Desligo as luzes como quem foi dormir, fecho a luz do dia em mim. Mando a bicha para a cama, ela vai e volta passado quase nada, enrola-se nas sombras do chão. Acendo um cigarro no cadeirão com vista para a chuva, os pés dentro das pantufas contra o vidro, e os olhos de mim para dentro. Olho como quem dorme, inconsciente de mim, consciente em sonhos. Oiço o batuque da chuva lá fora. Há coisas que não mudam. Quantas vezes já fumei este cigarro, aqui, assim?
Dou-me conta que continuo a perguntar-me tudo e nada, coisas demais sempre, e que cada vez mais quero que me dêem menos respostas. As nossas perguntas definem-nos e as respostas a que chegarmos também. Talvez haja, para cada um, uma resposta. Por isso não quero respostas de ninguém, ou cada vez menos. Quero as minhas perguntas até às minhas respostas, ou, talvez, aceitar apenas perguntar-me. E ir conversando com a chuva, falando-me no silêncio das palavras. E ir fumando os mesmos cigarros, nas noites que são as mesmas do que nunca foram. O tempo só existe se olharmos para trás.
O tempo é a dimensão da mudança. Sem percepção da mudança, não há e não pode haver percepção do tempo. E as diferentes atitudes para com o tempo são corolários de diferentes atitudes para com a mudança.
ResponderEliminarBom dia Vi, e aproveita bem o Teu tempo;)
Sim, não há tempo se não houver movimento, passarmos dum ponto para outro, haver consciência do que se alterou, no imutável não há tempo. E mesmo quando parece que nada mudou, se olharmos bem vemos as mudanças ao longo do tempo, olhamos para trás e percebemos.
EliminarSim, esse é o grande segredo aproveitar o tempo que temos...
Que faças da tua noite, uma boa noite, Legionário;)
Somos donos das nossas respostas, e as outras pessoas são meros espectadores consentidos.
ResponderEliminarE com sentidos despertos pela doçura literal deste derradeiro suspiro do ano, espreito a janela das tuas palavras. Entre uma janela e a outra, sorvo um gole de Poeira 2015, pouso Bukowski sobre a manta salpicada com o piscar de uma Árvore Natalícia que brota antecipadamente nesta casa... E agasalho-me na docemente familiar melancolia das tuas letras.
Brindo-te.
A melancolia é uma das minhas cores da estação, desta em especial.
EliminarAproveita essa Poeira em bons brindes :)
O presente parece não ter tempo. O futuro ainda não o tem. É mesmo no passado que o reconhecemos.
ResponderEliminarNinguém viveu o que viveste... Por isso, concordo contigo (mais uma vez!) só tu podes responder às tuas perguntas. E se não houver resposta, está respondido!
Eu tenho um problema com as palavras. Parece que não as esgoto. Sejam ditas, sejam pensadas, as minhas palavras, perguntas, dúvidas, questões... Parecem não ter fim. Mas isso não significa que queira que me respondam. E eu ouço e digo "sim". À medida que o tempo passa vou adoptando cada vez mais a sabedoria da água. Ela não discute com os obstáculos. Simplesmente contorna-os!
Beijinhos Vi. Hoje sem chuva
Concordo contigo, é isso mesmo que sinto, só sou pouco de água, o meu elemento é o fogo, talvez por isso tenho dificuldades em contornar...
EliminarBeijo para ti, Mafy