quarta-feira, 5 de julho de 2017


[foto @kat_in_nyc]


A lua está grande e meia amarelada, baixa, quase a bater nas luzes quentes da cidade alta. Ouve-se uma mota ruidosa ao fundo da avenida e pessoas na conversa no Avenida. Aqui, vejo e oiço o que os olhos e ouvidos me dão e, como com tudo o resto, nada faço com isso, sou um corpo condutor de coisas do mundo - passam por mim e não ficam  (ainda que algumas me fiquem... dou por mim a sussurrar-me entre os dedos das palavras que aqui calo). 
Onde está a minha voz e o meu grito no meio do ruíudo surdo do mundo? Onde está o grito se a alma já não fala nem cala, se desaprendeu a respirar na asfixia das noites trémulas de luar? Onde está a luz, se os olhos já não vêem e a lua não grita na pele?... Até o cigarro já se calou.


7 comentários:

  1. está tudo em ti. estou a ver-te, ouvir-te, sentir-te :)
    bom dia, Olvido

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    1. :)
      oh ana, sabes, eu leio-te e acho que sim, que tu me entendes, ou entenderias muitos dos meus sussurros de silêncio que até ficam por dizer.
      bom dia, ana

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  2. Respostas
    1. Sabes agora por essa pergunta dei por mim a tentar exemplificar ou traduzir a sensação e veio-me uma expressão à boca e uma imagem à cabeça. A imagem é aquele sonho típico em que estás fechado em algum lado - no meu caso, não sei porquê, é um elevador - e começas a gritar, mas nenhum som te sai da boca. Tu desesperas porque queres gritar e não consegues, e sabes que assim ninguém dará por ti... é aflitivo e desesperante, quereres chamar alguém, como se a tua vida dependesse disso, e não poderes.
      A expressão que me surgiu é estranha de explicar mas eu sei exactamente o estado de espírito que carrega, porque já muitas vezes pairei nesse limbo "por favor tirem-me daqui, mas não me ponham em lado nenhum"... estás a ver a fisionomia e carácter desses filhos da mãe que são os gritos mudos?... os meus são muito aparentados destes, outros vêm, em palavras, camuflados ;)
      bom dia, Legionário

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    2. Gritos mudos - Xutos e Pontapés

      Neons vazios num excesso de consumo
      Derramam cores pelas pedras do passeio
      A cidade passa por nós adormecida
      Esgotam-se as drogas p'ra sarar a grande ferida

      Gritos mudos chamando a atenção
      P'ra vida que se joga sem nenhuma razão

      E o coração aperta-se e o estômago sobe à boca
      Aquecem-nos os ouvidos com uma canção rouca
      E o perigo é grande e a tensão enorme
      Afinam-se os nervos até que tudo acorde

      Gritos mudos chamando a atenção
      P'ra vida que se joga sem nenhuma razão

      E a noite avança, e esgotam-se as forças
      Secam como o vinho que enchia as taças
      E pára-se o carro num baldio qualquer
      E juntam-se as bocas até morrer

      Gritos mudos chamando a atenção
      P'ra vida que se joga com toda a razão

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    3. Eia... olha que dos Xutos o meu repertório é parco, e desta não me lembro... mas afinal há mais gente a gritar assim :)

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