..."eu sentia uma atracção por todas as coisas erradas (...). Estava instalado no nada: uma espécie de não-ser, e aceitava-o. O que não configurava uma pessoa interessante. Eu não queria ser uma pessoa interessante, era demasiado difícil" , Bukowski, in Mulheres
É engraçado quando nos identificamos com personagens que sendo tão diametralmente opostas a nós, há coisas que simplesmente são absolutamente coincidentes. Eu também me acho instalada no nada e com atracção por o que não me faz bem, acrescendo a tudo isto a certeza de que sempre achei demasiado difícil ser interessante, e talvez por isso sempre desisti muito antes de o tentar. O difícil é quem nos aceite assim, com as particularidades comuns das pessoas que não são, nem se fazem (das que se fazem há aos pontapés, mas vai-se as ver e...), interessantes, e goste, por alguma razão inexplicável, de nós. Em que a única coisa verdadeiramente interessante é esse gostar sem razão, esse gostar terrivelmente genuíno, sentido quase como uma praga ou um destino inquestionável. Talvez o que é genuíno seja interessante duma forma diferente, um interessante em parâmetros não normalizados pela maioria. Uma coisa meia sem rede, sem segurança prevista e revista pelas normas vigentes. Como o personagem, as observações que faz, o que pensa, tornam-no interessante mas completamente fora do interessante da malha social. O problema é que só alguém interessante e diferente o poderá notar: "it takes one to know one"... como uma vez apanhei numa fala do Hank do Californication (uma serie que adorava ver..), que - parece-me - foi baseado, em algumas coisas, neste personagem. Aliás no livro alguns amigos chamam-no Hank...
[do livro que andei a ler há uns meses e ficou-me esta nota, entre outras, nos rascunhos...]
"É engraçado quando nos identificamos com personagens que sendo tão diametralmente opostas a nós..."
ResponderEliminaràs vezes temos sorte...outras é um autêntico abismo e se entrar esse gostar genuíno!
boa noite agora Olvido
Tem sempre alguma piada quando o que nos é oposto tem também, misturado, coisas muito do nosso por dentro... a a aparente impossibilidade torna a comparação e o sentimento de identidade, que repulsa umas vezes mas converge outras, numa sensação agridoce que nos apanha em falso das nossas próprias ideias acerca do que em quem somos :)) e sim, talvez seja sempre um certo espreitar o abismo ;))
ResponderEliminarBom dia agora, Sol