segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Esquecer como quem apaga um cigarro. Fechar a gaveta das memórias, asfixiar as perguntas com outro ar, ar novo, ar limpo - elas hão-de desistir e calar-se. 
Às vezes é preciso coragem para deixar de querer, para acreditar que o que vier, novo e diferente, vai ser um amor melhor, correspondido em atitudes e conteúdo, igualmente intenso, ou mais. Que o medo que paralisa o novo, que foge de todo o risco, que afasta todas as (boas) tentações, é apenas a resignação ao que não nos serve, ao que já não nos serve, por medo de ficarmos pior servidos. Então engolimos o que não gostamos sem mastigar, apagamos o que nos entristece como se nunca tivesse existido, enganamo-nos descaradamente amarfanhando a prova dos nove por fazer, fazemos de conta que o que não nos serve não conta, que o que conta é do que estamos servidos...
No outro dia ouvi em qualquer lado que o amor não tem de ser simples, mas não pode ser tão difícil que se torne impossível de viver com vontade de recordar  - ou em que sejamos obrigados a amputar a memória para sobreviver ao que esse amor exigiu de nós. Todas as amputações trazem dores fantasma, que se sentem tanto ou mais que as outras, as que se podem curar, as que podemos medicar, as fantasmas nada as contraria, apenas nos assombram o presente a cada dia comido ao futuro.

2 comentários:

  1. Gostava de te conseguir comentar...porque o que escreves tem toda a razão de ser...já o conseguir são outros 500!

    Boa noite, agora!

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  2. ... sabes gostava tanto de não ter razão para escrever estas palavras, de nunca ter tido de pensar nestas coisas, de nunca ter chegado a algumas conclusões... e tantas vezes de não ter razão em muitas das coisas que penso e concluo. Era tão bom estar errada na maior parte das vezes, de certeza seria muito mais feliz.
    Bom dia, Sol :)

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