quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Ando rota, sem tempo de me coser entre os dias. Vejo as nuvens, o sol ou a chuva pela janela à minha frente, quando tenho tempo de abrir os olhos lá para fora. Passaram-se dias já, sem que a minha pele soubesse se estava sol ou chuva. Ando meia febril porque o corpo está em protesto e quer que o oiçam... e parece-me que já passei a fase de me chatear, agora parece apenas que se me apagam as reacções na fonte. Como se já não valesse a pena o esforço de me chatear. E daqui a duas semanas deverei começar a sair de casa hora e meia mais cedo... alguma coisa em mim não está bem, definitivamente. Tenho de me devolver, de me chatear, de perceber a anormalidade disto tudo, de não aceitar tudo porque quero as coisas resolvidas e a funcionar, se nada disso compensa, se afinal este tempo estou a roubá-lo a quem já não o tem, e mais tarde isso vai matar-me. E aí com razão, por uma boa razão. Preciso de parar, de parar o tempo, ou o tempo acabará comigo, levando o que ainda sinto meu.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

[foto @sarvesh_chaudhari]

Há dias tais em que uma pessoa se esquece onde traz o coração. Bate, mas não faz barulho. Depois a noite engole o dia e o coração bate, damos por ele. Damos por ele fora do sítio. Tudo fora do sítio, e só trevos de três folhas pelo caminho, a alimentar os pés, a bater no coração, mudo de medo.

domingo, 20 de setembro de 2020

[Pedro Mexia]

Leio isto, gosto, mas penso que não o diria assim, diria: 
“não posso saber a temperatura do meu corpo sem o teu”
Nem sei do meu corpo, sem o teu.  E não sei do teu. 
E na maior parte dos dias já não quero saber.

sábado, 19 de setembro de 2020

[foto @vorosmate]

O Outono a despontar, a querer dar o ar da sua graça...
A lembrar as saudades que não sabíamos já ter... ou eu, pronto.
Mas este ano quase não senti o Verão, vi o mar de raspão poucos dias, mergulhei os pés na areia uma ou duas vezes. Não sei o que ando a fazer da minha vida, ou o que ela anda a fazer de mim...
No outro dia perguntei a alguém: estou diferente? Responderam que muita coisa mudou na minha vida, que muitas voltas se deram no meu mundo, mas 
que a minha essência não parecia ter mudado nada, que quando paro e estou, sou a mesma. Fiquei aliviada, quase contente, às vezes não sei onde andam certas partes de mim, tenho medo que desapareçam, e tenho saudades de as sentir. O Outono tem muito a ver com esse meu lado, e estava com saudades, e só hoje ao acordar neste Outono que acorda do outro lado dos vidros me apercebi do quanto. Nem sempre é o perder que nos lembra o que gostamos ou somos, é o voltar a sentir, o reviver, que nos acorda e traz a imensa saudade duma ausência que tanto fizemos por não notar, que um dia deixamos até de notar, de contar os dias e as dores. Depois amanhece o Outono e tudo muda, apagando tudo o que mudou. Talvez tenha sido a falta do Verão, ou talvez o Outono em mim seja sempre assim.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

“Pergunta-me se ainda sou o teu fogo.”
Mia Couto

...Ou se sou já a memória quente das tuas cinzas.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A estranheza de sentir que o dia ainda não acabou,
e já outro começou. 
Daqui a pouco um novo dia, e o mesmo...
Os dias dentro dos dias,
uma matrioska de tempo,
onde falta o tempo que parece sobrar.


quarta-feira, 16 de setembro de 2020





Vem, prende-me em beijos
Percorre-me a pele por onde ainda escorres
Procura-me, como se nunca me tivesses encontrado
Adivinha-me, como se nunca me tivesse mostrado
Entrega-te, como se nunca tivesses sido meu
Apaixona-te, como se nunca me tivesses amado
Ganha-me, como se não me tivesses perdido
Vem, como se nunca tivesses ido 
Tenta-me, como nunca te tentei,
Como nunca me tentaste

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Finalmente desligo o computador e venho para a varanda. Há para aí uma hora que já só pensava em acabar o que tinha para acabar, para poder deitar-me aqui um tico, fumar um cigarro e deixar a noite refrescar-me as ideias, ou pelo menos ajudar o dia a poisar, lá onde ele ficou, ou vai ficar, descansadinho com aquilo que me arrancou. Será assim com muita coisa, ficam com o que demos de nós, e isso fica num sítio qualquer no tempo, sem espaço. Acho que no último ano devo ter gasto duma vez muitos anos... também isso devia mudar... mas as mudanças não me parece que vão por aí, infelizmente. Às vezes a vida é só estupida, ou parece...

[as vezes já não sei se fumo porque me apetece ou se fumo para ter tempo]

domingo, 13 de setembro de 2020


 
... é mais ou menos isto,
mas sem roupão.
E muita fome, ronha e preguiça...



Mais um dia que acabo nas paletes da varanda,  com esta noite maravilhosa. E aqui deitada, com o barulho de fundo de vozes e conversas longínquas, deixo-me pensar. Dei por mim aqui a pensar como tudo pode mudar sem mudar o essencial. Como tudo se vai modificando e ajustando, mas nós somos os mesmos, adaptamo-nos, não mudamos. E então as coisas tornam-se diferentes, ainda que não tenham mudado. Penso, do que vejo, o que estará diferente, sem que nada tenha mudado, ou se terá mudado tudo, ou talvez nada, e a essência sempre foi o que não vi. Penso como tive de mudar tudo porque houve quem não mudasse nada. Penso como tudo que durante muito tempo não muda, um dia aparece-nos completamente mudado - ou estragado, por paradoxal que seja, é preciso mudar para que as coisas se mantenham, e até para nos mantermos fieis ao que somos - quando se abrem os olhos. E como às vezes mudar tudo, é só fazer diferente, mas ser igual - na essência tudo fica na mesma, só não se vê. Ou vê-se o contrário. Os olhos enganam tanto e as palavras não são nada, confiar em quê então? Só no que não queremos, isso é certo e só tem uma via.

sábado, 12 de setembro de 2020

 


[imagem @jesuso_ortiz]

Hoje comecei o dia com amoras... é sempre um bom princípio. Mesmo que já não fosse cedo, não era tarde. Tarde é quando é melhor não chegar a ser... e para nos rendermos às amoras não há tempo, e lembro-me sempre de ouvir que amora é o fruto mais perto do amor. A uma letra de distância, mais precisamente, e isso é um bom começo :))

 


E para perder-me do dia, deito-me aqui ao relento, quase relendo os dias que não chegaram a ser, na companhia dum cigarro ainda por acender. Aperto-me na manta para esquecer o frio da brisa que a pele arrepia. Acendo o cigarro, e sem saber como, começo a fazer contas à vida em contos que não conto, e onde nunca contei. Fecho os olhos  na esperança de fechar portas aos pensamentos, mas é estrelas que me povoam e furam a escuridão. Lembro-me do céu alentejano inundado de estrelas e do desejo dois-em-um que lá caiu à minha frente, penso se tudo isto que se anda a passar na minha vida, que nunca desejei ou adivinhei, são os céus a fazer caminho para que se realizem... 

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

 


[imagem @goodcomma]

Os dados estão lançados, agora é esperar a resposta. Não foi não para já, mas já fiz a minha parte, agora é esperar. Não sei pelo que torça como resultado... estou assim, mas mais tranquila... Mais uma grande mudança... ou não. O mesmo medo de não ser capaz, de não estar à altura do tamanho que me imaginam. Tenho sempre medo de não chegar, de me pensarem mais do que sou, ou de me descobrir menos do que penso. 

Há dias comentava que precisava de mudar de ares e de chip. Muito cuidado com o que se deseja... às vezes acontece realmente acontecer...

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

... não conhecia.
...mas só a palavra...
... é a falta de vocabulário.


 

terça-feira, 8 de setembro de 2020

E eu mal abri os olhos recebi esta... acompanhada de  “tão verdade...”
não sei se em modo de indirecta,
com uma certa insinuação de queixume
 ou de quem afinal quer dar a entender não ter uma resma de moças atrás...
não sei, mas ri-me, e sei que a minha resposta saiu imediata:
“A minha n costuma ser de papel higiénico... será um bom sinal? 🙄🙄”
E não sei se será um bom sinal, mas ri-me mais com a minha própria resposta... 

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Amalia  Bautista 

 No fim, muito pouca coisa importa.
E esse devia ser o nosso princípio, sempre.
Mas nem sempre parecemos saber por onde começar,
 e tudo atrapalha e se agiganta, perdemo-nos dos caminhos: voltamos ao princípio.
À essência, ao amar e ser amado, ao proteger quem amamos,
mantê-los perto e dentro, ao saber tocar quem nos toca.
E por fim, não ter medo de recomeçar, com este princípio.
O nosso fim é amar.

sábado, 5 de setembro de 2020

Não sei se será em cheio, mas cheio parece-me que sim. Comprar os livros da miúda, lavar o carro, agora tomar um café, à tarde limpar umas coisas lá em casa e supermercado... e sei lá o que mais. Não gosto dos dias todos programados, lista de afazeres para se ir riscando. Sinto como se estivesse numa missão, não a viver, e pelo menos o fim de semana devia ser para se viver. Também é certo que gosto de fazer listas às vezes, pelo enorme prazer que me dá, depois, furá-las. Dizer, não, não me apetece, hoje não vou fazer isso, fica para depois, vou antes fazer isto ou não vou fazer nada.... ahhh o não fazer nada, tão bom quando apetece... depois fico-me a pensar se a minha vida voltar a mudar se não vai ser ainda pior, os fim de semana com uma agenda tão programada como o resto dos dias... e então não há diferença, é só um stress diferente... e caramba não me apetece nadinha isso... 
paro um bocado e é nisto que a minha cabeça pára, detesto ficar sem saber o que fazer, o que decidir, não aguento muito tempo assim, em cima do fio. Tenho de arranjar uma saída, e depois seja o que deus quiser, ou não deus... eles.
Muito isto, muito típico, muito familiar a todos por certo...
Os mesmos factos, versões bem diferentes da realidade, conforme o olhar que os vê, os sente, os pensa - conforme o que cada um guarda longe do sol. Cada um com as suas suposições, os seus medos, cada um com as suas defesas, mas às vezes ambos errados, ambos a sofrer pelo erro. E dois erros contrários não se acertam. Outras vezes o que é, é o que é, e nada mais haverá a supor ou pensar, só sentir não se pode evitar. O problema é saber quando é qual, e como. A prova dos nove, digamos.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

É nestas noites que esta minha varanda é um bálsamo. Finalmente volto a aproveita-la. A noite está esplêndida, não há frio nem vento, e tenho a pintarolas aos pés. O cansaço vence-me a passos largos, e penso que adormeceria aqui facilmente, na minha cama-palete de almofadas. Ontem a esta hora já me tinha rendido, derrotada pelo dia, por tudo, o sono raptou-me e levou-me, eu deixei e agradeci. Hoje a noite parece lembrar as noites calmas, amenas, quando a vida era diferente. Antes de tudo se tornar diferente. Já não sei qual é a normalidade, ou talvez isso não exista, há o agora quotidiano e os antigos, e tudo será normal. Talvez daqui a pouco tempo a normalidade, a minha, já será diferente. Agora parece que só espero que o tempo me traga uma que goste mais do que gostava dos dias, do agora, da normalidade, antes de tudo ser diferente e não ser anormal.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

E agora que é que eu faço? Estou com a cabeça feita em água, só ondas cá dentro, para trás e para a frente sem sair do sítio, sem decisão, sem definição. A melhor promoção que me poderiam oferecer mas a uma hora e meia de casa. Só me apetece dizer asneiras, a sério, ou chorar ou sei lá o quê... o que raio faço eu à minha vida? Que farol atendo? E a pensar que me iam mandar para casa... e afinal querem é mudar-me de casa, ou fazer-me de io-io. Que raio é que eu faço à minha vida? E as ondas ali na sua vidinha,... e eu aqui parece que levei com uma tempestade nas trombas... não há nenhuma boa decisão, e isso é o inferno. E está em nós.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Cláudia R. Sampaio


A sobrevivência custa sempre,
mais depois de se ter vivido
Quando se estendiam as mãos para nos alcançarmos
Para nos partilharmos, para nos darmos
Completamente, sem pensar no hoje de amanhã,
Sem pensar no vazio em que se deixavam
Nunca em esmola
Nunca em súplica 
Acabamos a fechá-las para
Em concha 
Guardar na memória o vazio 
Para memória futura
Que será o infinito de amanhã 
Se amanhã chegar
Um dia