"Só há duas coisas importantes na vida: aquelas que fizemos e achamos que não devíamos ter feito e as que não fizemos e concluímos que devíamos ter feito. As coisas realmente importantes, as coisas que ficam até ao fim e não nos largam, são as que nos causam arrependimento." - o filme (Reviver o passado em Montauk) começa assim, com esta frase ou uma equivalente a esta. Oiço isto e há uma torrente de pensamentos que dispara na minha cabeça... não consigo evitar, como se o ouvisse por vários ouvidos de várias cabeças, e pondo-me dentro de cada uma delas. Penso que então eu não tenho coisas importantes na vida, nada do que já vivi me vai ficar até ao fim, não tenho, até agora, arrependimentos. Não há nada que me tenha ficado como não dever ter sido feito, ou por fazer. O filme é bom (ou eu gostei muito), um melodrama à volta de três pessoas. A certa altura no filme ele conta à mulher, que se arrependeu ter deixado sem uma palavra há anos, que quando foi embora conheceu alguém sem importância, mas que engravidou e de quem teve uma filha, ela pergunta por que é que nunca lhe contou, e ele responde simplesmente " porque não te queria magoar". Ela ri-se, e tem uma frase ambivalente a que conheço todos os meandros, "uma das coisas que sempre mais gostei em ti é que nunca tens intenção de magoar ninguém", o que, não deixando de ser verdade, expõe também, veladamente, uma displicência egoista de tudo o que faz e fez, de toda a merd@ que sempre fez e estava também, naquele preciso momento, a fazer. É essa displicência e egoísmo que os torna e mantém umas eternas crianças, irresponsáveis, inconscientes e inconsequentes. Ela não quer já, naquela altura, ficar com ele, ele é uma pessoa que a marcou, que lhe definiu e moldou certamente a vida, que ela queria para pai dos filhos, antes de ele a deixar sem uma justificação como que esfumando-se no tempo - ou isso é subentendido no filme -, mas não quer mais que fiquem juntos, e conta-lhe então que teve um amor que se sobrepôs ao deles. Depois dele conseguiu amar outra vez, mas esse homem morreu e ela não quer nenhum mais - ela não é das que ultrapassam tudo, diz a certa altura no filme, ainda sem se saber sobre o que fala. Ele diz-lhe que deixa já a pessoa com quem está, que nem pensa duas vezes, que quer mudar a vida dele, ficar com ela. Fazer o que devia ter feito há anos. Mas não ficam juntos, ela já não o ama, e o amor que tem só a permite ficar sozinha. O filme ainda magica na minha cabeça, mas a surpresa dela ter amado outra vez, e mais e melhor, ficou-me. A ideia de que, possivelmente, ter sido tratada assim lhe tenha permitido depois amar ainda mais quando não o foi, quando foi amor recíproco, respeito, admiração. Talvez haja coisas que nos acontecem para que possamos futura, e irremediavelmente, ver tudo doutra forma, para o bem ou para o mal. Talvez, no caso, para apreciar coisas que dantes não víamos como tão grandes qualidades, que não valorizávamos condignamente, talvez por as considerarmos de certa forma pressupostos básicos: pessoas maduras, que sabem o que querem, que o assumem e fazem por isso, e que não têm essa displicência egoista que serve para desculpar tudo, mas que magoa toda a gente. Por muito charme que algumas dessas personalidades tenham, por muito que nos viciem e prendam, por muita felicidade plena, a pequenos tragos que nos dêem, há um ponto em que percebemos que esse charme não nos faz sentir amadas e seguras, mas negligenciadas e magoadas. E eu fiquei com esperança de também eu chegar a esse ponto, e não ser tarde demais.
quarta-feira, 4 de outubro de 2017
"Só há duas coisas importantes na vida: aquelas que fizemos e achamos que não devíamos ter feito e as que não fizemos e concluímos que devíamos ter feito. As coisas realmente importantes, as coisas que ficam até ao fim e não nos largam, são as que nos causam arrependimento." - o filme (Reviver o passado em Montauk) começa assim, com esta frase ou uma equivalente a esta. Oiço isto e há uma torrente de pensamentos que dispara na minha cabeça... não consigo evitar, como se o ouvisse por vários ouvidos de várias cabeças, e pondo-me dentro de cada uma delas. Penso que então eu não tenho coisas importantes na vida, nada do que já vivi me vai ficar até ao fim, não tenho, até agora, arrependimentos. Não há nada que me tenha ficado como não dever ter sido feito, ou por fazer. O filme é bom (ou eu gostei muito), um melodrama à volta de três pessoas. A certa altura no filme ele conta à mulher, que se arrependeu ter deixado sem uma palavra há anos, que quando foi embora conheceu alguém sem importância, mas que engravidou e de quem teve uma filha, ela pergunta por que é que nunca lhe contou, e ele responde simplesmente " porque não te queria magoar". Ela ri-se, e tem uma frase ambivalente a que conheço todos os meandros, "uma das coisas que sempre mais gostei em ti é que nunca tens intenção de magoar ninguém", o que, não deixando de ser verdade, expõe também, veladamente, uma displicência egoista de tudo o que faz e fez, de toda a merd@ que sempre fez e estava também, naquele preciso momento, a fazer. É essa displicência e egoísmo que os torna e mantém umas eternas crianças, irresponsáveis, inconscientes e inconsequentes. Ela não quer já, naquela altura, ficar com ele, ele é uma pessoa que a marcou, que lhe definiu e moldou certamente a vida, que ela queria para pai dos filhos, antes de ele a deixar sem uma justificação como que esfumando-se no tempo - ou isso é subentendido no filme -, mas não quer mais que fiquem juntos, e conta-lhe então que teve um amor que se sobrepôs ao deles. Depois dele conseguiu amar outra vez, mas esse homem morreu e ela não quer nenhum mais - ela não é das que ultrapassam tudo, diz a certa altura no filme, ainda sem se saber sobre o que fala. Ele diz-lhe que deixa já a pessoa com quem está, que nem pensa duas vezes, que quer mudar a vida dele, ficar com ela. Fazer o que devia ter feito há anos. Mas não ficam juntos, ela já não o ama, e o amor que tem só a permite ficar sozinha. O filme ainda magica na minha cabeça, mas a surpresa dela ter amado outra vez, e mais e melhor, ficou-me. A ideia de que, possivelmente, ter sido tratada assim lhe tenha permitido depois amar ainda mais quando não o foi, quando foi amor recíproco, respeito, admiração. Talvez haja coisas que nos acontecem para que possamos futura, e irremediavelmente, ver tudo doutra forma, para o bem ou para o mal. Talvez, no caso, para apreciar coisas que dantes não víamos como tão grandes qualidades, que não valorizávamos condignamente, talvez por as considerarmos de certa forma pressupostos básicos: pessoas maduras, que sabem o que querem, que o assumem e fazem por isso, e que não têm essa displicência egoista que serve para desculpar tudo, mas que magoa toda a gente. Por muito charme que algumas dessas personalidades tenham, por muito que nos viciem e prendam, por muita felicidade plena, a pequenos tragos que nos dêem, há um ponto em que percebemos que esse charme não nos faz sentir amadas e seguras, mas negligenciadas e magoadas. E eu fiquei com esperança de também eu chegar a esse ponto, e não ser tarde demais.
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A tua última frase...como te compreendo! O mal é quando chegamos mesmo a esse ponto... pequenos nadas já serem "Tudo", isto é, como tu dizes, pequenos tragos que nos dão são para nós a felicidade plena...isso não é amor nem ser amado!
ResponderEliminarA vida ensina-nos a todos e todos receberemos dela o que oferecemos aos outros, algo em que acredito piamente!
Bom dia Olvido
"Talvez haja coisas que nos acontecem para que possamos futura, e irremediavelmente, ver tudo doutra forma, para o bem ou para o mal."
ResponderEliminarTalvez Vi, talvez;)
Bom dia:)
Sol,
ResponderEliminarEu acho que o "tudo" são mesmo pequenos nadas, mas que são sentidos e valorizados e apreciados em uníssono. A felicidade está nas pequenas coisas... e esses momentos plenos se forem vividos da mesma forma por ambos o resto tudo se resolve, porque há amor, porque há vontade de estar e de que se repitam o mais e melhor possível, quando isso não acontece, não me parece que seja amor e menos que isso não vale a pena...
Quanto ao recebermos o que damos, não acredito... isso seria justo, mas a vida não é justa e cada vez mais e melhor o sei.
Boa noite, agora :))
Legionário,
ResponderEliminartenho essa esperança, que haja uma razão para determinado caminho nos vestir os pés, porque vai levar-nos onde precisamos de ir, com o embalo e espírito necessários... ;)
Boa noite :)