sábado, 31 de agosto de 2019


Não estava muito sol, e entre dar um salto à praia ou escolher uma esplanada para acabar O Velho e o Mar, ganhou o último e eu poupei kms. Já na esplanada, o mar fez-me falta - ver o mar em vez do rio. Desfolhei-o nas páginas do livro, pelo boca do Velho pela mão do Hemingway. O velho que venceu todos os obstáculos, que fez todo o caminho, que esgotou todos os seus esforços e resistiu até ao fim para pescar o sonho. Uma luta renhida e de respeito, onde a dignidade é a espinha do caracter (como é sempre).  Depois viu-o, a caminho do porto, ser sucessivamente abocanhado, reduzido, dilacerado, até nada restar senão a espinha. A do peixe e dele. 
Às vezes o que nos derrota é o que vem a seguir ao sonho. Não é lutar por ele quando se encontra. É mantê-lo depois de pescado, ou não tendo acontecido, ter de voltar ao mar um e outro, e outro dia, sem saber sequer se o mar o guarda, ainda. 
Talvez a praia tenha dia amanhã, não sei, e gosto de não saber, de ir ao sabor da vontade do momento. Talvez a praia, os pés na areia, o sol na pele, combinem com o próximo livro. Já o comecei.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

... confiem em mim, é um boa política. Para toda a gente.
(dizer-se para confiarem em nós é que nem sempre é...)

Entrei na caixa de mail errada como quem entra na sala errada e se depara com o que não quer. Fiquei a olhar para a resposta em rascunho por enviar datada de alguns meses. Os mesmos da decisão de não responder, mas também não apagar, sabe-se lá porquê esta ultima parte... Tal como quem entrou numa sala que não era o destino procurado, mas está em sua casa, numa divisão não muito visitada, dá-se o caso de mexermos nalgumas coisas que estão em cima da mesa, esquecidas, ou apenas ali abandonadas da última vez que a divisão ainda era parte viva da casa, altura em que não era ainda museu.  Antes de decidirmos fazer daquela sala museu das coisas que, a certo ponto, não quisemos mais, que recusámos, mas que existiram. Demais até. Reli o mail, pouco curto, num misto incerto de sensações, e nenhumas boas... E digo-vos só: não sei porque não acerto no Euromilhões, tudo o que lá está escrito, assim aconteceu. Tudo como previ. Tudo o que chegou a ser dito foi esquecido, tudo o que foi prometido foi mentira, toda a confiança que me foi afiançada foi deitada por terra, mentida sem problemas, tudo que foi avisado ignorado foi, para que o resultado fosse nada resultar dali. Resta-me a dúvida da intencionalidade de tudo, dúvida de que já não quero, sequer, aclaração. Só me fico aqui a pensar se tenho também a chave vencedora, o bilhete premiado, no bolso, e só não sai porque não jogo... será? Pelo menos naquele bolso sou muito rica, e sábia. Mas só naquele bolso, do que nunca foi jogado, daquilo em que nunca me apostei inteira, ali, onde acerto a previsão de que nada de bom me sairia dali. 
[imagem @diego_cusano]


Enfiar a cabeça em café, como outros em ideias feitas.
Submergir o resto do corpo em trabalho, como (quase) todos que se fogem.
Acordar dos sonhos estranhos que me protagonizam as horas de olhos fechados. 
Esquecer a inundação de casa há noites atrás, em que quase morri. Penso que procurava-se concluir que acordei a tempo (suponho eu, ou o sonho, já não sei), que a água que subia não me afogou, mas que era estranho, e tão assustador, caminhar sem ver o chão, mais estranho ainda era perceber que só dentro da minha casa as cheias tinham chegado. Só comigo a vida estava zangada. Do lado de lá da porta, tudo como dantes. Há desastres que só nos acontecem a nós, submergem o nosso chão, mas não morremos. Hoje o sonho foi estranho. Talvez eu tenha mesmo acordado a tempo. O peito em que descansei a cabeça quando a cabeça dormia, nunca teve nada meu dentro, e eu nunca tive um peito para encostar e descansar, para me aninhar sem precisar de defesas, mesmo que parecesse que sim. Era o tempo de todas as defesas, e eu despojada, sem saber. Agora até os sonhos concordam, contam-me o mesmo com várias histórias, e que já perdi muito, que tenho mesmo de ter acordado a tempo. Depois de acordar, o café ajuda. E agora tomo o meu sem açúcar. 

domingo, 25 de agosto de 2019

Começou a relampejar e o céu estava lindo, não me apetecia ir para casa, dei uma volta maior para esticar a viagem, mas não me estiquei muito. Cheguei a casa e não consegui apanhar nenhum raio. Raios! Mas subi dois andares e apanhei este céu que nem a fotografia consegue descrever as cores... que maravilha...


[Rui Caeiro, in O sangue a ranger nas curvas apertadas do coração (via @opoemaensinaacair]

E quando o perdemos, deixamos, outra vez, de ser um corpo inteiro. A alma descose-se da pele pelos abismos do desencontro, e sabemos menos do que antes, menos do que alguma vez soubemos. Do mundo, de nós, dos outros: essa amálgama disforme e contínua, que é tudo o que não somos, nem entendemos.
Um dia, um dia encontramos um corpo que somos e não somos, e quando deixamos de o ser perdemos tudo o que não soubemos saber, e queremos esquecer. Teremos de aprendermo-nos de novo, como se acreditássemos. Como se não soubéssemos menos do que alguma vez soubemos. Como se não soubéssemos que na vida não há norte, nem bússola, nem o caminho traçado nas estrelas, nem retorno. Que nada tem uma razão, e isso é a razão de tudo... Se ainda acreditarmos que um encontro não é um desencontro fora de tempo, que o tempo apanha. Sempre. 
Sempre?

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

[foto @nurukimondo1]

Quando precisarem de uma massagem ao ego, dum upgrade na auto-estima... de serem enganados descaradamente, pronto, ponham umas fotos no fakebook. É que digo-vos, não importa a fotografia, se está bem ou mal, se estão apresentáveis ou parecem precisar urgentemente de remodelações, estando horríveis ou  giras de parar o trânsito... os comentários são sempre que estao o máximo! Verdadeiras belezas estonteantes. Chegamos a duvidar se estão a ver a mesma fotografia que eu... ou se estão a gozar desenfreadamente e sem vergonha.
Às vezes vejo comentários desses e só me pergunto como é possível dizerem-se tais barbaridades... que eu agradeço, porque farto-me de rir, confesso. Mas também me pergunto se os visados acreditarão... mas olha, uma coisa é certa, lá que sabe bem ler quando somos nós, sabe. Tenho de começar a usar para massagem ao ego, a sério...
O pior é conseguir acreditar... e pelo que vejo em muitos casos só se for para rir... mas há dias em que é mesmo isso que se precisa :D



[foto @_georgemayer]

Viste-me,
eu olhei-te
sem saber se te via
Sem saber quem via

Como quem ouve um eco
Que retorna
O que nunca foi dito

Senti
Que não te senti
Como um novo sentido
Sem ti

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

[Nuno Moura]

... um beijo. 
Um só beijo.
Uma calamidade.
Uma viagem sem regresso.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

[foto @woodycampbell]

Chapéus há muitos, seu palerma!!!
Pois... mas o verdadeiro palerma enfia o barrete!!
(ou quase, às vezes ainda se vai a tempo, mas só quando se quer, 
e não se é verdadeiramente palerma (quero acreditar)...
e não se gosta de barretes, vá. há quem goste, pois, não duvidem. 
e também há gente estúpida, isso também, mas isso ninguém duvida.)

Isto a modos que resume o (meu) estado de espírito....
... deve ser do sono bem aproveitado :)))

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

[Jorge Roque, in Telhados de Vidro, Ed. Averno (não era esta foto que estava nesta publicação, mas cruzei-me com este texto e não resisti... gostei das palavras, muito.)]

Palavras: letras, sons, significados.
Ritmos e simetrias,
Melhores se assimétricas,
com ou sem métricas
bem medidas
prefiro cem vezes sem

Finas superficies de profundos abismos
escondidos nas fendas dos sentidos
Escondem tanto quanto mostram,
enganam tanto quanto confessam:
quem lê, vê como lê;
quem vê, lê como vê.

Refúgio dos que não podem ser protegidos
desespero dos que não podem ser entendidos

Companhia dos que querem estar sós.

Palavras,
como a pele sobre ferida de alma.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019


... impressionante como chamamos casa a um sítio onde dormimos durante meia dúzia de noites. Dizemos "vamos para casa"... e há uma certa estranheza neste hábito. Não é "casa", casa é mais do que um tecto onde guardamos as nossas coisas e dormimos durante uns dias. Ou devia ser, mas parece que não distinguimos. É tudo a mesma coisa. E quando regressamos deste sítio a que chamamos "casa" também dizemos que "vamos para casa". Então, tudo é casa...? há não só estranheza, mas promiscuidade neste pensamento. E não é verdade, nem tudo é casa. Casa é onde estamos, onde vamos descansar, onde procuramos refúgio, protecção, e para onde queremos voltar - é o nosso regresso, isso é verdade. Mas é mais do que isso, é onde somos nós, onde nos sentimos parte, onde as coisas nos espelham, onde o ambiente tem tudo a ver connosco, onde tudo é familiar, até o cheiro, único, nosso... A questão é se levamos isso connosco para onde vamos, e fazemos casa de cada sítio onde ficamos, mesmo que só enquanto lá estamos? Então o que é ser "casa" realmente? É de onde não temos vontade de sair (a não ser para, temporariamente, chamar casa a outro tecto) ou o sítio para onde temos sempre a certeza de poder voltar? 

Depois há quem diga que há pessoas que são "casa"... lembro-me, sem saber porquê. Os pensamentos são como as cerejas, e piores que as conversas. Há coisas que pensamos e conseguimos não dizer, só não conseguimos é impedir de nos lembrar, ainda que percebamos que lembramos, com o tempo, de formas diferentes. Suponho que isso é aprender, ganhar perspectiva, amadurecer - crescer. Só não sei se as lembranças através dos pensamentos, se nós. Ou se há, sequer, diferença.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

As paredes cheias de amor e as ruas sem alguém que ame. 
Nos muros da cidade faltam sombras de gente.
Faltam conversas mornas e lentas, como as horas daqui.
Talvez a Marta tenha partido, ou talvez o amor se tenha partido,
talvez dos cacos nasça o vazio das ruas.
Talvez o vazio profundo escorra das paredes escritas à superfície.
Só as palavras continuam a vestir os muros frios.
As palavras não aquecem.
Talvez a Marta saiba.

[faz-me perguntar o que aconteceu à Marta e a quem escreveu há nove anos este achado que foi um encontro do que queria. E queria mesmo? Nove anos pode ser tempo demais ou pode saber a muito pouco, umá coisa é certa, é tempo suficiente para não se repintar paredes...]

sábado, 10 de agosto de 2019



Aqui deitada na rede, com um copo de vinho branco no chão, sinto o vento calmo arrepiar-me a pele e eriçar as estrelas. Deixo-me aqui ficar e dou por mim a pensar em Penélope - à noite desfaz o que à luz do dia alimenta. Penso se dou por mim a deflagrar o próprio inconsciente, não sei quanto tempo depois. Muito, talvez. Quão longa vai a mortalha? O que a noite me traz, eu devolvo com repúdio à luz racional do dia, à clareza da mente, à verdade do tempo. Quanto mais sentir a noite, mais a luz da razão queima o dia, mais afasto o que sei que não quero. E sei-o bem... Ainda assim, quando a escuridão se derrama no céu e as estrelas fazem a lua abrir-se, a cabeça fecha-se, adormece, ou esquece, ou sonha, ou nada disto e tudo o resto que nem sei imaginar. Não sei dizer de certa magia que me embala e enfeitiça, que me leva pela mão e me cala, que solta o que de mim não sei prender. Espírito noctívago este que se nega a ser-me fiel, ou talvez infiel. Sei que a manhã, o raiar pleno do dia, fecha os olhos às estrelas, desce as pálpebras da lua que tudo vê, e desfaz o feitiço, enquanto eu desfaço tudo o que a noite me desfez: faço - afasto de mim tudo, o que não me estando próximo nem distante, trago em mim como se conseguisse repudiar. E consigo. Tenho números como norte e falta de tempo como ponte. Só o Alentejo me atraiçoa por se negar a trair-me. Não haverá noites mais puras... mas o dia traz com força tudo outra vez, eu sei. Até logo.
Gosto de sítios onde posso deixar as portas abertas, para onde o olhar pode  fugir. Em que a luz entra, os sons passeiam-se pelos cantos do silêncio, onde estamos dentro sem deixar de estar fora,  em que há uma sensação de parte de nós estar na brisa que passa. E que nada mais passa que não seja dali. Tudo pertence, nós pertencemos. Não há gente, não há vozes que nos sejam estranhas. Há uma vida só nossa, ou parece, onde o tempo nos brinca nos dedos, ora os paralisa ora desenham coisas indizíveis no ar, ou na pele, ou só em sonhos. 
As portas só se fecham à noite por causa das melgas assassinas, ou quando não há alma em casa. 

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Habituava-me a isto...
Sossego, sol, pequeno almoço ao ar livre (podiam era levar as abelhas que são ligeiramente chatas) e com coisinhas boas, é só desembrulhar e tirar do cesto: compotas, sumo, croissants dos bons, dos que comprei durante muito tempo lá para casa (lembro-me agora que há muito não compro, e penso isto sem mais, não há dores reflexas aqui e percebo isso...)... 
... mas o que eu precisava durante muito tempo era disto... ahhhh precisava.
Ontem até encontrei o monte perfeito para comprar... num ponto mais alto, perto e com vista para a água, e com ruínas para reconstruir, longe da estrada o problema seriam acessos, electricidade e saneamento, mas nada impossível... a não ser o seu grande defeito.... já estava comprado por quem não vende... enfim as vezes as coisas são perfeitas mas só à primeira (ou segunda, vá) vista...

Bom dia!

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

E agora? Qual o senhor que se segue?
Uma pessoa vem uns poucos dias para longe e como não sabe nunca o que lhe vai apetecer, traz três livros além do que já vem começado... depois há dilemas complicados de resolver... bahhhh

quarta-feira, 7 de agosto de 2019


... quanto vale a “doçurazinha de carneiro”?... e de que é feita? Tão depressa a doçura deslaça e se aponta o dedo acusador, como se passa rapidamente para o outro lado do dedo. E vice-versa. Juízes neste mundo há muitos, não podemos julgá-los mas não nos podemos deixar julgar por eles, ou não por qualquer um. As leis divinas regem o céu, na terra as divindades escasseiam tanto como a justiça, a coerência ou a razão. Já a ironia abunda e abusa onde há vaidade de sobra. 

[o livro é diferente do que pensava, muito diferente, já há várias páginas marcadas, estou a gostar e quase a acabar...]



Um chapéu fechado 
guarda o sol que abrirá amanhã

Uma cama com lençóis de clara brisa 
onde me deito com a escuridão 
e acendo todos os segredos que apaguei

Uma rede onde o olhar se balança  
nas estrelas que não caem, que ficam.
as que caem soltam-me sonhos no regaço 
que não caem, nem ficam.

A lua escuta a noite comigo 
e manda calar-me os gritos de silêncio

terça-feira, 6 de agosto de 2019

... das decisões difíceis...
Aiiii que a vida é tão difícil 
quando se tem de tomar decisões... 

Bom dia!

domingo, 4 de agosto de 2019

... quando eu morrer não vou para o céu. É o que me ocorre, quando me apercebo que quando boto os olhos em certos sítios e coisas, invadem-me pensamentos pecaminosos... que me fazem rir sozinha, e pensar que também não sei se vale muito a pena ir para o céu depois de morrer, acho que mais vale umas incursões em vida... que é já de si um pensamento digno de herege...
há sítios tão divinais que só podem ser pecado dos mortais...
E onde apetece voltar, noutros tempos de que procuro calendário.

Hummm... tão bom...
Apetecia-me. Tanto.
Tenho de arranjar um descapotável, é isso! :)))


O meu primeiro carro dava para andar com o cabelo ao vento, 
sempre adorei passear assim. E gosto de velocidade mas um descapotável (quando sem a sua capota) não é para o prazer da velocidade, mas para o mastigar de paisagens e do tempo que roda suave nas curvas. É coisa de deleite, não de adrenalina. São outros prazeres. E há tantos...

Além do monte no Alentejo acho que vou arranjar um descapotável,
usado, vintage talvez. Gosto das coisas com uma certa patine. 
Melhor ainda se combinadas com coisas contemporâneas, numa combinação elegante e perfeita.
Coisas que levaram tempo e ficaram.
Que ficaram de um amadurecimento que apurou e depurou, que refinou,
mas não apodreceu, nem estragou. 
Onde o tempo foi afago e não carrasco.

[Só tenho é de arranjar dinheiro e tempo, o que é uma chatice... ou não,
porque gosto de trabalhar, sempre gostei.]

sábado, 3 de agosto de 2019


Fiquei cá a pensar... Sagitário, ‘tá certo... mas o cão ou o dono??
Voltei a ler melhor... o cão. Definitivamente o cão, claro!! 
Ehehehe
O pessoal não manda em nós, principalmente não tendo lógica :DD

Bom dia!
[a minha sorte é tão macaca que já hoje me ri muitas vezes da minha desgraça... a vida é engraçada, a sério. E desta vez, mais uma vez a minha cadela pregou-me a mesma partida. Parece que espera que eu esteja sozinha e tenha planos... danada da gaja...]

sexta-feira, 2 de agosto de 2019


Saí daqui há bocado,  pelo menos parece-me, mesmo que tenha sido há umas raquíticas dez horas... já aqui estou.... preciso dum café. E dum pente novo, ou dentes... Que isto é muita trunfa para mim e pouco pente...