Não estava muito sol, e entre dar um salto à praia ou escolher uma esplanada para acabar O Velho e o Mar, ganhou o último e eu poupei kms. Já na esplanada, o mar fez-me falta - ver o mar em vez do rio. Desfolhei-o nas páginas do livro, pelo boca do Velho pela mão do Hemingway. O velho que venceu todos os obstáculos, que fez todo o caminho, que esgotou todos os seus esforços e resistiu até ao fim para pescar o sonho. Uma luta renhida e de respeito, onde a dignidade é a espinha do caracter (como é sempre). Depois viu-o, a caminho do porto, ser sucessivamente abocanhado, reduzido, dilacerado, até nada restar senão a espinha. A do peixe e dele.
Às vezes o que nos derrota é o que vem a seguir ao sonho. Não é lutar por ele quando se encontra. É mantê-lo depois de pescado, ou não tendo acontecido, ter de voltar ao mar um e outro, e outro dia, sem saber sequer se o mar o guarda, ainda.
Talvez a praia tenha dia amanhã, não sei, e gosto de não saber, de ir ao sabor da vontade do momento. Talvez a praia, os pés na areia, o sol na pele, combinem com o próximo livro. Já o comecei.