E a meio da tarde de trabalho, já com fome e cheia de vontade de mandar tudo para o sumiço, apareceu-me com um prato de panquecas, empilhadas com banana e chocolate quente. E eu fiquei quase sem reacção, sem saber bem o que dizer, sabendo bem o que me queria dizer. E ali, ali mesmo, naquele momento, senti-a minha, tão minha, como às vezes sinto, raras mas como raios que me atingem até à espinha do ser. E é uma sensação estranha, misto de tantas coisas. Lembrou-me alguém que conheci, parece-me agora que já há muito tempo, quase irreconhecível, quase de outra vida, de tão longínquo me parecer. E estranhamente tive medo, medo por ela, talvez pela maneira como sente as coisas, como gosta, como mostra, os gestos doces e ternos que tem, sem ter ainda de mergulhar fundo em si, sem ter de atravessar camadas e camadas, tão à flor da pele lhe estão. Tão desprotegidos ainda. É arisca, é, tenho de a obrigar a, às vezes, deixar-me dar-lhe mimo, mas depois tem estas coisas, que não são ditas e que me deixam sem palavras, porque me sentiu triste, zangada com a vida, desalentada, deu-me um abraço inteiro, tão inteiro que só se podem dar por dentro de um gesto, como certas palavras só se dizem no silêncio de alguns olhares.
[O único problema foi mesmo que comi o prato todo, e agora que não ando a fazer o meu exercício diário à conta das minhas cruzes não deixarem e só me apetecer - também por isso - vociferar como gente destravada, está a pesar-me na consciência e não só... aparte disso, foi das coisas mais bonitas que me aconteceu nos últimos tempos.]
Abraços inteiros cheios de amor dentro fazem bem à alma. Esse medo por ela aperta o coração mas estarás sempre por perto para amparar as possíveis quedas.
ResponderEliminarBeijos Olvido :)
:) sim, mas estar por perto não evita que se magoe, e estes gestos debaixo da armadura que se vai tecendo, e não nos faz bem isso.
EliminarBeijo para ti, JI
quando, do nada, nos surpreendem com pormenores inimagináveis mas que nos sabem por um pedacinho de céu, não há sombra que nos deva passar pela mente.
ResponderEliminaro ideal é saborear com a alma e neste caso com a boca também :)
saboreia o momento. agora em memória.
Sim, soube-me (tudo) muito bem ;) e há gestos que ficam na memória, alguns mesmo difíceis de apagar
EliminarNão há nada como saborear algo de que gostemos;)
ResponderEliminarPois é Vi, o confinamento deixou muita gente em modo de enchimento:D
Verdade, eu não ganhei peso mas sinto que me mexo muito pouco, nem caminhadas agora... mas pronto sempre adocei a alma, e no caminho a boca ;)
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