terça-feira, 31 de outubro de 2017



[imagem: Edouard Boubat]

Beija-me como se os teus sonhos ganhassem asas na minha boca.
Beija-me como se a tua liberdade estivesse presa nos meus lábios.
Beija-me como se a minha pele te guardasse a alma.
Beija-me um beijo que são todos os beijos.
Ou não me beijes.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017


[imagem @virgola_]

Segunda de manhã... o ouriço da semana, de chinelos e a rezar por um café que nos mande para (pelo menos) quarta feira... ;))

Bom dia!

domingo, 29 de outubro de 2017

[foto @projetoamoramora]

Se a minha pele for o horizonte da tua alma,
a fronteira entre o sonho e a realidade,
limite divino do profano,
é lá que nos encontramos, 
que (nos) somos,
à margem de todas as leis,
contrabandistas de amor que não se troca.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

[colourfall by Ian Davenport]
Viver sem paixão é (vi)ver o mundo a preto e branco. Ter sido apaixonada, conseguindo ver tons e cores que não se pintam nem explicam, e deixar de o ser, é como ficar cega - é toda uma luz que nos morre nos olhos pela pele. Será adivinhar, inventar, mentir na escuridão as cores que já não temos. Mendiga-se vida entre escalas de cinza, cinzas de paixões queimadas, cores ardidas. Cegueira fria.
Estar com alguém sem paixão é um clássico, a preto e branco, e talvez até mudo. E eu, tão fã de clássicos, clássica em tanta coisa (apelidada tanta vez de quadrada) dispensaria este, neste caso prefiro ser de modas (apaixonadas, arrebatadas, quentes), mas os clássicos são-no porque duram, resistem ao tempo, não têm cor para perder.
Talvez me renda. Mas nunca deixará de ser isso: uma rendição.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017


..."eu sentia uma atracção por todas as coisas erradas (...). Estava instalado no nada: uma espécie de não-ser, e aceitava-o. O que não configurava uma pessoa interessante. Eu não queria ser uma pessoa interessante, era demasiado difícil" , Bukowski, in Mulheres

É engraçado quando nos identificamos com personagens que sendo tão diametralmente opostas a nós, há coisas que simplesmente são absolutamente coincidentes. Eu também me acho instalada no nada e com atracção por o que não me faz bem, acrescendo a tudo isto a certeza de que sempre achei demasiado difícil ser interessante, e talvez por isso sempre desisti muito antes de o tentar. O difícil é quem nos aceite assim, com as particularidades comuns das pessoas que não são, nem se fazem (das que se fazem há aos pontapés, mas vai-se as ver e...), interessantes, e goste, por alguma razão inexplicável, de nós. Em que a única coisa verdadeiramente interessante é esse gostar sem razão, esse gostar terrivelmente genuíno, sentido quase como uma praga ou um destino inquestionável. Talvez o que é genuíno seja interessante duma forma diferente, um interessante em parâmetros não normalizados pela maioria. Uma coisa meia sem rede, sem segurança prevista e revista pelas normas vigentes. Como o personagem, as observações que faz, o que pensa, tornam-no interessante mas completamente fora do interessante da malha social. O problema é que só alguém interessante e diferente o poderá notar: "it takes one to know one"... como uma vez apanhei numa fala do Hank do Californication (uma serie que adorava ver..), que -  parece-me -  foi baseado, em algumas coisas, neste personagem. Aliás no livro alguns amigos chamam-no Hank...

[do livro que andei a ler há uns meses e ficou-me esta nota, entre outras, nos rascunhos...]

domingo, 22 de outubro de 2017

..."o amor nos faz aproximar as coisas, habitá-las, que pelo amor as reconhecemos e que, depois de lhe recebermos a revelação, nada mais é preciso para nos sentirmos vivos."
Fernando Namora, in Domingo à tarde

... pois não, e nada mais parece faltar-nos para estarmos mortos que perdê-lo.
E não ressuscitamos, antes marinamos pelos dias como mortos vivos, umas vezes mais mortos que vivos, outras mais vivos que mortos, mas sempre numa condição em que a vida se sente como um leve murmúrio ao fundo dum túnel escavado em escuridão, que não sabemos se ouvimos ou se sonhamos

[na verdade a etiqueta está errada, não é o livro que ando a ler, já acabei outro depois deste... dias de sossego dão (também) para isso, pôr leituras e pensamentos em dia...]

sábado, 21 de outubro de 2017


E um dia o sossego vem. Não vem para ficar, só para dar umas tréguas à loucura dos últimos tempos. No ar paira o perfume a alfazema, à minha volta só campos de alfazema, oiço insectos a voar por aí e um badalar contínuo vindo do monte, e ainda, nesse longe, consigo adivinhar um cão dum lado para o outro, preto, ou escuro, pelo menos... de resto não se ouve mais nada. Olho este céu azul e penso que há dias, durante muito tempo, o dia não chegou a acordar no céu e as cores eram todas feitas de cinza. Agora as nuvens são brancas e compõem o azul claro do céu. Dizemos que tudo volta ao normal, que o tempo trata de tudo, mas na verdade só nos dá oportunidade de começar de novo noutro tempo, que nunca é igual - traz dentro todo o tempo que foi e já não é.


quarta-feira, 18 de outubro de 2017


[foto @arvin.bahrami1390]

A única altura do dia que me custa passar é o final do dia, quando a luz baixa e se convida a alma a iluminar a noite; quando resolver isso talvez as amarras se soltem, talvez eu fique livre do que nunca me quis prender - do que nunca me quis. Só aí a alma parece ainda querer existir, resistir, ser. Parece que além desse lusco-fusco de alma, nada mais restou, resignou-se a apenas viver naquela réstia de tempo entre a agonia do dia e o raiar da noite escura.
Resolvo abrir as palavras em que me fecho depois dum dia em que as palavras perdem a alma em usos de ferramenta, de arma de arremesso, de arma em dia de guerra. Há guerras demais a travar e pouca alma com que lutar. Ha demasiado cansaço. Demasiados cansaços. A cabeça ressente-se do dia e tento recupera-la tacteando as palavras para ver se há réstias de alma com que conversar. Mas há um silêncio espesso como uma cortina de fumo. Há coisas na vida tão ardidas como o país. 
Tudo há-de renascer.





sexta-feira, 13 de outubro de 2017


Deambulo pelos rascunhos e nada me fala, nada me apetece, trechos que vou guardando, pedaços de livros que vou lendo, alguns têm meses, mas vou-os deixando quietos no mesmo lugar enquanto não houver algo neles que me desperte da preguiça de os decifrar com pensamentos postos em palavras que me saiam de dentro dos dedos. Mas cada texto ou frase ou imagem guardada tem qualquer coisa que vi e pensei mal lhe bati os olhos, algo de mim está lá, mas deixa-se para depois o esmiuçar, o mergulhar em nós através das coisas.  Nem sempre me apetece, às vezes quero apenas gozar e demorar-me nas mundanas superficialidades pragmáticas, sei que virar os olhos do avesso para me ver o lado de dentro obriga-me a sair de mim para me regressar, sair deste mundo para me navegar. Muitas vezes não me apetece, como uma preguiça de me chegar, uma inércia que não deixa enterrar as maos das palavras na alma -nesses dias corro os rascunhos e nenhum me fala. Ou eu vou muda e eles sabem, deixam-me passar e baixam os olhos.
A tentar recuperar rituais de café com palavras na mesa da cozinha, cedinho, para evitar voltar meio sono para a cama, não ceder à preguiça. Há coisas que devo tentar mudar mesmo que não saiba porquê ou para quê... mas porque me falam como se fossem certas.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017


... estou a pensar seriamente em colar isto na porta do meu gabinete. 
Traduzido, para não haver desculpas, nem queixas por agressão... 

terça-feira, 10 de outubro de 2017

[foto: um mimo vindo de longe :) ]

"Mando-te uma foto com a Olvido junto ao Reno, um rio magnífico cujo significado segundo a Wikipedia  é de origem celta e significa "fluir". Lindo, não achas?"

Acho. Tudo. Haver pessoas como tu, que se me tornam próximas por me ler há anos e daí passarmos a trocar mails porque os blogs acabam e mudam-se e podíamos perdermo-nos neste espaço e eu não queria :), e tu, tu teres sempre uma atenção carinhosa, fotografias que me chegam cheias de carinho e me fazem pensar que a vida deve mesmo ter um sentido qualquer que estará escondido nas pessoas com que nos cruzamos e guardamos e nos guardam com carinho e amizade. E sim penso que não devo andar a fazer tudo mal... 
Adorei a concha baptizada de Olvido junto ao rio que corre ao longo do seu olhar, e que significa "fluir", talvez de tanto fluir o esquecimento que desejo também siga caminho para longe. O tempo, como o rio, flui sempre. E é bom que nesse fluir me cheguem palavras como as que recebi recheadas de fotos de partilha :) 
Obrigada, Nanda, minha querida. Soube-me tão bem o mimo :))
Um dia vamos abraçar-nos, sim?
[foto @hana_photographer11]

E ele dizia-lhe naquele tom entre meio rouco e aveludado, banhado em cores de por do sol melancólico e dum calor aconchegante "não houve dia nenhum em todos estes anos que não me lembrasse algumas vezes de ti, se me distraía, qualquer coisa tua me invadia." E ela a pensar nos negativos - o preto que é branco, o branco que é preto -, enquanto ele lhe perguntava o mesmo. Abriu bem a boca para lhe desenhar um belo não com que se vingar, e cerrar em si a verdade que era só dela. Não, não pensou às vezes nele em cada dia de todo este tempo. O resto da frase, a razão dos negativos a assaltaram-lhe o momento de ironias, essa ela calou-a. Ela, que só deixava de pensar nele quando se distraía - quando ele por momentos não lhe era pele nem desejo nem memória nem sorriso anónimo de razão -, nessas alturas que ele se ausentava dela, até a saudade recolhia. Ela distraía-se e o mundo fugia-lhe do bolso de dentro da existência, onde vivia o negativo da sua vida, e então caía aos rebolões no mundo que todos habitam e onde se trabalha, e se finge que até se vive. E eu distraí-me menos do que deveria todos estes anos- conclui ela no silêncio que guarda as verdades cruas.
E ele a olhar para ela e para aquele redondo "não" sem saber se o "não" seria o negativo de si mesmo, mas ela não lho revelou nunca, ainda que houvesse tanta química reveladora. Mas onde ela se prendeu, o prego que lhe pendurou a alma, foi perceber que onde ele era sim ela era não, onde ela era só ausência ele era sempre presença - só quando se distraía não pensava nele, ele apenas se lembrava que ela existia quando se distraía... não era justo, eram o negativo um do outro, e positivamente isso não era uma boa fotografia.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017


Apanho agora, às vezes, o meu olhar fixo em alguma coisa que não se prende a ver - olho o infinito no fundo da chávena bebida ou por beber, no cigarro que me arde nos dedos ou desfeito no cinzeiro, nas sombras que me imitam os gestos ou nas cores que pintam o por-do-sol nas paredes da sala vazia... voo os pensamentos como quem poisa o olhar em palavras não ditas, em instantes por perder, em passados que a pele já não vê, mas sente como a cegueira do tempo. Coisas - quaisquer coisas servem, até coisa nenhuma - que o olhar fixa e transforma em pontos de fuga de realidades por acontecer. Portas escancaradas trancadas dentro da boca. Vidas paralelas que ninguém vive, mas onde se habita - ahhh... essa liberdade louca, trancada por dentro da pele, impermeável à realidade vivida, onde se vive o que se devia ter vivido. Aí, sim, vive-se (na loucura do que seria são).

domingo, 8 de outubro de 2017



A ronha de domingo... O dia abre um olho de cada vez, espreguiça-se um tico, vira-se para o outro lado, sente os lençóis quentes e a cheirar a sonhos ainda, há um sorriso que se abre no rosto sem que nenhuma ideia o justifique, só isto, o conforto, a meiguice dos começos lentos e doces, a ronha de domingo enquanto a fome não nos apanha...
...das coisas mais doces com que um dia nos pode começar.
(até sem companhia é bom, com boa companhia seria o ideal... mas não percebo, é incrível como há tão poucos adeptos da ronha... entristece-me. É coisa boa de ser partilhada, um cafuné, um namoro com a lentidão dos domingos perfeitos, conversas em tons de sussurro e gargalhadas que acordam a vida... não percebo como não há um adepto ferrenho disto em cada um, pronto)

sábado, 7 de outubro de 2017

Um café no caminho porque o calor aperta a sede e a sombra apetece um tico. Vi uma esplanada algo manhosa, que vejo quando passo de carro, mas onde nunca tinha vindo. Abanco-me peço um café e uma água, e aqui fico a descansar as molezas, a cheirar o café enquanto esfria um pouco, a bebericá-lo, a pensar na vida... levanto a cabeça e um rapaz de cara traquina mas bem disposta pergunta-me de chofre "está à minha espera para tomar um café?" E ri-se, sempre sem parar de andar, e eu não posso deixar de me rir também, e respondo: "não...até já está meio bebido!..." e ele sem se desfazer nem deixar cair a traquinice das expressões sai-se com um "Oh que pena!..." e continua o seu caminho ao ritmo do seu sorriso. E estas pequenas coisas, estas pequenas vidas no dia, fazem-me sorrir outras vidas que me faltam, mais leves, mais simples, mais sorridentes. Até justificou ter começado a escrever sem saber porque o fazia, só para companhia, suponho. E agora de repente fez sentido o que se começou sem destino anunciado, um pouco como a vida que nos vai acontecendo. 

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

[Vasco Gato]

Nascemos todos os dias, nascemos melhor nos dias que alguém nos ampara o nascimento, nos protege, nos embala os medos e nos diz baixinho, o meu mundo é o teu mundo: pertencemo-nos. Bem vinda ao mundo que vamos fazer nosso, protegidos do mundo.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

[ imagem retirada de @cuddleup.now (autoria desconhecida)]

Beijos que falam palavras não ditas
Palavras que beijam silêncios por emudecer 



"Só há duas coisas importantes na vida: aquelas que fizemos e achamos que não devíamos ter feito e as que não fizemos e concluímos que devíamos ter feito. As coisas realmente importantes, as coisas que ficam até ao fim e não nos largam, são as que nos causam arrependimento." - o filme (Reviver o passado em Montauk) começa assim, com esta frase ou uma equivalente a esta. Oiço isto e há uma torrente de pensamentos que dispara na minha cabeça... não consigo evitar, como se o ouvisse por vários ouvidos de várias cabeças, e pondo-me dentro de cada uma delas. Penso que então eu não tenho coisas importantes na vida, nada do que já vivi me vai ficar até ao fim, não tenho, até agora, arrependimentos. Não há nada que me tenha ficado como não dever ter sido feito, ou por fazer. O filme é bom (ou eu gostei muito), um melodrama à volta de três pessoas. A certa altura no filme ele conta à mulher, que se arrependeu ter deixado sem uma palavra há anos, que quando foi embora conheceu alguém sem importância, mas que engravidou e de quem teve uma filha, ela pergunta por que é que nunca lhe contou, e ele responde simplesmente " porque não te queria magoar". Ela ri-se, e tem uma frase ambivalente a que conheço todos os meandros, "uma das coisas que sempre mais gostei em ti é que nunca tens intenção de magoar ninguém", o que, não deixando de ser verdade, expõe também, veladamente, uma displicência egoista de tudo o que faz e fez, de toda a merd@ que sempre fez e estava também, naquele preciso momento, a fazer. É essa displicência e egoísmo que os torna e mantém umas eternas crianças, irresponsáveis, inconscientes e inconsequentes. Ela não quer já, naquela altura, ficar com ele, ele é uma pessoa que a marcou, que lhe definiu e moldou certamente a vida, que ela queria para pai dos filhos, antes de ele a deixar sem uma justificação como que esfumando-se no tempo - ou isso é subentendido no filme -, mas não quer mais que fiquem juntos, e conta-lhe então que teve um amor que se sobrepôs ao deles. Depois dele conseguiu amar outra vez, mas esse homem morreu e ela não quer nenhum mais - ela não é das que ultrapassam tudo, diz a certa altura no filme, ainda sem se saber sobre o que fala. Ele diz-lhe que deixa já a pessoa com quem está, que nem pensa duas vezes, que quer mudar a vida dele, ficar com ela. Fazer o que devia ter feito há anos. Mas não ficam juntos, ela já não o ama, e o amor que tem só a permite ficar sozinha. O filme ainda magica na minha cabeça, mas a surpresa dela ter amado outra vez, e mais e melhor, ficou-me. A ideia de que, possivelmente, ter sido tratada assim lhe tenha permitido depois amar ainda mais quando não o foi, quando foi amor recíproco, respeito, admiração. Talvez haja coisas que nos acontecem para que possamos futura, e irremediavelmente, ver tudo doutra forma, para o bem ou para o mal. Talvez, no caso, para apreciar coisas que dantes não víamos como tão grandes qualidades, que não valorizávamos condignamente, talvez por as considerarmos de certa forma pressupostos básicos: pessoas maduras, que sabem o que querem, que o assumem e fazem por isso, e que não têm essa displicência egoista que serve para desculpar tudo, mas que magoa toda a gente. Por muito charme que algumas dessas personalidades tenham, por muito que nos viciem e prendam, por muita felicidade plena, a pequenos tragos que nos dêem, há um ponto em que percebemos que esse charme não nos faz sentir amadas e seguras, mas negligenciadas e magoadas. E eu fiquei com esperança de também eu chegar a esse ponto, e não ser tarde demais.

terça-feira, 3 de outubro de 2017


... mas sem garantias - o meu irmão costuma dizer que já passei os dois prazos de garantia nas mulheres (parece, segundo ele, que os homens não têm)... o dos 25 e o dos 35 (como se vê a simpatia "runs in the family"). Portanto garante-se que é um fantástico não garantido, mais provável nuns dias que noutros... ;))

Bom dia!

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Esquecer como quem apaga um cigarro. Fechar a gaveta das memórias, asfixiar as perguntas com outro ar, ar novo, ar limpo - elas hão-de desistir e calar-se. 
Às vezes é preciso coragem para deixar de querer, para acreditar que o que vier, novo e diferente, vai ser um amor melhor, correspondido em atitudes e conteúdo, igualmente intenso, ou mais. Que o medo que paralisa o novo, que foge de todo o risco, que afasta todas as (boas) tentações, é apenas a resignação ao que não nos serve, ao que já não nos serve, por medo de ficarmos pior servidos. Então engolimos o que não gostamos sem mastigar, apagamos o que nos entristece como se nunca tivesse existido, enganamo-nos descaradamente amarfanhando a prova dos nove por fazer, fazemos de conta que o que não nos serve não conta, que o que conta é do que estamos servidos...
No outro dia ouvi em qualquer lado que o amor não tem de ser simples, mas não pode ser tão difícil que se torne impossível de viver com vontade de recordar  - ou em que sejamos obrigados a amputar a memória para sobreviver ao que esse amor exigiu de nós. Todas as amputações trazem dores fantasma, que se sentem tanto ou mais que as outras, as que se podem curar, as que podemos medicar, as fantasmas nada as contraria, apenas nos assombram o presente a cada dia comido ao futuro.

domingo, 1 de outubro de 2017


... bastante. Quando não há alternativas e o que te resta é tentar escolher o menos mau, mas sabendo que é tudo demasiado mau... e o que quer que resulte será supostamente uma escolha democrática, que deveria ser também, de certa forma, um resultado justo julgado por todos. Enfim... é o que temos...