“(...)’Que importância tem o cérebro’, disse Lady Rosseter, levantando-se, ‘comparado com o coração?’
‘Também vou’, disse Peter, mas deixou-se ficar sentado mais um pouco. Que terror é este? que exaltação é esta? pensou ele para consigo mesmo. O que é isto, que me enche de uma incrível emoção?
É Clarissa, disse ele.
Pois ela estava ali. “
Virgínia Wolf, in Mrs Dalloway
E fecha-se o livro com uma sensação de vazio, em que tudo está dito mas nada se desenrolou. Ou talvez sim. Porque há coisas que vão além da explicação, da razão, da acção. Como este simples facto: não somos donos de nós mesmos, podemos, quanto muito, comandar o cérebro - e nem sempre, e nem sempre é fácil - discernir a razão, ou até perdê-la, endoidecermos. Talvez haja loucuras por deixar o coração ao volante da vida, ou porque a razão deixou de servir para explicar o inconcebível.
Mas a verdade é que o que nos controla nós não controlamos, não somos sequer fomos de nós mesmos. Como se habitássemos algo ferido de vontade própria, que somos nós, o mais profundo de nós, mas que não somos ou não sabemos ser.
"Os humores do corpo seguem um curso regular e ordenado, que afecta e altera imperceptivelmente a nossa vontade: deslocam-se juntos e exercem sucessivamente um império secreto sobre nós, de tal modo que participam consideravelmente nas nossas acções sem que o possamos saber." François La Rochefoudauld
ResponderEliminarBom dia, Vi:)
sim, talvez um império secreto... :)
EliminarBoa tarde, Legionário