domingo, 10 de janeiro de 2021

Há coisas que fazemos sem saber porquê, outras sabemos exactamente por que as fazemos, outras só descobrimos realmente por que as fizemos depois, quando olhamos para trás. Temos de tudo. Eu sei de todas as razões que a razão tinha para fazer algumas coisas, e sei que fiz outras sem razões nenhumas da razão. Todas me fizeram sentido, mas doem mais as razões da razão que as outras. Não doi menos saber da razão, pelo contrário. Às vezes o que não queremos sobrepõe-se ao que queremos, ou gostaríamos, e por isso somos obrigados a fazer de tudo para afastar o que queremos, o que queríamos e nos apetecia sem quaisquer razões da razão, e fazemo-lo com todas as forças que encontrámos - a força da razão, que nos protege, ou deveria. E ainda que se saiba, de plena consciência, que é o que tinha de ser feito, a razão não consola a distância que assegurámos do que realmente queríamos. Só a distância nos protege do medo de ela não existir, mesmo que por momentos. Então fazemos, dizemos e magoamos, como e o que for preciso, para termos garantia que não chegamos sequer perto da tentação de esquecer a razão, mesmo que por momentos. Mantemos a distância que não queremos para afastar o medo dum querer sem razão. E quanto mais medo de querer, mais a alimentamos, num paradoxo que não dá paz nem sustento. Nem ausência, vezes demais.

6 comentários:

  1. E há distâncias que convém manter, em várias situações.
    Bom domingo, Vi:)

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  2. E que tal mandar a razão às favas, uma vez por outra? :) Lutar tanto, contra os sentidos e agir segundo a razão, desgasta e cansa... Nascemos para sermos felizes... às vezes, é importante darmos tréguas a nós próprios.
    Uma beijoca e um sorriso.

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    1. Mandei todas as vezes a razão às favas, até perceber que realmente não podia ser, que não basta gostar muito e genuinamente, que vivi muito - e tão bem - muita coisa tão boa (e vivi demais coisas muito más também), que dei tudo o que tinha para dar, amei com o amor todo... mas que se do outro lado não há a mesma vontade e nenhuma atitude (dizer só não conta..), falham-nos as certezas que deviam ser espelhadas, que não deviam ser duvidadas, e então, por muito que se queira e goste, merecemos mais. Se somos só nós a achar que merecemos mais e doutra maneira, então a razão tem definitivamente razão!... e pronto, o não querer mais o que não nos chega sobrepõe-se, obriga-nos a isso, e temos de estabelecer distâncias de segurança, patrulhadas pela razão e asseguradas com todos os meios possíveis.
      Dar tréguas a nós próprios, às vezes, é combater com unhas e dentes o que não nos faz bem, e querer o que realmente queremos e não menos... mas bolas, é muito melhor quando é apenas mandar a razão às favas!! isso garanto-te!! ;))

      beijo, Esquilinha

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    2. Calo-me... Deixo-te apenas um xi apertadinho e um sorriso sincero. És uma pessoa bonita. Obrigada por esta partilha tão tua.

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    3. Às vezes ponho-me a escrever e não dou conta do quanto escrevo - ultimamente tem-me acontecido várias vezes, fizeste-me reparar agora - ... embarco e esqueço-me, e ao reler o que escrevi apercebo-me que realmente estão aqui coisas muito minhas, muito dentro. Falta-me travão, ou não ser tão transparente :))
      ... mas olha, não te cales que gosto de ver-te, ou melhor ler-te, por aqui ;)
      Beijo para ti, e obrigada

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