domingo, 19 de abril de 2020


Será que há existência sem constatação? Será que se é, inteiramente, sem que alguém nos conheça? Será que a pedra que vejo, e a que chamo pedra, seria uma pedra se não lhe chamasse pedra? Se não a visse?
Eu existo sem que seja vista, mas para ser não será preciso alguém que nos veja, nos conheça, nos diga até o que vêem, como somos entendidos, que nos desvende até para nós?
Será que sou inteiramente sem que ninguém saiba o que a pele encerra dentro de si? De mim? É preciso outro para sabermos que somos?
Talvez haja existência sem constatação, mas e para ser?
Talvez não baste existir, a não ser que se exista em alguém - e aí somos. Às vezes, inteiramente.

Existo e tenho nome (tantos), mas sem que me chames, será que sou?

4 comentários:

  1. podemos ser apenas um sonho, ou o pensamento de alguém e de facto nem ser, e todos os outros que acreditamos que existem, serem fruto do nosso imaginário, ou do sonho, ou de uma realidade totalmente alheia a nós...

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    1. ...sim, suponho que isso é verdade, há pessoas que nos são ou foram tanto, e afinal nunca existiram realmente, como um sonho ou um pensamento que a imaginação e a vontade tecem. Há o que foi e nunca chegou a existir e há as existências que nunca chegam a ser, de parte a parte. Talvez seja apenas falta de imaginação... ;)

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  2. Olá Olvido,
    Não sei se é da área psicologia/psicanálise, mas o que escreveu, para além de ser muito bonito e profundo, “o outro como espelho”, é algo muito importante na área da psicanálise.
    Não será propriamente surpresa que não seja da área da psicanálise. Freud, a esse respeito referiu que os poetas sabem mais que os teóricos:
    “Os escritores criativos são aliados muito valiosos, cujo testemunho deve ser levado em alta conta, pois costumam conhecer toda uma vasta gama de coisas entre o céu e a terra com as quais a nossa filosofia ainda não nos deixou sonhar. Estão bem adiante de nós, gente comum, no conhecimento da mente, já que se nutrem em fontes que ainda não tornamos acessíveis à ciência.”
    Pedro Martins

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    1. bom... não, não sou da área, ainda que já tenha ouvido algumas vezes que poupei a despesa de muitas horas de terapia :)).... o que não é verdade, na verdade continuaram a precisar exactamente das mesmas, ou mais ;))
      .. mas sim, esta é uma ideia com que luto há algum tempo, não sei se é o outro enquanto espelho - embora definitivamente haveria tanto de nós que não conheceríamos sem os outros, sem que eles nos revelassem o que às vezes não sonhamos que temos, ou só por nos verem de maneiras que o nosso olhar nunca conceberia se não nos fosse mostrado - é o facto de o ser precisar de reconhecimento para ser algo, porque ser implica outro ver-nos... senão será só existência, que poderá ou não ser notada, ou reconhecida. Mas ser, ser implica uma identificação, não? ser alguma coisa, ser assim ou assado, caracterizarem-nos. Ser mulher, ser homem, ser doce, ser amargo, ser inteligente ou só estúpido... implica sempre outro, ou outros, que nos caracterizem, que nos saibam por dentro, que nos conheçam - que era o que estava a pensar quando escrevi. Se não nos conhecerem realmente, alguém, reduzido-nos apenas a uma existência que circula pelo mundo, nada mais. :) maluquices minhas, é o que é :))
      Bem vindo, Pedro, às maluquices aqui do tasco ;)

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