[foto @ rafafans]
"A maioria da gente é outra gente.
Os seus pensamentos são as opiniões alheias,
suas vidas uma imitação, suas paixões uma imitação."
Os seus pensamentos são as opiniões alheias,
suas vidas uma imitação, suas paixões uma imitação."
Ela tem, desde sempre, um aguçado instinto de sobrevivência, sabe o que quer, como quer. O que ela faz com alma é fingir o que não é, isso brota-lhe das entranhas como a lava fervente dum vulcão em erupção. Só essa força é genuína, é real, é quente, é viva - tudo resto é uma máscara fria, calculada, desalmada. Até o calor, que se quer humano, é mero teatro, até o beijo é encenado, até o amor é só uma história lamechas que não entende, mas imita. Imita, imita até à exaustão, a lamechice. Onde ela põe a alma toda é na representação calculada do que nunca será a quente, do que nunca foi, ou será, sem máscara. Do que não é. Talvez gostasse de ser, talvez inveje quem é, mas ela não o é. Nunca será. Então observa, copia, imita.
Não sabe ser senão o horizonte onde quer chegar, como quer que a vejam, a admirem. O horizonte, aquela linha imaginária que é só distância e à distância, perto não é nada, sequer é linha ou horizonte, é apenas chão rasteiro que se deixa pisar.
Os olhos faíscam-lhe de gáudio enquanto julga pisar aqueles que um dia ousaram olhá-la de frente - ousadia com que nunca olha o espelho -, apenas para vê-la baixar os olhos, temerosos do confronto com o que nunca será. O riso queima apenas de escárnio - de longe, só de longe, que a cobardia ronda sempre perto -, sentindo-se maior, poderosa, insuflada; o fogo está-lhe nos pés quando, espezinhando quem pensa não conseguir igualar, os faz de atalhos dos seus desígnios, sem olhar a meios ou princípios, pois ela é uma mulher de fins numa dança pretensamente graciosa, mas apenas pretensiosa. Há quem, de olhos desavisados, se desfaça em elogios, uns enganados, outros ocos e tantos apenas encenados também, numa imitação de admiração.
Ela só finge com alma e dedicação o que na alma não tem. Finge a alma que não tem, e é a única coisa que genuinamente sabe fazer: fingir, imitar, repetir o alheio, copiar. Ela não é o caminho, é a força de chegar, não importa como. E chega vazia, como nunca deixou de ser. Mas aplaudida, tantas vezes.
[Wilde e as suas frases fabulosas e intemporais...]
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