sábado, 13 de fevereiro de 2021


contento-me com coisas
pequenas que de repente se tornam
muito grandes onde nem sei
de mim nem quero

Bénédict Houart


É tão bom não saber de nós, e mais ainda não querer... leio isto, e é o que sinto. Não saber de mim é não me pensar, não me duvidar, não me olhar ou procurar. E isso soa-me a paz, a tranquilidade, a sossego de alma. Uma calma estúpida, sim, por vir de não ver, não me confrontar,  e não de ver que gosta do que se vê - é uma diferença abissal, em tudo, perspectiva de vida, exigência própria, cobardia, carácter.
Mas esta sensação que nos toma de pequenas coisas que nos conquistam inteiros por momentos, nos abarcam e fecham num momento, em que tudo o resto se resume a nada é um oásis no deserto dos dias. E aí, nesses ínfimos momentos de infinitude, não sabemos de nós, mas sentimo-nos inteiros (talvez por isso), e então não pensamos em querer mais nada. Para quê? 
Há coisas em que mais, estraga :) 

... quem nos dera pequenos infinitos todos os dias.

(e ao escrever isto lembrei-me dos pequenos absurdos de O'Neill. é que precisamos todos, e às vezes chega para salvar).

2 comentários:

  1. Sabes, acho que todos nós temos pequenos infinitos todos os dias, de uma maneira ou de outra e também nós somos infinitos... ficamos nos outros e os outros ficam em nós, corremos todos uns nos outros e isso torna-nos infinitos.

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    1. Isso torna-nos muitas vezes é com demasiada bagagem, demasiado peso, demasiada vida para uma vida só, e é por isso que nestes momentos, em que não há mais nada, que tudo se esvai e nos deixa sós e completos, sem mais nada, sem mais ninguém, só existimos nós e basta, são sublimes e preciosos. Mas tão raros...

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