segunda-feira, 18 de junho de 2018


Os sentimentos são paisagens áridas, imprecisas, tremeluzentes, desconfortáveis.
Dito isto, poderia fechar a porta, correr as grades, trancar o cadeado, dar a loja por encerrada, sem previsões de reabertura.
Fechados lá dentro, os sentimentos, bem, seria como se não existissem.
Talvez morressem, se desidratassem, se pulverizassem, talvez deles restasse apenas uma mancha de gordura no chão.
Em qualquer caso, emudeceriam. Ou não seriam escutados, o que vem a dar ao mesmo.
Nunca contemplei esta hipótese por mais de cinco minutos – certamente, nem tanto.
Não consigo. Não sei. Julgo que, no fundo, é o que menos quero. E que essa é a raiz da minha resistência. Crónica e aguda.
Os sentimentos são onde sei viver, onde me sinto menos morto.
Os sentimentos sou eu.
Os melhores.
Os piores.
O beijo.
A bala.
(Ou vice-versa).

Todos os nomes da intranquilidade.


Miguel Martins
[sentir será sempre uma intranquilidade, amar será sempre um risco.
Faltar-nos um afecto, um sorriso, um toque, como quem asfixia e enlouquece. Faltar-nos o amanhã pela ausência de futuro. E nessa prisão que a falta se torna, que nos tolhe, que nos reduz, que nos paralisa o de dentro, respiramos de fora, falamos por fora, vivemos fora. Mas não gritamos senão para dentro dessa prisão onde tudo se emudece e nunca se cala.
e é esse silêncio que cada um é. 
o que guardas no teu? 
sabes do que falo? 
sequer?]

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