domingo, 25 de abril de 2021

 

[imagem @virgola_ ]

Há uns anos,  não sei quantos, lembro-me de  - também num dia murcho como este, de luz baça, fina e sem força - receber estas palavras "hoje é dia para uma revolução". Lembro-me de achar piada à frase, à alusão oportuna, e de responder qualquer coisa como "qualquer dia é um bom dia para uma revolução que se precisa e quer, é preciso é querer", o que eu acho que é verdade, e mostrava, também,  que na verdade não acreditava na frase recebida, ainda que não me tenha esquecido da frase, nem do dia - pelos vistos e pelo menos - até hoje. O dia de alguma forma ficou, mas apenas como mais um marco de nada mudar, e de sabermos tanta coisa, ainda antes de termos a certeza de que as sabemos há muito.
Cruzei-me com esta imagem, este dia é também celebrado em Itália, como o dia da liberdade, da libertação (no caso, em 1945 do fascismo nazista), e se para nós no ouvido ficou a vila morena e os cravos vermelhos nos mancham, hoje ainda, os olhos, em Itália é o Bella, ciao (que o pessoal agora conhece aparentemente - não sei que nunca vi - por causa da La Casa de Papel) e as papoilas, como o sangue derramado pelos campos numa flor selvagem que inunda esta época (e a que a canção alude), e que deixou tanta gente, por tanto tempo ainda, nos braços daqueles que por lá morreram. Há coisas assim, abraços que não se desfazem com o vazio; guerras que não terminam com o baixar das armas, com o silêncio da paz. Tenho a dizer que entre cravos e papoilas nem tenho de pensar, mas fico a pensar que a revolução não é só num dia, nem um dia só, é o que depois se faz com ela, o que se atinge, o que nasce, o que cresce, o que morreu e como acarinhamos o que ganhámos. E acho que há muito a pensar e repensar do ponto a que chegámos e de quantas revoluções ainda precisamos, enquanto pessoas e enquanto cidadãos. Eu precisarei de muitas, mas não hoje, hoje o dia não está para revoluções (também este ano, afinal).

2 comentários:

  1. Olá Vi, estas tuas palavras " a revolução não é só num dia, nem um dia só, é o que depois se faz com ela, o que se atinge, o que nasce, o que cresce, o que morreu e como acarinhamos o que ganhámos. E acho que há muito a pensar e repensar do ponto a que chegámos e de quantas revoluções ainda precisamos, enquanto pessoas e enquanto cidadãos." dizem muito;)

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    1. Olá, Legionário... pois acho que estamos a precisar de mais umas revoluções...

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