sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

[imagem @jean_jullien]

Hoje foi o dia em que quase me tornei uma “cats person”. Ou tive pena de não o ser há muito tempo. Ao fim dum dia de trabalho e de umas voltas voltas de carro pela cidade ao sabor de um ou dois cigarros, chego, quase nove horas, a casa. Vinha bem disposta, as voltas acompanhadas de boa música deixaram-me bem disposta, vinha com fome, e se soubesse assobiar se calhar viria a assobiar escadas acima. Entro em casa, oiço uns barulhos estranhos, vou direita à zona de guerra, perdão à cozinha, mal abro a porta instala-se o silêncio - o que é logo mau sinal - dou uns passos e os meus olhos pousam no caos... o saco de ração de tamanho mega familiar espalhado pelo chão, o caixote de cartão onde estava, roído até ao osso, o saco em género carnavalesco feito em tiras, e quatro focinhos, muito bem postos, alinhados, sentadinhos e calados com o ar solene de quem está prestes a ouvir um concerto de orquestra.... e eu só penso que aquelas criaturas não têm conserto, pestes autênticas, terroristas sem fé, destruidores por convicção. Tudo. Com ar de quem não mexeu uma palha, uns santos. Até me esqueci da fome, tiro a espécie de “cancela” que separa aquele espaço, da cozinha propriamente dita, e é vê-los fugir por entre os meus pés... Depois  de maldizer a minha vida de trás para a frente e da frente para trás, e reposta a ordem mínima, mando os sacanas irem de volta para o sítio deles.... qual quê, ficaram surdos. Olham para todas as paredes,  ou enfiam o focinho na barriga própria ou alheia, o que estiver mais à mão, e nada, não é nada comeles. Danada até ao tutano,  dou  dois berros e desato a dar palmadas naqueles traseiros... mas os sacanas são rápidos, e agora a modos que tenho dois trambolhos em vez de dedos, porque um fugiu-me e bati na esquina dum armário da cozinha, e devo dizer que não, não estava a ser meiga com os moços... irra que dor. E pronto, durante uma boa meia hora não consegui dobrar os dedos, o indicador e o do meio, aquele que tantas vezes apetece usar para indicar apreço, enquanto ficavam negros e inchados... uma maravilha. Em vez de comer estive com ervilhas na mão, congeladas, pois. E os sacanas já refastelados na sua caminha a olhar para mim com aquele ar de quem devia ter apanhado, mas não apanhou. A sério, eu devia era gostar de gatos, ou assim. Irra... 

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