quarta-feira, 12 de julho de 2017




Será que os olhos esgotam a beleza? Como se a sorvessem do prato estendido na paisagem? 
Será que depois de muito saborearem aquela beleza, todos os dias ali à mão do olhar, enjoam? Deixam de se nutrir dela? Deixa de ser bela? 
Será que um dia, se esta beleza me inundar os olhos todos os dias, eu vou deixar de sentir o dourado das searas a pentear-me os sentidos?... e as sombras das árvores já não vão parecer fugir-lhes dos pés, esticando-se lânguidas e vagarosas - como duram os momentos saborosos -, rastejando-se, sempre rasas ao horizonte, no final do dia como quem se abandona devagar para mergulhar na essência da noite, tão absorvente?
Será que o olhar se habitua à beleza como à luz ou à escuridão?... até mal dar por ela, até já não saber que é bela? 
Será que estamos condenados ao cansaço de tudo o que gostamos? Será que um dia olhamos e já não vemos nada que nos acorde a alma, que nos desperte vida, como um dia se sentiu olhando exactamente a mesma paisagem?
Não quero. Quero apaixonar-me por alguma coisa a vida inteira. Alguma coisa que na minha vida possa ser paixão inteira.

6 comentários:

  1. "Quero apaixonar-me por alguma coisa a vida inteira. Alguma coisa que na minha vida possa ser paixão inteira."

    Pois é Vi, eu também faço minhas essas tuas palavras, no entanto hoje o meu estado de espírito nem com o sol maravilhoso fica mais animado, melhores dias virão...:(

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    1. Então?? Hoje está esse desconsolo todo? Eu também tenho disso, normalmente refugio-me no riso dos outros que gosto de provocar e espero que o meu chegue... nesses dias melhores que sim, hão-de chegar. Já os avisto, Legionário, olha bem o horizonte que avistarás os teus também ;)

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  2. Que mania esta a de "chamuscar" os obscuros esplendores. :)

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    1. ... há dias assim, Impontual, em que nos chamuscamos de obscuridades - e às vezes isso é bom ;)

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  3. É não deixar o olhar cair na rotina. Isso acontece, às vezes. Então temos que o refrescar, chamá-lo de novo ao sonho, recordar-lhe de como se deve contemplar e tudo se renovará. :)

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    1. Se calhar o que acontece é o inverso, a rotina surge quando o olhar deixa de reparar nas pequenas e cintilantes diferenças que fazem a beleza dos dias e aí embaça-se e vê apenas rotina. É quando deixamos de distinguir a beleza que a rotina surge, parece-me. Desfazer este processo é, talvez, apaixonarmo-nos de novo, mas por que é que havemos de nos desapaixonar?

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