quarta-feira, 18 de outubro de 2017


[foto @arvin.bahrami1390]

A única altura do dia que me custa passar é o final do dia, quando a luz baixa e se convida a alma a iluminar a noite; quando resolver isso talvez as amarras se soltem, talvez eu fique livre do que nunca me quis prender - do que nunca me quis. Só aí a alma parece ainda querer existir, resistir, ser. Parece que além desse lusco-fusco de alma, nada mais restou, resignou-se a apenas viver naquela réstia de tempo entre a agonia do dia e o raiar da noite escura.
Resolvo abrir as palavras em que me fecho depois dum dia em que as palavras perdem a alma em usos de ferramenta, de arma de arremesso, de arma em dia de guerra. Há guerras demais a travar e pouca alma com que lutar. Ha demasiado cansaço. Demasiados cansaços. A cabeça ressente-se do dia e tento recupera-la tacteando as palavras para ver se há réstias de alma com que conversar. Mas há um silêncio espesso como uma cortina de fumo. Há coisas na vida tão ardidas como o país. 
Tudo há-de renascer.





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