quarta-feira, 9 de junho de 2021


 [foto @hana_photphrapher11]

Último dia de férias e não fiz nadinha... e não, não é desse doce nada com tom doce e prazeroso, é só nada. Ontem passei a tarde a trabalhar urgências em frente ao computador, hoje é urgente que me dedique a outras lides. Começar com uma massagem daqui a pouco,  tratar de mim um tico, depois tratar de mais umas coisas para a casa, a seguir talvez ir sonhar com o meu pai e mostrar-lhe a cartografia do sossego que me vai dar uma trabalheira, e me dá medo também... Ontem à noite cansei os olhos de tanto sonhar, horas a procurar um pedaço de Alentejo onde eu faça parte do meu caminho. Nada. Encontrei no Algarve, uma coisa muito a minha cara, aliás duas, que serviam para se viver de sonhos, paisagem e água, verde azul e sol, não horizontes dourados a perder de vista, e muito longe para o que queria... mas ainda assim muito a minha cara. Hoje vou continuar a procurar. Algum dia tenho de decidir se quero realmente viver do olhar, da paz e do sossego, mas longe das gentes, algumas que gosto, algumas que gosto mesmo muito. Talvez haja um meio termo, ainda não descobri, e não descobri se me assiste esse modo do “meio termo” de qualquer coisa... e no caso de não assistir, a distância não importa não é? Até porque a única distância maior e mais difícil mede-se em saudades, não em quilómetros, e não sei se será possível ter saudades inundada de beleza e paz e sossego. E uma solidão que não fere. As verdadeiras saudades são aquelas onde não há estradas a percorrer para as matar. E nos entretantos é de um projecto destes que o meu pai precisa, sugeri-lhe fisioterapia para as dores que tem sentido, destroçam-me as respostas que me dá, a que não sei o que dizer - eu que me acusam de ter sempre, sempre, resposta - sinto que o que mais lhe doi não é o corpo, é o sentir que ele lhe foge, que a vida se esgota sem encontrar razão para a contrariar.  E isso não é dele. Um projecto destes talvez lhe traga mais uns anos de vida, e às vezes penso que se não trouxer, sem ele, nunca começarei essa viagem, onde espero aguardar-me no fim da linha, com esboços riscados, corrigidos, escritos em margens imaginadas, gatafunhos sem sentido pelo caminho daquilo que será a perfeita cartografia do sonho que se debate com a vida, com os medos e com a inércia. É o companheiro perfeito para cartas de marear terrenos e lavrar sonhos. Não terei outro. Escrevo isto, e ferem-me saudades que ainda não chegaram , mas que já sinto.

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