quarta-feira, 1 de novembro de 2017


[foto @perazna]

Ao acordar da noite das bruxas, coisa para esquecer e correr à vassourada, surge-lhe um anjo à janela, com asas de desejo e todos os pecados de Eva no corpo sublime. As asas que lhe apetecia fazer voar em dedos pela pele, no agarrar a carne, no trincar a vontade, nas mãos cheias de querer, na boca ávida de prazer e cheia de gritos de paixão.
Não se mexe, não dá um passo, não se sabe se por medo ou convicção. Uma certa calma, de passado morno e instalado, ressente-se na alma e pergunta-se apenas, enquanto admira a criatura a que as asas dariam nome de anjo, como o hábito de monge, por que é que certas criaturas nos assombram a existência para mostrar o que não temos e desejamos? E se não fosse um anjo? Se fossem só asas? Se fosse só uma mulher, nem bruxa nem anjo? Uma mulher carregada de pecados que levam ao céu?... Leva à boca um cigarro, o anjo do lado de lá da janela, imóvel, acende-lho, com um único sorriso, malandro e certeiro no olhar dele, a condizer com toda a sua expressão de desafio e tentação, antes de se desfazer do próprio cigarro e bater asas para outra janela, onde os olhos, do lado de lá do vidro, fossem de homem sem medo de bruxas, homem que soubesse aceitar o céu quando lhe oferecem um pedaço num sorriso com pele. E o agarra "comme il faut"

2 comentários:

  1. Gostei muito deste teu Post, desde a foto e principalmente do que escreveste, lembrei-me do filme "As Asas do Desejo"...

    Olá Vi, boa tarde:))

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  2. Obrigada, Legionário, encontrei a foto há uns dias e gostei do anjo pouco angelical e da altura que se avizinhava...
    Filmes é com a Anouk a cinéfila ;)) mas desse filme gostei muito.
    Boa tarde :))

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