domingo, 12 de agosto de 2018

[foto @juliansell.fotografie]

“(...) tal como o desejo surge entre pessoas de uma forma inconsciente e desfigurada, quando alguém, pela primeira vez, quer separar do mundo o corpo e a alma de outra pessoa, para a possuir de uma maneira exclusiva. É esse o sentido do amor e da amizade. A amizade deles era tão séria e silenciosa, como todos os grandes sentimentos que duram uma vida inteira. E tal como todos os grandes sentimentos, continha também um certo pudor e sentimento de culpa. Uma pessoa não pode apropriar-se impunemente de outra, separando-a das restantes.”

Sándor Márai, in As velas ardem até ao fim

Há pessoas que separamos do mundo, que separamos de todas as restantes, a essas damos mais, damos tudo, mas por serem tão diferentes, aos nossos olhos, de tudo, para nós tão melhores que todos os outros, que acho que também exigimos mais, muito mais. 
E não, não nos apropriamos de alguém impunemente, de alguma forma fica-nos para sempre, paradoxalmente porque nos demos, porque demos tudo. Até nos sobrar apenas vazio.

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