domingo, 26 de janeiro de 2020


A dar um mimo extra para minorar os ciúmes da mais pequenita. Os bichos são como nos em tanta coisa... nunca a deixo subir para os sofás ou para a cama, mas ela devagarinho e com jeito, vai pondo uma pata, depois outra, sorrateiramente em pouco tempo está toda empoleirada no fofinho. Hoje deixei, precisa de mimo e eu também :) 
Quase com o livro seguinte a acabar e sem marcas nas páginas, estive a passar pelo que deixei marcado neste do “em tudo havia beleza” que acabei há umas duas semanas, mas ainda pára aqui na minha mesinha de cabeceira... fiquei a pensar numa passagem que marquei, e reli agora, que me faz pensar na culpa e no que eu já tinha pensado sobre a culpa, as suas várias facetas e ferramentas. De como é usada como instrumento tantas vezes - de manipulação, fazendo sentir culpa para levar ao fim que alguém procura; outras vezes como desculpa, para se fazer ou não fazer algo, porque depois a culpa nos consome, ou antes, não sei, é coisa a que normalmente não me dedico... Mas para mim uma novidade, que me apercebi há algum tempo... é usar a culpa como escudo, como prova de boa formação do espírito, naquela lógica de: se eu sinto culpa é porque não sou má pessoa, senão ser-me-ia indiferente, mas como não é, e sinto culpa por isto ou aquilo que magoou ou fez mal a alguém, portanto não posso ser má pessoa. É cómodo, é até lógico se usado só uma vez, já repetidamente não serve; nem mesmo alegar que não foi vontade própria, que se foi arrastado para esta ou aquela situação, que não queria e não faria, mas não conseguiu evitar, impor, contrariar.... mas até por isso se sente culpa, esgrimindo-a mais uma vez. A culpa é pau para toda a obra, e uma moeda de troca - sinto culpa recebo imunidade contra acusação de maldade pura, ou indiferença, ou o que for que na altura der jeito... Mas a culpa que é verdadeira, e não um instrumento, muda os comportamentos, não se cai no mesmo, talvez porque a culpa leve ao arrependimento e esse - mais uma vez - só existe genuinamente se levar a mudança de comportamentos, ou a, pelo menos, não se repetirem esses. 
Este livro trouxe-me uma nova perspectiva da culpa, que eu nunca tinha pensado: quando nos defendem, quando alguém nos defende e protege livra-nos da culpa, está a dizer-nos que a culpa não é nossa, que o problema não somos nós, que não devemos sentir culpa, que não temos por que sentir essa culpa, que estamos sim, do lado da razão. E é verdade, e eu nunca tinha pensado nisto. Nos últimos anos habituei-me por um lado, a encarar a culpa, irónica e paradoxalmente, como desculpa, e por outro a percebê-la como instrumento de manipulação. Muitas vezes defendi que nem em tudo haveria culpa, mas como a culpa não era real, não surtiu qualquer efeito, e de todas as vezes que a culpa era justificada por conscientemente se magoar alguém, nunca isso também mudou... também aí não era culpa. Acho que a culpa mais pesada e mais vincada é aquela de que não se fala, não se pronuncia quase por respeito, a que se carrega, mas não lhe sabemos o nome ou o rosto. A verdadeira culpa, penso muitas vezes que é a que só se torna nítida e consciente postumamente aos assuntos que a geraram.






4 comentários:

  1. Fico-me pela ternura da tua menina de quatro patas, que tem mimo e o dá genuinamente. Ai se eu pudesse tava tudo a dormir comigo[risos]
    Preguiça boa de domingo

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    1. :))) preguiça muito boa! E ela é uma ternura, sim, mesmo que meia doida, mas assim também tem muito mais piada, a pitada certa de sal ;))

      Bom domingo, Perséfone

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  2. Olá Vi, depois de ver a foto da Pintarolas e ler o o teu Post, é domingo e deixo-te um forte abraço sem culpa nenhuma;)

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    1. Retorno esse abraço e desejo-te um óptimo domingo, sem culpas, que a mim é mal que não me costuma assistir, como os arrependimentos, também raramente os conjugo na minha vida. Não sinto culpa nenhuma, por exemplo, pela preguiça em que me arrasto nos fins de semana, mesmo tendo coisas para fazer... tudo tem seu tempo... ;)

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