domingo, 27 de junho de 2021

 


Na cozinha tenho umas colunas para ipod que há pouco pus a tocar enquanto preparava o meu brunch. Ao fim de semana há sempre mais música. A música vem com tempo para nós ou nem a ouvimos, ou melhor, não valerá muito a pena ouvir porque não nos chega dentro. Estava eu entre arranjar a fruta, bater os ovos, tropeçar nos cães, torrar o pão e oiço esta música que me faz lembrar dum sonho que tive há uns dias e que ainda não me largou. Acho que me quer dizer alguma coisa, mas ainda não sei o quê. Estava ao balcão dum café, dum bar, não sei, o sol entrava pela porta e janelas atrás de mim, o ambiente era claro, primaveril talvez. Eu estaria à espera de ser atendida, à espera de alguma coisa, não havia ninguém do lado de lá do balcão. Aliás, não havia mais ninguém em lado nenhum, aparentemente. Ao meu lado esquerdo surge alguém, eu olho e fico uns segundos sem reacção. Então eu faço a coisa mais espantosa - ou que me pareceu, ao acordar - encosto-me e aninho-me no peito dele, o meu ouvido encostado ao seu coração, a minha mão pousada, eu a pensar no meio disto, (ou talvez quando acordei??) naquele meu sítio naquele peito, e se  existiu, mas acho que só ouvi o meu próprio coração. Mas senti-me em casa, como se aquilo fosse suficiente, não, como se aquilo fosse tudo. Tudo o que eu precisava. Não disse nada, ele também não, o silêncio deixou-se ficar uns momentos, sem pressa ou constrangimentos. Era só o tempo a passar, sem ruídos, comodamente, não entre nós, mas connosco. E então afastei-me, sorri, não havia raiva, nem cobrança, havia como que uma aceitação do que me era incompreensível, uma aceitação de não haver respostas, uma aceitação da injustiça que sempre me dedicou, estiquei-me e dei um beijo nos seus olhos fechados, enquanto emoldurava o rosto com as minhas mãos. Olhei-o, e curiosamente, eu não deixava de sorrir, virei-me e vim-me embora. 
Este sonho mexeu comigo, e talvez por isso me tenha lembrado dele várias vezes nos últimos dias. Há, para mim, três pontos no sonho incontornáveis: a sensação de casa, de pertença de protecção, de segurança, de ninho; o vir-me embora, e com um sorriso na alma, sem necessidade de dizer nada; e a total ausência de emoções do outro lado, não sei se para mostrar que sempre foi assim, ou que não é realmente importante?? não sei. Sei que contei este sonho ao Miúdo e ele saiu-se com uma resposta que até hoje ando a dar a volta, pegou na parte onde lhe disse que me sentia só bem, e em casa, que aquilo era tudo e: " amor é isso. estás tramada... o que descreveste nesse sonho é amor. Em estado puro. É a mais bonita capacidade que mostras ao mundo". E eu discordo dele, acho que para ser amor não basta um amar, é preciso sentir-se amado, senão é amor fraternal, o que lhe quiserem chamar, mas não é o amor de uma vida. Que eu acredito que não existe um, tem de existir mais, é preciso é sorte para tropeçar nele duas vezes... o que sim é difícil. Mas bom se fosse fácil não era para mim, já se sabe. 
Hoje pus-me também a pensar se este sonho não surge numa altura que me quer mostrar que eu quero sentir-me em casa, e porque estou com medo de o querer. De arriscar com alguém, de acreditar, sei lá. Porque querer alguma coisa é poder ter de lidar com depois não a poder ter, com a recusa, conscientemente. E não sei se o quero, e não sei se vale a pena o risco... mas acho que há muito que não tenho esta vontade, que não estou neste ponto. E depois o sonho. Talvez queira aninhar-me e sentir-me outra vez em casa, sentir-me bem, só isso.

4 comentários:

  1. Não se ama sozinha ou sozinho. Amor sem respeito, sem esforço ou sem empatia não é nada. Aprendi da pior maneira. Duas vezes. Não sei se haverá terceira.
    Esse sonho pode ser o teu subconsciente a tentar dizer te alguma coisa.
    E depois, tu és a tua casa. Podes é abrir a porta para outros entrarem :)
    Beijos Olvido

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    1. Eu sou a minha casa, não tenho dúvidas disso… mas sentirmo-nos em casa com alguém, é como poder estar como estando sozinho mas com alguém que nunca nos faz sentir sozinhos. É estranho mas não sei explicar de outra forma.
      Quanto ao amor, podemos amar sozinhos, mas essa relação nunca será realmente Amor, aquele que fica, porque esse precisa de amar e ser amado, senão será uma ideia não uma relação. É essa a minha discussão com o Miúdo agora :) ele não concorda comigo.
      Beijo, JI

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  2. "E não sei se o quero, e não sei se vale a pena o risco... mas acho que há muito que não tenho esta vontade, que não estou neste ponto. E depois o sonho. Talvez queira aninhar-me e sentir-me outra vez em casa, sentir-me bem, só isso."

    Olá Vi, depois de ler este teu post ficaram na minha mente estas tuas palavras atrás, porque não digo eu...relaxares muito e pensares primeiro o nosso "eu" interior;)

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    1. :))) agora estou a relaxar no jardim perto de casa com a pintarolas a correr como se amanhã não tivesse patas :D
      Talvez eu pense demais, sim e sonhe demais também…
      Bom domingo, Legionário :)

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