terça-feira, 6 de fevereiro de 2018



Esquece-te. Esquece-te da vida que tiveste. Esquece-te do amor que sentiste. Esquece-te de cada sonho desfeito. Esquece-te que te esfarelaram o verbo amar e, em troca, te muniram de descrença para esgrimir os verbos de cada dia. Esquece-te de tudo, para que, um dia sem saberes como, possas aprender tudo de novo como se nunca tivesses esquecido nada. Como se nunca tivesse havido nada que pudesse não ser esquecido para lembrar. 
Esquece. Para que em ti possa nascer essa morte fecunda.

Poiso aqui estas letras e parte de mim já morreu, enterrada com estas palavras neste sítio sem chão, onde hão-de florescer os meus pés.


[de como o olhar gelado dos campos aquecem as palavras que se nos derretem nos dedos]

9 comentários:

  1. Rebolar no lodo não é a melhor forma de nos lavarmos... É mais fácil esquecer do que se pensa. A mente é fluída e maleável. ;)

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    1. Bem verdade, Patife, mas nunca achei fácil esquecer, a não ser aquilo que não queria esquecer... adorava ter melhor memória e conseguir decorar coisas, mas não. teria tido bem melhores notas a algumas coisas... Já o que queria esquecer persegue-me... bahhh

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  2. Tão bonito Olvido. Quem sabe um dia consiga esquecer para aprender tudo de novo.
    :)

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    1. Tu vais aprender tudo de novo... pela primeira vez, com a mesma surpresa e assombro, com o chão a faltar-te debaixo dos pés. E eu também, vais ver ;))
      Bom dia, JI :))

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  3. Gostava tanto de ter sido eu a escrever esse texto. Sinto-o tanto, mas nunca o conseguiria escrever da forma como o fizeste. Adorei.

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    1. :)) ... ouvir que alguém gostaria de ter escrito e sente muito algo que se tenha escrito é um verdadeiro elogio.
      Obrigada, Paper Cut

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    2. Eu é que agradeço as tuas palavras plenas de essência.

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  4. Esperança? Procuro sempre qualquer vislumbre de esperança... Portanto, miúda, o que eu quero saber é se estas palavras foram de hoje, e serão de amanhã, e depois de amanhã, e depois depois de amanhã.

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    1. Estas palavras são de hoje, sim, miúda - escritas aos bocados, frases soltas, nas notas do telemóvel a caminho do trabalho :) de hoje, e de muitos dias, naqueles em que há um qualquer vislumbre de vontade de amanhã. Não sei se serão esperança, acho que são só desejos, que se se realizarem, então há esperança. Nunca sei quando aparecem, vêm sem data marcada, em pézinhos de lã, como as palavras, e os momentos, em que sozinhos, sorrimos pequenos impossíveis.

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