sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Acordei a correr, e cedo. E quase me esqueci. Lembrei-me agora, de chávena na mão a olhar lá para fora. Não sei porquê. Talvez porque tenha sido na rua, e eu não sabendo onde, todas as ruas se parecem. Ou porque na minha cabeça não me terá parecido longe de casa - e isto poderá ter um qualquer significado oculto, será? Mas, olhando para a rua em frente, que desce, lembrei-me, essa rua onde nos encontrámos não descia. Eu ia sozinha, o passo um pouco acelerado, quase com ar decidido como me dizem ter. Sentia a brisa fria na cara, ou isto já serei eu a romantizar, porque algo me faz lembrar, ou dá a sensação, que não era verão, não era um dia animado de pouca roupa. Não dei por mais ninguém na rua,  não sei de onde aparece ele, ou por que artes, não sei, caiu de pára-quedas duma nuvem, sabe Deus. Só sei que de repente aparece à minha frente e me espeta um beijo. Eu sei, é esquisito, eu também achei, mas só depois de acordar, no sonho foi só inesperado e como que surgido do vazio (curiosas as palavras que me surgem enquanto escrevo isto...). Infelizmente também não foi reconhecível, não sei quem era, nao faço ideia, não o conheceria, não sei se completo desconhecido ou nao - era um personagem sem rosto definido. Uma coisa que ele tinha bem definido era o beijo, de alta definição e bom, tanto, que se calhar demorei mais a reagir por isso mesmo... aquela fracção de segundo que o cérebro pensa... mas que é que eu estou a fazer? E afasto-o a tempo do beijo roubado não me roubar de mim, e bruta “então? mas que é isto???” Ou qualquer coisa do género. E tenho pena, tanta pena, não consigo lembrar-me o que respondeu, não sei a frase que usou... não sei se não me lembro ou se nos sonhos às vezes o que é dito é irrelevante, ou melhor, as palavras são, mas não a mensagem. E nos sonhos, independentemente das palavras a mensagem é entendida, e é aí que os sonhos falam- na maneira como nos fazem sentir no que se passa naquela pequena curta-metragem, por inacreditável ou inverosímil que nos pareça o argumento depois de despertos, porque durante os sonhos nada nos parece impossível. Por isso, talvez a frase que terá sido dita seja irrelevante ou talvez não seja possível a minha própria cabeça fabricá-la ou impediria a minha reacção... o que ele disse surpreendeu-me, e de tal forma, que me desatei numa gargalhada. Achei-lhe genuinamente piada. Tinha tido uma saída fantástica, com piada, inteligente, e eu rendi-me, gostei. E foi com esta sensação que saí a correr da cama, já atrasada. Ele não era giro, ou pelo menos isso não ficou registado, não tinha um rosto definido, não há registo que tivesse olhado para ele e tido qualquer reacção, não. A única reacção foi pelo que disse, pela maneira como o disse, pela audácia de me roubar, assim, um beijo, e aquele ar gaiato e sem idade que certos sorrisos têm, mas carregados com a força intensa de certos gestos, na certeza de alguma coisa. E este conjunto, esta coisa embrulhada num beijo ficou-me até agora, depois da reunião fechada, do pequeno almoço atrasado, e do resto da vida a correr paralela num rio qualquer que chegará ao destino. Eu, agora, estou ali, no sonho de que acordei.

E se, de repente, um desconhecido te roubar um beijo, isso é... um sonho :))

( e se realmente se parecesse com este moço aqui de cima, realmente, teria parecido (ainda) mais um sonho)

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