domingo, 9 de maio de 2021

 

E um dia acordo e sou mãe há quinze anos. Tenho um bebé de quinze anos. Acho que terei sempre um bebé, não importa os anos, mesmo que já não tenha tratamento de bebé, nem mo deixassem ter... Acabei de fazer um bolo.. quer dizer não sei se lhe chamaria bolo, é mais uma mixórdia, porque para quem é tinha de ser um bolo saudável (valhamedeus, um bolo e não pode ser declaradamente doce de açucar e com tudo que se tem direito... ao menos uma vez de vez em quando.. mas enfim, hoje as vontades são do bebé..)... então é substituir uns ingredientes, procurar receitas na net, e eu e a minha incapacidade de seguir receitas dá numa mixórdia que combina coisas de várias receitas, depois de perceber a correlação de quantidades... portanto não faço ideia se está comestível ou intragável. Se estiver bom, por outro lado, não a saberei repetir... paciência, inventa-se outra na altura. Mas na verdade acho que na cobertura vou furar o esquema da coisa... só um bocadinho, vá. Chocolate preto é antioxidante, né?

E hoje lembrei-me duma frase que lhe ouvi há dias, curiosamente na véspera do dia da mãe... depois duma conversa que começou com o espanto dela e a frase... "mas que mulher não é feminista? não existe!"... e eu respondi... "bom, existe, a tua mãe pelo menos" O que muito a espantou, porque como lhe disse as coisas não são lineares e devemos ter pensamento crítico e analítico - pensar sobre o que se ouve e lê, e depois concluir. Não concluir, apenas para fazer parte. Carneirada não é argumento e não devia ser opinião. Não lhe impus ideias, fiz perguntas, muitas das quais de que não sabia resposta, dei-lhe a minha opinião, que igualdade é ninguém ser melhor ou pior que ninguém, mas não aproveitar uma condição natural para ter benefícios injustos alegando que se está a combater desigualdades. E igualdade de coisas diferentes é só uma forma deturpada de emendar, errando. Igualdade e equidade são coisas diferentes. Eu não quero igualdade, quero justiça. E essa não depende do género, mas da condição humana. Falámos de aborto, do direito ao próprio corpo, da resposta evidente da decisão ser da mulher, não há igualdade aqui pois não? e da decisão de ter ou não um filho ser independente da vontade do pai, mas ainda assim ele ser responsável numa decisão em que nada garante sequer a sua participação (já que a decisão, porque de facto as coisas não são iguais e a natureza assim o determina, não é dele nem poderia ser, mas as consequências à partida são responsabilidade sua)... é justo? e as quotas? é justo? ou só uma humilhação em nome dum objectivo? uma injustiça em nome da mesma injustiça, do género garantir lugar. Então mas não era isso que se queria combater? Falámos de muita coisa, pus muitas questões, não para lhe dar a resposta, mas para que ela a pensasse e procurasse. Lembrei-me de noites inteiras em que fazia o mesmo exercício sobre outras coisas, com outras pessoas. Fazer perguntas, sem tentar obter respostas mas fazendo com que quem as ouve as pense mesmo que não dê conta. Nunca quis que pensassem ou pensem como eu, mas quero que a minha filha pense e defenda o que pensa sustentada em argumentos. Só pensando sobre as coisas e com uma análise critica penso que se pode lá chegar. No fim disse-me 

- adorei esta conversa, mãe, temos de ter mais conversas destas, há coisas que não sabia, outras não tinha pensado assim
- estou sempre aqui, filha. Sempre que quiseres.

E agora ver se o bolo já queimou...

2 comentários:

  1. Um beijo de parabéns num dia especial. (tenho o mesmo problema com os bolos...)
    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, JI :)
      (Ela gostou da mixórdia, eu achei comestível, mas não repeti... )

      Eliminar