domingo, 31 de dezembro de 2017


[imagem @in_somnia_]

Bom Ano de 2018.

O meu desejo talvez seja apenas o de viver um ano que pudesse depois resumir nestas cores. Esta paz, esta doçura leve, esta simplicidade que alimenta o estar bem, o sentir bem.
Duvido, tenho mesmo a certeza, que não será assim, e talvez por isso estas imagens se tenham colado na retina dos desejos. Vai ser um ano duro, difícil, com decisões muito importantes, com consequências de grande mudança, o fantasma da incerteza a rondar todos os gestos, a responsabilidade se falhar, o ter de me confrontar comigo e com as capacidades que não tenho, o imenso trabalho para desbravar além de fazer. O sentir-me perdida e sozinha no meio de tudo. E preferir não ter a lucidez de antever tudo isto psra vivê-lo depois como uma segunda vez do que ainda não aconteceu. Enfim, tudo menos estas cores de harmonia com a vida, que se respiram profundas e descansadas, de bem com os dias... e amanhã, amanhã, bem vistas as coisas, é só mais um novo dia, como todos os outros que vivemos antes dele. Dividir o tempo não o renova, nem sequer verdadeiramente o diferencia, mas talvez dê a esperança que nasce quando algo muda... nem que seja um algarismo que conta o que não pára...

A todos um 2018 cheio de bons momentos, 
dos que fazem valer a pena tudo o resto. :))




É estúpido conseguir ver tanta beleza numa coisa sem beleza nenhuma... Chuva que escorre do lado de lá do vidro, e parecem-me, assim de repente, aos olhos desentendidos que uso para ver o mundo, luzes brilhantes a estalar a escuridão numa noite de fogo de artifício - como quem seduz o céu vestida de brilhantes, a entregar-se em movimentos lânguidos.
...e o meu olhar, de pensamento perdido na magia que se dá quando a luz, a tiritar de frio e bebida por uma mísera gota de chuva, se transforma em festa luzes. É magia, não? 
É mais importante o que reflectimos ou o que somos? 
O que reflectimos não é o que somos? 
E conseguiremos reflectir o que não somos? Assim, à transparência pura duma gota de água? 
A gota é só uma gota, ou uma festa de luzes por acontecer no acaso conjugado no futuro mais-que-perfeito duma noite escura?
Depois penso naquele verso dos campos de flores... que eu imaginava os meus próprios campos de flores. Lembrei-me de quando insinuavam, ou diziam mesmo, que eu era cega, que não via o que havia para ver. Talvez tivessem razão. Alguém mais vê fogo de artifício numa chuva de estrelas a escorrer pelo vidro da janela? Só porque chove, porque há luzes que os postes da rua expiram, porque se ouve a sinfonia da chuva que toca lá fora, sob a batuta agitada do vento tão inspirado? Só porque agora tudo me parece uma festa que se dá por dentro do meu silêncio de fora... Têm razão, vejo o que não há. Sinto belezas que não nasceram senão no meu olhar de silêncio. Olho para dentro do por fora despido, visto-o com o que vejo.

É por isso que o teu sítio é sozinha. Não cabem dois na tua maluqueira esquisita.


sábado, 30 de dezembro de 2017


...isto.
Poupar água.
... não beijos, carinho, tesão e ternura.

(pode acontecer não se poupar água,  
se o banho se prolongar mais que o dobro do tempo normal de um mortal tomar banho... 
convém ressalvar a bem do planeta, vá.)

Também podem fazer o balanço do ano de 2017, 
em que houve muita gente a meter água, garanto, e não a bem do planeta...

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

[foto @kat_in_nyc]

-como que um objectivo.

-objectivo?

-sim, objectivo, algo para não andar só a empurrar a vida com a barriga.

-uma vontade, um querer?

-não, uma razão.

(pena, preferia que fosse um querer, preferia que fosse "a" tua vontade, pensa)
- vontade é motor, é vida, é força, é o que separa a existência duma vida bem espremida. Objectivo é só o ponto último duma qualquer estratégia a planar num papel que nem nos comprometemos a escrever. É a última estação do comboio que queremos apanhar. Objectivo é razão, é um ponto cardeal sem devoção, não é paixão que condimente amor, não é trincar o fruto com casca e sentir o sumo escorrer pelas bordas dos dias, não é - de certeza - faltar-te o dia seguinte pela ausência de quem te faria o dia toda a vida.

-é uma direcção por onde se caminha para chegar onde queremos, é querer, ora! É vontade também. Que teimosia!

-se fosse vontade, a direcção do caminho era aberto com ganas de catana em floresta virgem. Querer como quem quer a escuridão da noite e se senta à espera dela, não é ter vontade de nada, é gostar que a noite venha e esperar que não se atrase muito. Mas se atrasar vivemos com o dia que temos... paciência...

-tu não queres perceber pois não?

-quero pois, mas sabes, falta-me a vontade...


[foto @gregbionde]

Tenho sono, estou cansada, chateada. Demasiada realidade nos meus dias. Tudo parece irritar-me ou entediar-me. Demasiado chão nesta vida, quero asas de sonho e caíram-me as penas todas, tento abrir asas e caem-me como cabelos a mãos cheias. Mas em vez de cabelos, são penas, sonhos mortos. Pena de a vida me dar chão para rastejar quando o coração tem asas que murcharam. O tempo não rega e os dias secam-me a cada noite. E eu tenho pena. Muita pena. De tanta realidade das mãos enterradas na vida pelas raízes que não se movem.
Estou cansada, não o digo queixando-me, só constatando.
Precisava de colo cheio de mimo e amor, daquele que aconchega, daquele silêncio que entrelaça almas no escuro e que reconforta, mas coisas tão doces e ternas nao pertencem à realidade. Tenho pena. Teria ainda mais se tivesse sido real, mas é vontade escrita a duas mãos, sob o bater de um coração. 
Precisava de dormir uma vida inteira para acordar noutra. Não é possível, há demasiada realidade à minha volta, impregnada no meu olhar, entranhada nas minhas mãos vazias, mergulhada no bater inerte do meu coração.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Há uma qualquer reacção química na felicidade que se esqueceu de passar, que faz abrir portas que a lúcida razão trancou em nós a sete chaves. Nenhuma das sete sabe da química mestra, aquela que as inutiliza, despreza e dissolve, com a mesma certeza que faria esgueirar-se a água que queremos trancada num cubo de gelo numa mão fechada, ou roubar os beijos que o tempo guardou quentes.
Como trancar o que não conhece portas ou fechaduras? O que é livre e não se controla, o que não se contém em paredes, portas ou razões? 
Para quê agarrarmo-nos a chaves que nada fecham?
Ilusão de segurança numa fechadura que nem se espreita.
O que guarda invade-nos, simplesmente. Ocupa o espaço que somos. Tranca-se cá dentro, por dentro.

domingo, 24 de dezembro de 2017

[foto @sirisandra]

O Natal traz as reminiscências da infância, onde a vida ainda tinha um sentido que se fazia olhando para cima. Agora o Natal lembra-me que não sei como esqueci tudo isso, e o sentido se perdeu de mim, como a infância, suponho. Como suponho que seria esperado perder essas coisas para encontrar, descobrir outras, e não descobri nada que me confortasse como dantes o cheiro das rabanadas. Cheiro-as ainda, feitas pela minha mãe, ainda, mas já não cheira ao mesmo, a magia desapareceu. Tento desencantá-la no fundo encantado dos olhos da minha filha e não a vejo lá. Talvez lhe tenha incutido demasiada realidade para que ela tenha um dia cheirado a magia do Natal, será? - e as perguntas, como sempre, surpreendem-me os pensamentos -  e será que a magia se pode aprender? e se pudesse eu queria? não sei. A magia é talvez só um erro de perspectiva... Não sei a resposta a tantas das minhas perguntas... Sei que um jantar onde os pratos na mesa se reduzem, as cadeiras vazias aumentam roubando cada vez mais espaço ao calor, e a alegria é uma música que não se ouve, é um Natal que sendo o nosso, já não o é.  Não era assim. Alguém me dizia no outro dia que uns queixam-se de ter família grande e ser uma confusão, outros têm pena, acham triste, que sendo poucos, o tempo vai aumentando as ausências e sente-se mais serem poucos e cada vez menos. Mas o Natal como tudo na vida é o que somos e o que temos. Cada vez ligo menos ao Natal, este ano nem a casa enfeitei, não tive pachorra, não me apeteceu. Acredito tanto no Pai Natal como na humanidade, e a magia da infância roubaram-ma os anos e a vida. Resta um dia como os outros, mas de que se espera mais. Só isso.
A todos os que me lêem com carinho, desejo uma mesa cheia de risos e cumplicidades, doces bastantes a enfeitá-la, alguns minorcas a correr à volta, e a bondade sabedora e protectora dos olhos dos mais velhos. Desejo-vos um Natal doce de afectos e presenças, de esperança e magia, em que a magia maior é, talvez, não deixarmos que a roubem de nós, como a infância. E isso não ser uma perspectiva, nem um erro.
Uma noite plena a todos vós.

sábado, 23 de dezembro de 2017

[foto @pancrazi]

Um dá sombra,
o outro é sombra do que dá luz.
Parecidos, assim, sem terem como.

Bom dia!

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017


Há um hiato profundo na superficialidade da pele,
 onde se escondem os dias de que não se sabe.
Só a pele sabe.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017


Na hora de todos os cansaços, a alma descansa outra vez o olhar na força incansável do mar, talvez sonhe o dia em que uma maré nos trará um marinheiro que nos torne outra vez mar navegável, 
que fará do nosso olhar velas que enfunam a força da vida e a nossa boca a escolhida para seu porto seguro. Sempre. Nesse dia, com os pés do coração enterrados à beira-mar, deixaremos de esperar o tempo.
O vento que passa silencioso, de olhos risonhos miudinhos, sussurra-me num arrepio salpicado de sal..."mas o coração tem pés?" - pergunta-me endiabrado. E eu sorrio enquanto, em silêncio, lhe mostro que o coração tem o corpo todo. Ele sorri-me nas ondas que me rebentam quase aos pés, no coração.



... há aquelas que também fazem cafuné, 
e há aquelas só para o que é...
Depois há os casos em que se aconchega tudo isso, e mais, em intimidade, esses tornam-se fantasmas que moram na nossa sombra, nos nossos passos, nos nossos dedos, na ondulação do nosso respirar. 

... e eu que nunca fui de adiantar nada, se calhar devia aprender.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Sentada sozinha em frente ao mar, de gorro e cachecol, a ouvir o marulhar da imensidão. 
Começar o dia com um funeral, que tendo distância bastante não nos mexer, me faz lembrar fins, que há coisas que têm de acabar - na verdade, que todas as coisas acabam. Sento-me aqui e reparo no céu, com uma linha interrompida, que se calhar são duas, mas que a mim me lembrou logo das coisas que, a espaços se continuam, que regressam, e penso que se há sempre regresso, será que terá havido realmente partida? Ou melhor, fim?  Eu não sei responder, e ninguém me responde.

O primeiro post na maquineta nova. Aqui escreve-se com mais largueza que no telefone, mas é menos tu cá-tu lá. Este post costumeiro da noite, o último que despede o dia, e que não tem acontecido tanto ultimamente, acontece sempre com pouca luz, com o silêncio a bordar a escuridão com palavras por dizer. As palavras mais trancadas navegam-nos melhor na escuridão, soltam-nos a alma e encurtam a rédea da razão.  Estava aqui sentada no sofá, com o silêncio ao colo e a pensar que certas palavras, certas memórias, certos incertos desejos, combinam melhor com a distância a acabar no telefone pequeno que a mão segura perto... dizem o silêncio mais dentro, calando-o. 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017


Porque é o que me apetece cantar e espantar e rir... 

...ontem foi o dia de virar a página de uma década e entrar noutra... e uma vez entrada nos "entas" não mais se sai... e sabem que mais... Mahna Mahna!!

E o dia foi bom,  a começar logo noite dentro, madurada fora. Temos de aproveitar todas as oportunidades para estar com quem gostamos e juntá-los todos à nossa volta o mais que pudermos. Alguns já não podemos trazer, ainda que não nos deixem o por dentro da vida que se sente, por isso, é juntar os que podemos, mimá-los o mais que pudermos, e deixarmo-nos mimar também... Então, com uma certa magia, a vida faz sentido.... Mahna Mahna!!

"-The question is what is Mahna Mahna?
-...the question is... Who cares???"

Tenham um bom dia!!

sábado, 16 de dezembro de 2017

[foto @lunaa80]

"Bom dia, amor"
Lembrava-se bem da manhã que acordou para aquela mensagem, e de como, logo,  o dia deixou de existir, como o mundo desapareceu, sugado por aquelas parcas letras. Há momentos de felicidade de uma tal violência, por coisas de quase nada, que têm o dom de dizimar tudo ao seu redor, de suspender o tempo, de apagar o resto, e na altura tudo é resto, só se respira o essencial, o que se sente de dentro abarcar tudo por fora. Ela sabia que naquele quarto de hotel, sozinha, ninguém a via, mas estava certa que se a tivessem visto, naquele preciso momento, os outros a achariam outra, tal a luz que parecia inconter, o sorriso de plenitude que lhe tomava as feições, a pele, o olhar.  Daqueles raros momentos em que a pele é alma, o de fora é o de dentro, em que não nos conseguimos esconder, somos inteiros por distracção, por surpresa, por sermos tomados, açambarcados pelo momento. Aquele, que depois parece não ter existido, quando as rodas do mundo, de repente, voltam a acordar e a girar o quotidiano. O que fica a memória guarda, e brinca connosco.
Ela mandou a mesma mensagem. Percebeu que há mundos que não param à nossa passagem, às nossas palavras, a nós. Que as coisas se sentem de modo tão diferente, ou não se sentem sequer, talvez. Que há almas que não carregam a plenitude inexistente de sorrisos que ficam por acontecer. A resposta vem de longe, duma distância que, como uma vez lhe havia dito, não se mede em quilómetros mas em saudades. Quando há saudades a distância é sempre demais, quando não há, a proximidade esqueceu-se de ser perto.
Há momentos em que percebemos o inacreditável e extraordinário - e ridículo, tão tremendamente ridículo - que é, para algumas pessoas, um momento de quase nada ser um tudo que se prolonga para quase sempre. Sim, um dia será quase sempre, a substituir o sempre do enquanto.
[imagem @jean_jullien]

A maçã despe-se, 
serpenteadamente, 
numa tentação
 vestida de olhares 
que nos engolem de feitiço.

[e como dizia Wilde, a melhor maneira de nos livrarmos duma tentação é ceder-lhe - que é, para mim, sinto-me tentada a dizer, das melhores frases sobre o tema...]

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017



[foto @harisnukem]

Amar-te dá-me asas cinzeladas de infinito. 
Encaixotas-me o céu num ínfimo finito respirável, 
que abres só quando se esgotam das tuas mãos todos os tons de azul.
Um dia faço da minha boca noite cerrada,
fecho o infinito por dentro.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017


... hummm
... desceu para os pés? 
Ou subiu para as mãos?
 Não sei bem... é uma fase. 
Chama-se Inverno.
(...do nosso descontentamento??...)

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Acabei há tempos (mais) um livro do Rentes de Carvalho, que gosto, este, o seu primeiro romance: "Montedor". A essência do comportamento daquela personagem traz-me à pele cheiros de um passado que se me entranhou. Alguém que deixa a vida ao deus-dará (empurrando com a barriga, como ele dizia), que diz que não-que não-que não!!, mas depois faz sim-sim-sim!.. e desculpa-se com os contextos, intervalados com a lucidez do que não podem desculpar. Infeliz a vida toda, acomodado naquela felicidade pastosa de se obrigar a fazer o que os outros tanto insistem, e aí, assim, se desculpar do que foi feito - porque foi obrigado, foi obrigação. Na verdade sempre achei que houvesse gente assim por não haver uma razão forte, irrecusável e inadiável para agarrar a felicidade que se diz sonhar, e a lutar sem dúvidas por ela. Mas como bem se diz, em página que dobrei no canto:

"o meu desejo era encontrar alguém, mudar de ideias, porque todo este dinheiro me pesa. Sem coragem de decidir. É bonito ficar a gente a moer ilusões, outra coisa é arriscar, dar o passo em frente. Nada mais fácil do que entrar numa loja, comprar o preciso e seguir para Lisboa. Não era lá que me parecera melhor?" 

Extraordinário. Tinha decidido, fez até o que não devia em nome do que dizia querer, e depois quase implora por alguém, que por alguma razão, lhe mude as ideias, lhe impeça o plano. Auto-sabota-se a cada vez. Não quer nada com ganas, empastela-se e desiste-se, sem nunca desistir de continuar a fabular sonhos. Não toma para si a opção de optar, como se soubesse que nunca seriam as suas mãos a mudar nada, mas a própria vida a tecer a sua teia, essa rede onde ele se quer deixar prender e desculpar - como for, ao que for, desde que não haja rupturas, mudanças bruscas, opções assumidas e consequências por que temos de nos responsabilizar. Como as eternas crianças a quem se escolhe a roupa do dia e o caminho a tomar.

"Não caso, não caso" 

... e casou, e foi, e fez, e fez toda a gente infeliz à sua volta. Nunca fez nada por si, sucumbindo (por não se lhes opor com algo mais que palavras e pensamentos que se diluem constantemente) sempre à vontade dos outros, que depois, na verdade, não lhes concede mostrando-se sempre contrariado. 
O que podia ter mudado tudo - aquele momento em que podia finalmente descansar, por tentar encontrar no que não quis o que afinal sempre procurou -, a pergunta à mulher que tinha engravidado, mas com quem não queria casar:

 "tu gostas de mim?" 

Pergunta tão simples e tão imensa. A resposta, que lhe carimba o destino, é resultado de tudo o que fez até ali e dali colhe: 

"não é por gostar, não! Mas ao menos não precisas de me enganar, ir por aí com alguma!"

Não sei se a resposta fosse a oposta, mas não sentida como verdadeira, não seria o mesmo, ele sente-se sozinho, incompreendido, sente-se um ninguém - e principalmente, a esta altura, não amado. Com isto a última réstia desfaz-se, o coração parece secar, aloja-se a sensação de ser um joguete, aceita não dispor de si mesmo como a uma culpa  sem razão.

"mas faltava-me o norte, um interesse, carregado de uma culpa que me não explicava, um remorso, o sentimento de ser joguete, brinquedo, Zé-ninguém." 

Ele será sempre infeliz, cumprindo o destino, afinal, de se tornar igual ao pai. Paira, aliás, no ar a ideia - e penso que o livro é feito propositadamente no sentido de dar essa sensação - de que ele nasceu sob as mesmas circunstâncias que a sua filha. E o seu casamento será igual ao dos seus pais. Os ciclos vencem a vida, e a nossa vida é um único ciclo. 
Sempre achei que se estas pessoas encontrassem "um norte, um interesse", um amor (acrescento aqui), fariam pela vida e quebrariam o ciclo de vidas mal vividas, de fantoches que se obrigam a ser fantoches para não fazerem uma ruptura da fantochada. E depois disso, desse renascer, debaixo desse carnaval despido, serem de facto alguém e saberem-no - saberem-no é a única e fundamental diferença que muda todo o olhar sobre o mundo, sobre quem somos e podemos ser. Na verdade, ainda acredito nisso, mas no livro ele não encontra. Ou quero acreditar que foi isso. A alternativa é que talvez estas pessoas nunca amem, amar é uma coisa que se sente e tem de se assumir. Estes espécimes nunca assumem nada, por isso talvez sejam incapazes de amar.

Amar é uma escolha que assumimos. Ou não.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017



Não sou uma mulher, 
sou muitas mulheres. 
Diferentes, 
iguais em mim. 
Sou cada uma delas 
e não me esgoto em nenhuma, 
faço-me inteira, apenas, em sê-las, 
cada uma no seu tempo de ser. 
Todas são tuas, 
não porque tas deixe tê-las tendo-me, 
mas porque te querem pertencer 
sem eu deixar.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

[foto @pancrazi]

Quantas vezes são as sombras que contam a história, são a história. 
A luz só parece servir para as sombras sobressaírem, serem.  A luz relegada a cenário onde as sombras são a cena que abafa o palco e o tempo, que os reduz a mero contexto, a quotidiano liso. É a sombra que nos come o olhar e serve a imaginação, o sonho, o que somos pelo que queremos ser. Somos sempre sombras do que quereríamos ser, e é nessas sombras que escondemos quem mais somos, e não chegamos a ser.
É nas sombras que até o sol se esconde, com os seus segredos.
É nas sombras que o calor se esconde, mas onde se passa muito frio.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017


... é isto.
(mas mulheres também, e nunca se teima sozinho, há que não esquecer...)

Boa noite