(...) “a aproximação, do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo e que se vai aproximar.”
Do prefácio de A Paixão segundo G.H., Clarice Lispector
Como o que poderia, ou deveria, unir afastou mais, atravessou o seu oposto - leio estas linhas e é o que percebo, o que penso e retiro, constato, afinal. As pessoas de alma já formada são as que sabem que tudo chega devagar e às vezes pelo lado oposto. A minha será formada? E qual é o meu lado oposto? Por onde me chego pelo meu avesso? Por onde me vejo pelo que não sou?
(Clarice Lispector, in A paixão segundo G.H.)
“A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prémio.” - suponho que é verdade, a desistência é prémio quando se fez tudo, quando se construiu, quando se chegou lá e depois de tudo isso, de saber que fizemos tudo, desistimos, não porque fomos vencidos, mas por escolha. Por poder escolher desistir, por ter ganho o direito de desistir. Por ter construído, feito tudo e, também, exactamente por sabê-lo. O prémio é talvez desistir sem (ter de) desconstruir. Talvez. Saber que se conseguiu e deixar ir, qualquer outra forma será sempre o reconhecimento de um falhanço, de uma derrota, se calhar, de termos simplesmente sido vencidos, ou de não termos, sequer, verdadeiramente tentado. Talvez.
Esta não era a página do fim, mas é muito melhor que a do fim. Acabei.
Nao percebo como dizem ser o melhor livro dela... ou se calhar percebo, porque acho que muitas vezes quando não se percebem as coisas dizem que elas são muito boas, como que insinuando que só os muito elevados as podem compreender e, logo, gostar... então muita gente diz adorar e ser muito bom - à laia do que acontece com muita “arte moderna” -, e eu queria mesmo era perceber como, e se, o entenderam - e já agora, se mo podiam explicar, dizer o que concluíram. Porque há partes boas sim, muito boas, passagens extraordinárias, não nego, mas o melhor livro dela? Há partes que me são incompreensíveis (o problema é meu certamente, também não o nego, não terei capacidades suficientes) e outras onde acho que se vai contradizendo ao longo do livro. Talvez seja propositado porque é a descrição duma epifania tão longa como uma viagem de várias fases, talvez se vá contradizendo, aprendendo, mudando de ideias... mas torna as coisas confusas e sem lógica ou fio condutor. E eu sem lógica sinto-me perdida, talvez. Há partes do livro em que dei comigo a pensar que ela estava numa trip só dela... e das duras.