente, quase de raiva, sei lá. Como se quisesse tirar qualquer coisa de dentro de mim, arrancá-la, mas não soubesse o quê, e nada me saísse - como um grito que a garganta não me cedeu, nem a voz condescendeu. Vim assim o caminho até casa, nesta loucura incógnita a que se procura o nome, a cara, o corpo para agarrar, mas onde se encontram apenas fantasmas. Talvez eu quisesse uma resposta qualquer, mas a que pergunta? Que resposta importante, verdadeiramente importante, me falta? Nenhuma. Talvez o meu desespero tenha sido esse. Não me falta saber nada. Falta-me dizê-lo. Gritá-lo.

8 comentários:

  1. E o grito fica ali, mais uma vez calado, entre a pele e a alma.

    Bom dia querida Vi!
    Nanda

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    1. "Entre a pele e a alma"... é mesmo isso.
      Como uma urgência que não consegui resgatar em palavras para as poder gritar - sensação estranha essa, como naqueles sonhos que gritas e o som não sai.
      Boa noite, nanda :)

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  2. Às vezes engolimos as palavras e nem sabemos bem porquê. Acumulam-se e deixam-nos sem ar. É desesperante sim.
    Bom dia Olvido :9

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    1. Asfixiante, sim.
      Querer gritar e não saber o quê, para nos livrarmos do que nos sufoca...
      Boa noite, JI

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  3. "Hei-de por força dizer o que me parece, visto que sou eu." Fernando Pessoa - Livro do Desassossego

    Bom dia, Vi:)

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    1. Será que quando nos faltam as palavras, não sabemos quem somos?
      Boa noite, Legionário

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  4. Às vezes, vale mais gritá-lo do que guardá-lo. As palavras reprimidas podem envenenar-nos.

    Beijos, Olvido :)

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    1. E quando nos faltam as palavras, quando não sabemos dizer o mal que nos queima por dentro, sem nome?
      Não o queremos guardar, só não o conseguimos expulsar.
      Beijo, Maria

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