sexta-feira, 24 de agosto de 2018



Lembro-me de vir para esta varanda desde miúda, quinze, dezasseis anos, e de sempre ver este tecto almofadado. É raro ver o manto negro da noite aqui, há sempre um tecto de algodão doce a cobrir a escuridão, a escondê-la, talvez a protegê-la. Se calhar dos olhares, se calhar da vida faz-de-conta que se entretem aqui em baixo. É uma vista recortada entre paredes de casas que se amontoam, como quem se junta à conversa. E há esta casa pequenina, que, daqui donde se recostam os meus olhos, agora me parece quase de bonecas, e que tem uma janela iluminada aberta para um véu de noite que não é escuridão, nem noite. Quantas coisas vemos que são o que são?
Fico aqui dentro do meu casaco, olho para istoe  não sei que idade tem o meu olhar, mesmo que saiba quantos anos contam que vêem o mundo, mas quantos dos que viram contam? Se calhar todos, todos contam sempre, e contam alguma coisa, mas às vezes, muitas, não sei o quê.

6 comentários:

  1. “Nós não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos.” Talmude

    Essa frase é extremamente profunda e o seu cerne está ligado ao conhecimento. Quanto mais conhecimento nós vamos adquirindo, mais a nossa visão se expande e mais o nosso ser vai se tornando luminoso.
    Porém, é preciso esclarecer algo de importante. Não se trata de conhecimento puramente académico ou técnico, estou a falar de auto-conhecimento, este que nos torna mais humanos, mais solidários, mais amorosos, mais gentis, mais desapegados, mais compassivos etc.

    Bom dia, Vi:)

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    1. :)) essa frase é das minhas preferidas, mas tenho-a como sendo da Anaïs Nin, de qualquer forma, para mim, a frase diz que nós vemos as coisas como somos porque o nosso olhar é como filtramos o mundo de acordo com o que somos... não sei se com o que se vai vivendo nos tornamos mais solidários ou mais gentis, parece-me que depende do que se vai vivendo e moldando o nosso olhar...
      Boa tarde, Legionário

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  2. Um coito.
    Em pequenos, gritamos Coitooooooooooooooo !, para que nele nos saibam intocáveis.
    Em grandes, faz-se nele, silêncio mudo, que os grandes, se nos sabem nele, não só não o honram, como nos intuem mais vulneráveis a desonras de nós.
    Partilha gentil esta, Olvido.
    Olhei olhares nela.
    Obrigado.

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    1. "olhei olhares nela" - gostei :)
      obrigada eu, Nome sem direito.

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    2. Não me agradeça o que sinto, Olvido.
      Não é mérito nem favor.
      Noite bonita para si.

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