Bem visto!!
E a meio da tarde de trabalho, já com fome e cheia de vontade de mandar tudo para o sumiço, apareceu-me com um prato de panquecas, empilhadas com banana e chocolate quente. E eu fiquei quase sem reacção, sem saber bem o que dizer, sabendo bem o que me queria dizer. E ali, ali mesmo, naquele momento, senti-a minha, tão minha, como às vezes sinto, raras mas como raios que me atingem até à espinha do ser. E é uma sensação estranha, misto de tantas coisas. Lembrou-me alguém que conheci, parece-me agora que já há muito tempo, quase irreconhecível, quase de outra vida, de tão longínquo me parecer. E estranhamente tive medo, medo por ela, talvez pela maneira como sente as coisas, como gosta, como mostra, os gestos doces e ternos que tem, sem ter ainda de mergulhar fundo em si, sem ter de atravessar camadas e camadas, tão à flor da pele lhe estão. Tão desprotegidos ainda. É arisca, é, tenho de a obrigar a, às vezes, deixar-me dar-lhe mimo, mas depois tem estas coisas, que não são ditas e que me deixam sem palavras, porque me sentiu triste, zangada com a vida, desalentada, deu-me um abraço inteiro, tão inteiro que só se podem dar por dentro de um gesto, como certas palavras só se dizem no silêncio de alguns olhares.
[O único problema foi mesmo que comi o prato todo, e agora que não ando a fazer o meu exercício diário à conta das minhas cruzes não deixarem e só me apetecer - também por isso - vociferar como gente destravada, está a pesar-me na consciência e não só... aparte disso, foi das coisas mais bonitas que me aconteceu nos últimos tempos.]
Ahahah muito bom, até o olhar de comprometido dele :)))
Cá em casa só se fosse amiga :DD, o único moçoilo mora uns andares acima, ainda que, obviamente, seja visita diária, parte da casa mesmo, e adore colo mas não tenha a noção do próprio tamanho... de qualquer maneira, aqui os canídeos não entram na cama... pelo menos enquanto não me trouxerem o respectivo pequeno-almoço (meu, claro), depois poderei ponderar ;)
Bom Domingo :)
É querer muito, mas menos valerá a pena?
Está uma noite óptima, oiço aqui e ali pingos a caírem atrasados da chuva, de resto só silêncio e noite e palavras por desenovelar. Nem sempre estamos para nos desenovelar, às vezes parece confortável deixar novelo como está, não se mexe não se apertam nós sem sabermos. Também é certo que não os desfazemos, mas se estiverem quietos e sossegados no seu novelo, imóvel num qualquer canto, não damos por eles, não os vemos não os sentimos não nos lembramos que estão lá para um dia os tratarmos, se quisermos fazer alguma coisa da linha. E aqui, penso que queremos sempre, mas não a qualquer custo. E é por isso que há cantos escondidos com emaranhados escancarados. Hoje não quero tratar dos meus, mas não sei porquê estão escancarados à beira da alma que se esconde atrás deste silêncio.
[e antes de vir para o degrau da varanda estava a ouvir isto:
Primeiro café fora de casa há muito tempo, já não sei quanto. Mas tive de sair de casa e aproveitei para fazer algumas coisas que precisava, uma delas passou por, nos entretantos, pagar sententa cêntimos por um café. E sabe-me bem, mas não sei se me sabe melhor do que o que eu tomo na minha varanda, e sai mais barato. Só não vejo gente, falo com pessoas a quem vejo (apenas) os olhos, e troco sorrisos só porque sim, porque as pessoas parecem gratas por poderem servir um café, e nós por podermos pedi-lo e pagá-lo.
[imagem @iuliastration]
Começar o dia, sem saber como começar, ou por onde... café ou ioga? Há quem ache que não tem de ser uma escolha :))
... não é o meu caso, aqui café vem depois. Primeiro tem é de aparecer a vontade de sair da cama... essa ainda não compareceu. Aguardamos pacientemente. Tentamos impacientar a espera pondo em filinha indiana tudo o que queremos fazer hoje. Mas verdade seja dita, não sei se está a ajudar ou desajudar, há uma vontade imensa de fechar os olhos e não querer saber de nada, esconder o dia debaixo dos cobertores, dentro do conforto quente. Mas sei que quanto mais jogar este jogo mais rápido terá de ser o dia, com tanta coisa dentro... e não apetece.
[imagem @jesuso_ortiz]
... o que me apetecia hoje é a sensação que esta imagem me deu quando me apareceu à frente. Apetecia-me uma coisa simples, um tempo simples, sem ponteiros ou pressas, ou obrigações, ou stresses ou.. ou... sei lá, se calhar apetecia-me ser pequenitates outra vez, e ter colo, e sorriso de flor e leveza de azul-céu... apetecia-me achar os dias de sol doces e livres como campos de papoilas para os olhos... apeteciam-me coisas esquisitas. E margaridas. Adoro margaridas, já vos tinha dito? Hoje não ;))
E, então, quando assim é, o que distingue as atitudes é a esperança e a coragem. E parece-me que não há uma sem a outra. Para ter esperança há que ter coragem de pelo menos arriscar sem ter porquê... ou quando o porquê é só não estarmos bem, por querer-se mais ou diferente, esperando melhor. Coragem só tem quem tem esperança de ser possível, de por poucas que sejam as hipóteses, a mera possibilidade nos agigantar. A possibilidade e a vontade de a concretizar. No fundo, em quase tudo, o que distingue as pessoas é o que fazem, sem terem de o fazer, e por que o fazem.
Às vezes o pior que nos fazemos é boicotarmo-nos sem dar conta, é termos um medo curioso e paradoxal do sucesso, da felicidade... como se duvidássemos se o merecemos ou não, e de tão habituados à sua falta, a ideia torna-se quase uma mudança que não saberíamos gerir, incómoda. Uma ideia que assusta mais que encanta, e de que fugimos pelas sombras do inconsciente, dizendo correr atrás.
Acho que é um bom mote [ a frase do Bukowski, isto é] para um novo mês. E até acho que não é mentira :) cuidado com as que vos contam... e ainda mais com as que contamos a nós mesmos, e essas não têm dia marcado...
bom dia!