quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

[foto @ rafafans]

"A maioria da gente é outra gente.
Os seus pensamentos são as opiniões alheias,
suas vidas uma imitação, suas paixões uma imitação."

Ela tem, desde sempre, um aguçado instinto de sobrevivência, sabe o que quer, como quer. O que ela faz com alma é fingir o que não é, isso brota-lhe das entranhas como a lava fervente dum vulcão em erupção. Só essa força é genuína, é real, é quente, é viva - tudo resto é uma máscara fria, calculada, desalmada. Até o calor, que se quer humano, é mero teatro, até o beijo é encenado, até o amor é só uma história lamechas que não entende, mas imita. Imita, imita até à exaustão, a lamechice. Onde ela põe a alma toda é na representação calculada do que nunca será a quente, do que nunca foi, ou será, sem máscara. Do que não é. Talvez gostasse de ser, talvez inveje quem é, mas ela não o é. Nunca será. Então observa, copia, imita.
Não sabe ser senão o horizonte onde quer chegar, como quer que a vejam, a admirem. O horizonte, aquela linha imaginária que é só distância e à distância, perto não é nada, sequer é linha ou horizonte, é apenas chão rasteiro que se deixa pisar.
Os olhos faíscam-lhe de gáudio enquanto julga pisar aqueles que um dia ousaram olhá-la de frente - ousadia com que nunca olha o espelho -, apenas para vê-la baixar os olhos, temerosos do confronto com o que nunca será. O riso queima apenas de escárnio - de longe, só de longe, que a cobardia ronda sempre perto -, sentindo-se maior, poderosa, insuflada; o fogo está-lhe nos pés quando, espezinhando quem pensa não conseguir igualar, os faz de atalhos dos seus desígnios, sem olhar a meios ou princípios, pois ela é uma mulher de fins numa dança pretensamente graciosa, mas apenas pretensiosa. Há quem, de olhos desavisados, se desfaça em elogios, uns enganados, outros ocos e tantos apenas encenados também, numa imitação de admiração.
Ela só finge com alma e dedicação o que na alma não tem. Finge a alma que não tem, e é a única coisa que genuinamente sabe fazer: fingir, imitar, repetir o alheio, copiar. Ela não é o caminho, é a força de chegar, não importa como. E chega vazia, como nunca deixou de ser. Mas aplaudida, tantas vezes.

[Wilde e as suas frases fabulosas e intemporais...]

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